Guia da Semana

Foto: Samuel Esteves


Era uma vez cinco crianças que tinham idéias criativas e as usavam para atormentar seus coleguinhas. As brincadeiras faziam tanto sucesso que eles começaram a produzir roteiros e gravar as peripécias que aprontavam por aí. De moleques peraltas a jovens visionários, levaram suas criações - às vezes esdrúxulas - adiante e hoje fazem parte do humorístico mais consolidado da MTV, o Hermes e Renato.

Para Marco Antônio, Fausto Fanti, Adriano Silva, Bruno Sutter e Felipe Torres, o grande trunfo do programa, que está no ar há 10 anos, é a amizade que vem desde criança. Das bobeiras do passado sobraram brincadeiras que viraram esquetes do show.

Vindos de Petrópolis, interior do Rio de Janeiro, começaram de forma tímida, com poucos recursos, mas o tempo - e o sucesso - permitiu que ganhassem uma melhor estrutura, o que permitiu experimentar novos quadros, além de adquirir conhecimentos sobre outras áreas. "Nós aprendemos a ter um cuidado maior com a parte estética, tanto de cenário quanto de figurino", conta Marco Antônio, 31 anos, interprete do famoso Hermes.

Em uma conversa descontraída com o Guia da Semana, os integrantes Marco Antônio e Bruno Sutter falam sobre suas influências, mudanças nos últimos 10 anos, revelam que o famoso Joselito existiu de verdade, e claro, relembram momentos de Hermes e Renato.

Politicamente incorretos

"Quando começamos éramos vistos como os humoristas trash", fala Bruno, que entre outros personagens interpretou o Padre Quemedo. Tidos como integrantes de um programa de humor sem pudores, os caras do Hermes e Renato não se veem dessa forma. Apesar de no início ter sido marcado por muitos palavrões e serem vistos como vagabundos, Bruno encara de outra forma. "A gente construiu uma base sólida dentro do que eu poderia falar que nosso humor é ácido, e não trash. Hoje nos baseamos menos no palavrão e mais no politicamente incorreto", fala. Eles contam que sempre tiveram muitas influências de outros programas de humor como Os Trapalhões, TV Pirata e Chico Anísio.

De lá pra cá

Dez anos no ar não é pouco e a galera do programa sabe disso. Tanto que eles sempre se preocupam em criar novos personagens e quadros. Durante esse tempo, muitas coisas mudaram, personagens foram, outros vieram. Os meninos que filmavam como brincadeira, sem hora nem data para entregar, passaram a ter responsabilidades e tudo mudou. "Nós evoluímos bastante durante esse tempo. Nossa linguagem dentro do humor virou uma coisa bem mais despretensiosa", fala Marco Antônio que ainda destaca o cuidado maior que passaram a ter com a elaboração dos roteiros, que, segundo ele, são mais redondos. "Nós aprendemos a trabalhar dessa forma, ficamos mais conscientes, mais profissionais", diz. A questão do humor também passou por mudanças, mas nada muito drástico. "Durante esses dez anos não digo que nosso humor evoluiu, mas sim, se transformou", fala Bruno.

Bate e assopra

Como em todo grande grupo, brigas e desentendimentos acontecem, mas nada que os faça perder a cabeça e partir para a ignorância; tudo se resolve com uma boa conversa. "Se temos divergências, discutimos na hora. Depois vamos lá e damos um abraço em cada um", conta Bruno, que confessa ser o mais esquentadinho. "Se tiver um nível de 'esquentadisse', um aparelho que fosse medir quem é o mais esquentado, eu estou bem no nível", fala ele rindo. Como são muito amigos, quase irmãos, tem horas que o trabalho e a amizade acabam se confundindo, o que pode causar conflitos. "Tem briga, mas a gente se resolve", garante Bruno. E na hora que o bicho pega, quem coloca panos quentes? "O Marco Antônio é bem tranquilo", fala Bruno, que logo é interrompido pelo colega, que quer saber porque o outro está falando seu nome. "Ela está me perguntando quem é o mais calmo, seu babaca!", grita.

Foto: Divulgação


Só para garotos

Com um grupo formado só por meninos, parece que as mulheres não têm vez no meio dessa rapaziada. "Não é nem que não queremos mulher, foi uma coisa natural, nós começamos uma coisa que veio da nossa amizade, coisa de moleque", fala Marco acrescentando que nunca houve necessidade, além de não gostarem de explorar a sexualidade. "Não queremos usar a sexualidade como uma isca. Humor não tem nada a ver com isso", ressalta.

Quase uma seita

Inseparáveis desde pequenos, quem não os conhece pode ter uma idéia de que são caras marrentos, até esnobes. Mas na realidade eles são muito unidos e tímidos. "Não costumamos nos enturmar com outros grupos, sempre andamos juntos. É meio que uma seita! Mas na verdade somos tímidos, do interior, somos meio bicho do mato", conta Bruno, que não deixa de falar que a cidade de onde vieram, Petrópolis, é bem legal, e que também adoram São Paulo.

Carinho especial

Quando se fala em Hermes e Renato, logo vem a cabeça dois caras cafajestes que vivem tentando se dar bem, mas sempre com planos que acabam mal. Para os humoristas, o nome quer dizer portas abertas. "Foram eles que abriram as portas para a gente na MTV", fala Marco num tom que até dá para pensar em traduzir como carinho. Inspirados nas sátiras de pornochanchada e numa linha meio Jece Valadão, surgiram esses dois personagens que conquistaram o público e seus interpretes. "Não fazemos mais o quadro deles, pois já fizemos o que tinha que fazer, mas são personagens muito queridos".

Foto: Felipe Aguilar


Ele existe de verdade

Personagem mais famoso do programa, Joselito se caracteriza por suas brincadeiras fora de hora e situações inconvenientes que cria. Imaginação de mais para desenvolver uma figura assim? Imagina! O cara existiu de verdade e até foi do convívio dos humoristas. "Ele era cunhado do Fausto e não tinha noção das brincadeiras mesmo. O pessoal acabou sacando e ele virou gíria antes de virar personagem", conta Marco Antônio.

Atualizado em 6 Set 2011.