Guia da Semana

Quem nunca quis saber um pouco mais sobre a vida pessoal de um humorista? No mínimo quando e como ele decidiu seguir a profissão, não é mesmo?

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Para celebrar o Dia do Comediante, o Guia da Semana conversou com alguns nomes bacanas do cenário do humor brasileiro, como Rafinha Bastos, Maurício Meirelles, Gus Fernandes, Marcela Leal, Danilo Gentili, entre outros.

Então, se você vai continuar a leitura, prepare a pipoca e muitos lenços de papel, pois o riso é garantido.

Rafinha Bastos

Rafinha Bastos

Como e quando você descobriu que queria ser comediante?
Olha, isso a gente não descobre. Um dia a gente acorda e se dá conta "opa, eu não quero trabalhar nunca", e aí vira ator ou comediante.

Quais são as dificuldades e satisfações de ser comediante?
É sempre bom colocar o sorriso no rosto de uma pessoa. Essa é a melhor recompensa. A dificuldade aparece quando isso não acontece, o que muitas vezes não é culpa minha.

Existe limite para o humor? Se sim, qual é esse limite?
Existe. A China. Eu não falo chinês. Este é o meu limite.

Como você vê o futuro do comediante no Brasil?
Com uma bola de cristal.

Onde você vai em São Paulo quando quer dar boas risadas?
Vou ao planetário.

Gus Fernandes

Gus Fernandes

Como e quando você descobriu que queria ser comediante?
Na verdade acho que nunca quis ser um comediante. Não foi algo planejado, isso acabou acontecendo de uma forma muito inesperada. Eu sou formado em psicologia e no terceiro ano da faculdade estudei uma matéria chamada psicodrama que, basicamente, mescla teorias psicológicas com técnicas teatrais. Me interessei pela matéria e fui estudar teatro para poder me aprimorar mais no psicodrama, mas acabei gostando mais do teatro do que da psicologia. Foi assim que comecei os meus primeiros passos no palco. A comédia surgiu um tempo depois, eu tinha amigos fazendo stand-up há um tempo e comecei a fazer pequenas participações nos shows dos amigos - e até hoje estou fazendo.

Quais são as dificuldades e satisfações de ser comediante?
Eu acho que as satisfações acabam sendo muito maiores do que as dificuldades. Hoje tenho o tempo ao meu favor. Quase todo dia posso acordar a hora que eu quiser, e confesso que é constrangedor colocar o despertador para tocar ao meio dia em plena segunda-feira. Posso usar a piscina do meu prédio nos horários em que a maioria das pessoas está trabalhando, sem falar nas incansáveis partidas de Playststion durante as madrugadas. Isso tudo faz com que a gente nem perceba que nossa conta bancária está no vermelho.

Existe limite para o humor? Se sim, qual é esse limite?
Eu acho que estão tentando impor um limite para o humor, mas na minha opinião esse limite não existe. O que acho que deve existir é um bom senso (timing) para que a piada saia na hora certa, no momento certo em que a plateia esteja preparada para escutar determinado assunto. Sem esse timing, corre-se o risco da piada ser gratuita e sem propósito.

Como você vê o futuro do comediante no Brasil?
Eu acho que os comediantes brasileiros ainda tem muita lenha pra queimar. Se olharmos para trás veremos que as coisas estão cada dia melhor. Antes, nos apresentávamos em bares sem estrutura, com cachês baixos e muitas vezes trocávamos o cachê por uma consumação no bar. Hoje, porém, temos estrutura e condições de trabalho graças ao reconhecimento do trabalho que vem sendo feito. Talvez o que ocorra seja uma seleção natural de quem fica e quem sai, afinal de contas existem muitos humoristas surgindo a cada dia.

Onde você vai em São Paulo quando quer dar boas risadas?
São Paulo tem ótimas opções para você dar boas risadas. Sempre recomendo o bar Beverly Hills e o Comedians, mas quando eu quero rir mesmo eu chamo um monte de amigos da comédia e faço um churrasco aqui em casa, que são melhores que qualquer show de humor.

Danilo Gentili

Danilo Gentili

Como e quando você descobriu que queria ser comediante?
Eu nunca quis ser comediante. Eu sempre quis ser um pirata. Yo-ho, sempre quis uma vida de pirata pra mim!

Quais são as dificuldades e satisfações de ser comediante?
A satisfação é ouvir um riso depois de fazer uma piada que acabou de criar. Essa é a maior satisfação do mundo. O comediante verdadeiro vive pra isso, só pra isso. Já a dificuldade é quando a pessoa ri e logo em seguida quer acabar com você. "hahahaha, hey! Vou te matar agora". Isso é desleal. Eu fiz isso pras pessoas rirem. Elas riram! E agora querem acabar comigo? Onde foi que eu errei? Mas é a vida do pirata, Yo-Ho! A verdade é que depois que as pessoas perceberam que ficar ofendido gera mídia, poder e dinheiro, elas passaram a ficar ofendidas com mais frequência.

Existe limite para o humor? Se sim, qual é esse limite?
Desde o meu início me fazem essa mesma pergunta. Por que não começam a me perguntar se o mau-humor, ou a falta de humor, devem ter limites? O que deve ter limites é algo negativo, e a falta de humor é negativo. Não o humor em si. O humor existe para divertir, causar riso, aliviar a tensão. Ou você acha que riso é algo ruim e precisa ser limitado?

Como você vê o futuro do comediante no Brasil?
Se o Brasil continuar sendo o penúltimo colocado no ranking de educação, vejo vida longa e próspera ao Zorra Total & cia.

Onde você vai em São Paulo quando quer dar boas risadas?
No Comedians, situado na rua Agusta, nº 1129. Os melhores marujos estão lá. São todos piratas fora da lei. E o rum da casa é o melhor!

Maurício Meirelles

Maurício Meirelles

Como e quando você descobriu que queria ser comediante?
Era redator publicitário de agência, ou seja, era um zé graça frustrado. Resolvi arriscar em 2006 alguns textos de stand-up. Um pessoal gostou e aí virei colunista semanal de humor em um portal. Quando eu descobri que era possível levar as minhas ideias para o palco resolvi largar minha profissão e fazer isso pra vida toda. Só depois descobri que dava pra ganhar dinheiro com isso. Minha mãe até hoje acha que trabalho em agência. Por favor, não conta.

Quais são as dificuldades e satisfações de ser comediante?
Você precisa de dedicação para preparar um show, você precisa se reinventar, buscar inovação e abdicar da sua rotina. Seus horários são diferentes, viaja-se o tempo todo. Dependendo do ponto de vista, isso tudo pode ser encarado como satisfação ou dificuldade. Mas se você faz aquilo que ama, a satisfação supera as dificuldades.

Existe limite para o humor? Se sim, qual é esse limite?
Acho que em todo tema é possível fazer piada. Mas é preciso se atentar aos riscos. Sempre faço uma conta: se eu falar sobre um tema nota 3, qualquer piada nota 5 passa tranquilamente. Como piadas sobre guardanapos, por exemplo. Agora se eu quiser falar sobre racismo, que é um tema nota 9, a piada pra ser muito boa tem um grau de dificuldade muito elevado. Ela tem que ser precisa, inteligente, não besta. No mínimo nota 10. Além disso, acho que o humor não tem limite, mas o humorista pode ter o seu. Eu, por exemplo, não gosto de fazer piadas sobre tragédias.

Como você vê o futuro do comediante no Brasil?
Estamos vivendo um boom legal atualmente, mas temos que tomar cuidado para não ficar massante. Acho que a nossa geração atual é uma das melhores de todos os tempos em vários segmentos, mas só ficará no futuro aquele que se reinventar e sair da mesmice o tempo todo. Até porque, foi isso que o trouxe até o atual cenário.

Onde você vai em São Paulo quando quer dar boas risadas?
Na câmara dos vereadores.

Marcela Leal

Como e quando você descobriu que queria ser comediante?
Fui assistir ao espetáculo Terça Insana e achei demais. Comecei a criar personagens e apresentar para a Grace Gianoukas, que de vez em quando me deixava subir no palco. Era muito legal!

Quais são as dificuldades e satisfações de ser comediante?
Enfrentei a dificuldade da insegurança no começo porque não sabia como um stand-up se comporta no palco. Por ser atriz, eu queria interpretar uma comediante, mas depois eu vi que é preciso ser você mesmo, senão não rola.

Existe limite para o humor? Se sim, qual é esse limite?
Minha opinião sobre os limites do humor é que humor tem que ser humor, se não for humor não é humor.

Como você vê o futuro do comediante no Brasil?
Alguns desdobramentos do stand-up ainda estão pra acontecer aqui ,como a Sitcom, por exemplo. Mas ainda estamos na fase de formar roteiristas de humor, que por enquanto é uma raridade. Sem esses super roteiristas não rola.

Onde você vai em São Paulo quando quer dar boas risadas?
Na Assembleia Legislativa.

Fábio Rabin

Fábio Rabin

Como e quando você descobriu que queria ser comediante?
Descobri quando quiseram que eu fosse comediante, nunca sonhei em ser um. Eu fazia teatro e todos diziam que eu tinha facilidade para cenas cômicas. Confesso que eu sabia, mas nunca soube o porquê. Tentei ser ator, fazia testes para comerciais, filmes, mas passei num teste pra fazer um show de humor num boteco. Não era exatamente o que eu queria, mas a falta de pressão me tornou mais livre para criar. E levei isto a sério. Meus textos foram sendo criados e fui crescendo no meio da comédia. Quando vi que a minha satisfação em fazer os outros rirem era o que me traria felicidade, descobri que queria seguir sendo comediante.

Quais são as dificuldades e satisfações de ser comediante?
Só vejo satisfações. O comediante é mais próximo do público que um ator de novela. O comediante expõe seus defeitos e não as virtudes. Por isso as pessoas se identificam mais e nos tratam mais como um amigo íntimo do que como um galã hollywoodiano. Isso às vezes é um problema, quando os manos me abraçam no banheiro sem lavar as mãos, ou quando senhoras me abraçam e roçam seus mamilos em mim. Mas esse contato não me incomoda. Eu vivo disso e agradeço a eles todos os dias.

Existe limite para o humor? Se sim, qual é esse limite?
Eu criei uma fórmula para mim: a graça deve ser maior do que a ofensa. Para mim não há limite. E dou risada de todas as piadas tecnicamente, como um engenheiro que se encanta com uma engrenagem. Não dá para impor limites no humor, mas também não dá para sair ofendendo ninguém gratuitamente por aí. Você acaba apanhando!

Como você vê o futuro do comediante no Brasil?
Eu rezo todos os dias... quer dizer, eu creio que estamos caminhando bem! Vários humoristas vêm se destacando, preenchendo e enriquecendo programas de TV e filmes. Espero que isso continue acontecendo, falo isso como comediante e como espectador de uma programação melhor e menos séria. Antes tinha apenas um ou dois programas de humor, o resto era novela, jornalismo e sensacionalismo com tragédia. Sou um amante da vida e acho que ela deve ser mais alegre em todos os aspectos. Inclusive na televisão.

Onde você vai em São Paulo quando quer dar boas risadas?
Em São Paulo dou mais risada em casa, já que quando saio pego trânsito. Quando saio, vou para onde me sinto melhor. Adoro o litoral paulista: Guarujá, Maresias, Juquehy. Na praia meu humor fica muito melhor. Quando estou em São Paulo vejo meus amigos comediantes toda sexta no meu show Comédia ao Vivo, no Hotel Renaissance. Geralmente são boas risadas, não só para a plateia, mas no nosso camarim também. Ele costuma ser bem agitado! Sim, fiz meu merchan... afinal, judeu não dá entrevista de graça!

Rafael Cortez

Rafael Cortez

Como e quando você descobriu que queria ser comediante?
Quando eu já contratado do CQC – eu não entrei no programa como humorista, mas sim como um repórter bem humorado. Mas conforme fui convivendo com os meninos, Danilo, Oscar e Rafinha, fui percebendo que a vida que eles tinham como humoristas era cheia de desafios, de respostas incríveis de público e, acima de tudo, uma vida muito feliz e com prazeres. Decidi ser comediante principalmente pela felicidade.

Quais são as dificuldades e satisfações de ser comediante?
Para se ter satisfações você passa por dificuldades. Por exemplo, é muito satisfatório você contar uma piada que faz todo mundo rir e gera o aplauso, mas é muito difícil chegar nesse nível de piada sem escorregar várias vezes nas primeiras versões da piada - quando você ainda não sabe o ritmo, não sabe como contar, onde esta o punch. É sensacional ter casas cheias, carinhos da plateia e boas bilheterias, mas não se faz isso sem ralar muito antes em bares, pequenas casas e muitas horas de testes nada glamorosos. Mas, acima de tudo, a grande alegria de ser humorista é sempre ser recebido pelas pessoas com um sorriso e uma cara boa. Isso é impagável.

Existe limite para o humor? Se sim, qual é esse limite?
Deveria existir um limite para o politicamente correto. As pessoas estão se doendo muito por toda e qualquer coisa. Atualmente, quem determina o limite do humor é o público, mas ele faz isso manipulado por muitos setores de direita, por formadores de opinão, que tem seus próprios interesses na crítica ao humor, e outros fatores externos.

Como você vê o futuro do comediante no Brasil?
O comediante precisa se reiventar sempre. Isso até já vem acontecendo há muito tempo e não vai ser diferente no futuro. Permanecerão na ativa aqueles que souberem dialogar com a sociedade à medida que ela se transformar.

Onde você vai em São Paulo quando quer dar boas risadas?
Vou ao Comedians, onde também me apresento de vez em quando. Melhor ainda, vou na Vila Madalena em um sábado a noite – sóbrio – e fico observando as pessoas nos bares. Estar sóbrio no meio de bêbados é sempre muito divertido.

Rogério Morgado

Rogério Morgado

Como e quando você descobriu que queria ser comediante?
Eu sempre fui o engraçadão da escola. Sempre fazendo piada na hora das aulas, no intervalo. Foi algo natural, pois tudo que fui fazendo na vida envolvia humor. Na faculdade, no estágio e até quando entrei na rádio em 2005. O stand-up veio em 2007, por intermédio do Danilo Gentili, que já era meu amigo.

Quais são as dificuldades e satisfações de ser comediante?
Dificuldade é de escrever textos novos, essa sempre será a maior dificuldade. A satisfação é de passar essa dificuldade e ver que você conseguiu fazer o público rir com algo que foi você quem criou.

Existe limite para o humor? Se sim, qual é esse limite?
O único limite do humor é o riso. Se não tem risada não é humor. Quem tem limite é o comediante. Cada um usa seu bom senso.

Como você vê o futuro do comediante no Brasil?
Vejo como vi há cinco: bares e teatros cheios para assistir algo de qualidade. Na TV eu não sei ao certo, mas nos bares têm de tudo, então podemos falar a piada que quisermos.

Onde você vai em São Paulo quando quer dar boas risadas?
Para a 25 de março. Além de ser engraçado e ter muita gente estranha, ainda temos material para piadas.

Patrick Maia

Patrick Maia

Como e quando você descobriu que queria ser comediante?
Em 2008, depois de assistir alguns shows no Brasil quando as opções de "empregos normais" começaram a dar errado. Eu sempre gostei de fazer as pessoas rirem, e quando descobri que podia pagar o aluguel com isso tive certeza do que queria fazer.

Quais são as dificuldades e satisfações de ser comediante?
Boa parte da dificuldade e da satisfação tem a mesma origem: escrever novas (e boas) piadas e se manter atualizado. Às vezes demoro a dormir porque o show foi muito ruim ou muito bom.

Existe limite para o humor? Se sim, qual é esse limite?
Se pararam de rir, chegou no limite. E não é "o gordo parou de rir porque a piada era de gordo". É quando ninguém ri, aí já não é humor, é qualquer outra coisa.

Como você vê o futuro do comediante no Brasil?
Se Deus quiser, com uma gostosa, numa casa com piscina e um Mustang na garagem. Possivelmente gordo.

Onde você vai em São Paulo quando quer dar boas risadas?
Na casa dos meus pais.

Por Anna Thereza de Almeida

Atualizado em 28 Fev 2013.