Guia da Semana

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Lenise Pinheiro e o seu livro, Fotografia de Palco

Apaixonada pelo teatro, a fotógrafa Lenise Pinheiro tem as suas lentes voltadas para os palcos há mais de 25 anos. Entre os inúmeros cliques realizados no período, a artista teve a oportunidade de acompanhar de perto o ressurgimento das artes cênicas na capital paulista, com o registro de mais de 500 atores e atrizes em ação.

O resultado de tantos anos de trabalho pode agora se conferido em seu primeiro livro, Fotografia de Palco, que traz uma compilação criteriosa de seu grande acervo. Além da obra, Lenise também destrincha a história do teatro na cidade, em uma exposição de mesmo nome, inaugurada como uma homenagem aos 455 anos de São Paulo. Saiba um pouco mais sobre a autora e seu trabalho nas linhas abaixo, extraídas de uma entrevista concedida exclusivamente ao Guia da Semana.

Guia da Semana: Quando você decidiu se tornar fotógrafa?
Lenise Pinheiro: Eu me tornei fotógrafa ao longo da minha vida escolar. Desde criança eu transformava o que podia dos deveres de escola em trabalhos de fotografia. Nunca havia me sentido habilitada a ser atriz, mas tinha o envolvimento muito próximo com um ator, que cursava a Escola de Artes Dramáticas. Através desse contato eu passei a fotografar informalmente. Em 1983, fotografei Laços de Odavlas Petti. Desde essa primeira incursão sempre fui muito incentivada pelo diretor e pelo restante do grupo, que tem remanescentes como o Leopoldo Pacheco e a Deborah Evelyn.

Guia da Semana: Quais são as suas inspirações na fotografia?
Lenise: São diárias. Vêm da necessidade do trabalho ser sempre melhor, grandioso e diferente. As características são inúmeras. Por exemplo, essa exposição que eu estou fazendo no Sesc Paulista, inspirada no meu livro Fotografia de Palco, é uma forma de homenagear os 455 anos da cidade de São Paulo. Eu entrego à cidade essa mostra em sinal de apreço e carinho, porque sou uma paulistana muito apaixonada. Tem inspiração de um fotógrafo da época da Cacilda Becker, chamado Fred Climber. No livro, tem uma imagem que eu costumo classificar como a visão que ele teria se fotografasse com filme colorido: As Três Irmãs, de Henrique Dias.

Lenise Pinheiro
Imagem do espetáculo As Três Irmãs

Guia da Semana: Você nunca teve vontade de passar para o outro lado da lente?
Lenise: Não, nunca tive vontade de ser atriz. Sempre tive isso bem resolvido. Fiz algumas incursões com Asdrubal trouxe o trombone, de uma maneira informal, nos anos 80, mas não levei adiante, não por falta de talento, mas talvez por falta de tempo e inspiração. Acho que se eu me dedicasse, conseguiria algum resultado, mas a fotografia me toma tempo integral. Vivo muito em torno do trabalho que eu faço no teatro, desde foto, até iluminação de palco. Às vezes aparecem convites, muitos deles para interpretar freiras. Já fiz comerciais e longas. Brinco que eu sei fazer freira, se pintarem convites assim, eu posso estudar (risos).

Guia da Semana: O que você acha que mudou nesses seus 25 anos de carreira?
Lenise: A gente vai ganhando um pouco mais de experiência. Mas o imprevisto está sempre presente. Assim como eu tenho um pouco mais de segurança, eu também tenho a insegurança do fazer ao vivo. Então as mudanças são nítidas na cor do cabelo, na pele... Mas eu acho que o empenho e o entusiasmo continuam muito vivos.

Lenise Pinheiro
Fernando Torres e Fernanda Montenegro

Guia da Semana: Qual é o segredo para captar a alma de um espetáculo, para diferenciar a comédia do drama, por exemplo?
Lenise: Uma mistura de atenção, prazer e rigor técnico. Eu uso um equipamento digital muito sofisticado, então aliando a tecnologia à emoção, acredito que com um pouquinho concentração a coisa fica bem explícita.

Guia da Semana: Qual foi a peça mais marcante que você já fotografou?
Lenise: Hamlet, do Zé Celso, Cacilda, O Processo, do Gerald Thomaz e As Três Irmãs, do Henrique Dias.

Guia da Semana: E a mais difícil?
Lenise: A questão mais complicada, vamos dizer assim, é fazer o trabalho quando a peça já está em cartaz. Fico mal posicionada na platéia. Uma questão que é recorrente é aquela locução que avisa que é proibido fotografar. Mas assim que o público sente que eu estou ali de uma maneira profissional, que não estou incomodando e que o ator me recebeu, ele também passa me proteger e a torcer para que o trabalho se realize. Uma comunhão de energias a favor é sempre bom. No teatro do Sesi eu tive um problema com o segurança, mesmo sendo autorizada, eles foram bastante truculentos. Eu respeitei a posição do segurança, saí e interrompi o meu trabalho. Sei que sempre vai ter uma próxima possibilidade, não vou bater boca. Mas em geral, sou sempre muito bem recebida. É uma felicidade esse trabalho que eu faço.

Guia da Semana: Como surgiu a idéia de fazer o livro e a exposição?
Lenise: O livro foi gerado durante onze anos. A ideia surgiu em uma parceria entre a minha produtora, Iris Cavalcanti, o Sesc e a Editora Senac. Eu credito a eles a força que foi para reunir todo esse elenco no livro, que tem mais de 500 atores, em mais de 500 fotos. A exposição foi um resultado do processo editorial para levar à população e a oportunidade de ver o livro dissecado nas paredes do Sesc Paulista.

Guia da Semana: O que é necessário para ser uma boa fotógrafa?
Lenise: Contraste e brilho.

Guia da Semana: Você acompanhou o ressurgimento no teatro em São Paulo. Como você enxerga esse momento e a cena cultural contemporânea?
Lenise: São Paulo é uma usina de teatro e eu acredito que o Sesc vem melhorando a qualidade do teatro experimental. Ele oferece ao público o acabamento do teatro patrocinado e ainda repassa os valores com bastante generosidade. Eu acredito que o Sesc tem implantado um outro ritmo ao teatro nacional, assim como os meninos da Praça Roosevelt, os Satyros e os Parlapatões, que também sugeriram um outro astral para a praça. Antigamente os roteiros traziam 20 peças por semana e hoje são cerca de 200 espetáculos.

Atualizado em 6 Set 2011.