Guia da Semana

Foto: TV Globo/ João Miguel Filho

Lúcio Mauro Filho vivendo um de seus peronagens mais marcantes, o Tuco de A Grande Família

Guia da Semana: A peça é inspirada no fato do seu pai ter sido internado?
Lúcio Mauro Filho:
A internação dele serviu como pano de fundo para a peça. Ela se passa toda em um quarto de hospital onde um filho tenta fazer com que o pai sinta vontade de viver através do trabalho dele. E o remédio que eu arranjo para salvar a vida dele é o trabalho. Nesse meio tempo, a gente têm a idéia de montar uma peça. Nisso o pai começa a se empolgar, fica com o olho brilhando. E isso aconteceu mesmo na vida real. Eu fiquei o tempo todo do lado dele no quarto. Falávamos muita coisa, dávamos muita risada e quando eu escrevi percebi que involuntariamente foi assim também na vida real. No meio do processo, quando tudo já estava quase pronto, resolvi chamar os meus irmãos. Como se passa em um hospital, coloquei meu irmão que é mais sério como médico e minha irmã como enfermeira. Esse encontro ficou maravilhoso.

Guia da Semana: Desde quando você tem vontade de contracenar com ele?
Lúcio:
A gente sempre teve essa vontade, mas com as agendas muito malucas, nunca conseguimos nos dedicar a nenhum projeto juntos. Eu sou o típico trabalhador brasileiro. Gosto muito mesmo de estar em equipe, fazer parte de grupos. Eu sou assim. Por conta disso eu estou sempre envolvido com alguma coisa e isso fez com que a gente sempre empurrasse as coisas com a barriga. E no final das contas eu percebi que eu estava perdendo tempo. Com a internação dele minha ficha caiu. Pensei que naquele momento não existia mais nenhum outro trabalho ou projeto de ninguém e me dediquei somente a esse trabalho.

Guia da Semana: Existe algum papel marcante que seu pai já fez durante a carreira que você gostaria de fazer?
Lúcio:
Existem vários. Um que ele fez no filme do Cláudio Torres, O Redentor, me marcou muito. É um senhor que está preso depois de ter feito muita coisa errada na vida. Mesmo assim meu pai colocou uma expressão e um olhar nele que é impossível não se emocionar. Lembro-me que na época eu já fazia a Grande Família e o Pedro Cardoso ficou muito admirado com ele e assim criamos um grande vínculo de amizade. Marcou bastante esse papel.

Guia da Semana: Quais são suas maiores influências na carreira?
Lúcio:
Muitas. Agildo Ribeiro, Pedro Cardoso, Felipe Pinheiro, Marco Nanini, Ney Latorraca, Marília Pêra, Arlete Salles. Tenho influências também de colegas mais novos que eu como Wagner Moura, Lázaro Ramos, Selton Mello. Sou um cara altamente influenciável, no bom sentido. Gosto de estar com pessoas à minha volta.

Guia da Semana: O que você faz quando acorda mal-humorado?
Lúcio:
Estar mal humorado não significa que eu precise destratar a pessoa. Analisando a minha profissão friamente, os fãs são como nossos clientes. É a pessoa que consome o que você produz. Eu não entro nessa de ter que respeitar minha individualidade. Quando alguém chega com falta de educação eu acho legal alertar. Agora chegando com educação, mesmo que eu esteja mal-humorado, eu dou um oi, tiro foto, dou autógrafo, sem problema. É o cara que me dá audiência, me prestigia e eu atendo normal.

Guia da Semana: Você acha que tem algo em comum com o Tuco da Grande Família?
Lúcio:
Ele tem uma coisa que só não aconteceu muito comigo porque eu descobri cedo minha vocação. Acho que o teatro me salvou disso. Conheço muita gente assim. Essa coisa de um adulto que não quer crescer. E isso tem muito no Brasil. As pessoas crescem e continuam tendo atitudes de pessoas mais jovens até para não enfrentar as responsabilidades de ser um adulto. Ainda carrego um pouco disso, até entendo alguns mecanismos dele.

Guia da Semana: E você tem muito disso ainda?
Lúcio:
Eu me policio para não ficar na coisa do conforto, da comodidade. Quando meus filhos nasceram com certeza eu também amadureci mais. Antes disso eu ainda conservava umas criancices assim e dessa vontade de não se tornar um adulto e realmente entendo porque em alguns momentos se tornar adulto é um pouco chato.



Atualizado em 6 Set 2011.