Guia da Semana



Tudo começa em um apartamento bagunçado, com roupas espalhadas por todos os cômodos, uma mesa de pôquer e seis amigos que se reúnem toda sexta para o jogo de costume. Em um dos encontros, eles dão por falta de um deles, até descobrirem que o susjeito saiu de casa no dia anterior e que não deu mais notícias. Até que ele bate à porta desse apartamento e conta a tragédia que aconteceu em sua vida. Havia se separado de sua esposa e saído de casa.

A partir disso, a história da comédia Estranho Casal, protagonizada por Carmo Dalla Vecchia e Edison Fieschi, com direção de Celso Nunes, se passa somente no desorganizado apartamento de Oscar (Carmo), que convida Félix (Edison) para morar com ele até que tudo se acalme. Mas essa relação de amizade transforma-se em uma engraçada guerra por causa da mania de organização de Félix, que incomoda o bagunceiro Oscar, e acaba com os jogos de pôquer de sexta à noite com os outros amigos. Todas as situações são abordadas, claro, com muito humor.

Texto e adaptação

Escrito pelo norte-americano Neil Simon e traduzido por Gilberto Braga, The Odd Couple (Estranho Casal) já foi assistido por mais de dez milhões de pessoas em todo o mundo, além de ter ganhado duas produções cinematográficas: Estranho Casal I e Estranho Casal II. Outro conhecido texto do autor é Sweet Charity, que já foi montado no Brasil, protagonizado por Cláudia Raia.

A ideia inicial de montar o espetáculo foi do diretor de produção da peça Luciano Borges. "Quem descobriu esse texto à princípio, foi o Luciano. Ele conversou comigo a respeito, comentando sobre o personagem que eu interpreto. Quando li a peça, me encantei com o Félix. Então, eu chamei o Carmo (Dalla Vecchia) para produzirmos o espetáculo", conta o ator Edison Fieschi. O elenco é fechado com oito atores: seis homens (além de Carmo e Edison, estão Renato Wiemer, Marcelo Várzea, Marcos Archer e Rogério Freitas) e duas mulheres (Bel Garcia e Susana Ribeiro).



Além das bagunças, risadas e discussões, o espetáculo também mostra como eram os jogos de pôquer, regados a bebidas e cinzas de cigarros. "Isso é algo que, na época em que o texto foi escrito (década de 60), não era politicamente correto, pois hoje é muito difícil escrever uma peça colocando duas pessoas fumando e bebendo em cena, sem algum propósito de criticar esse fato. Na época dessa história, isso acontecia. E essa oposição entre os personagens é a chave para que todo esse conflito aconteça em cena. São homens totalmente diferentes; um politicamente correto e outro despreocupado com os problemas. Eles têm apenas uma coisa em comum: estão separados", explica o ator Carmo Dalla Vecchia.

Opostos

Ao ser questionado a respeito de seu personagem, Carmo Dalla Vecchia disse que ele é o oposto do ator. "Isso é uma curiosidade, porque quando li o texto do espetáculo, sem dúvida alguma me identifiquei com o Félix, um cara mais regrado, cheio de manias, e o Oscar é o avesso disso: um cara largado, preocupado apenas com o jogo de pôquer com os amigos, com o prazer dele com a bebida e sempre com seu cigarro", diz Carmo que, além de atuar, também está na produção do espetáculo.

Mesmo sendo difícil conciliar as gravações da novela Cama de Gato (no ar às 18h, na Rede Globo) com os ensaios e apresentações de Estranho Casal, Carmo conta que "em algumas turnês que fizemos, nós íamos para os hotéis, o pessoal estava na piscina e eu estava fechado dentro de um quarto, decorando o texto, porque no dia seguinte eu tinha que estar no Rio de Janeiro para gravar 14 ou 15 cenas". A peça, antes de chegar aos palcos de São Paulo, passou por Macaé, Angra dos Reis, São José dos Campos e Campinas.

Celso Nunes

Um dos mais consagrados diretores de teatro do Brasil, Celso Nunes dispensa comentários. Dois de seu trabalhos, O Interrogatório e Victor, ou As Crianças no Poder já vencerem prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte. Além disso, dirigiu Fernanda Montenegro e Renata Sorrah em As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, texto do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder.

Foi esse espetáculo que motivou Edison Fieschi a estudar teatro. "Eu faço teatro há mais de 30 anos. Uma das razões que me fizeram atuar foi quando assisti a essa peça, que é um dos grandes trabalhos de Fernanda Montenegro. Cheguei a vê-la umas 30 vezes", revela.



A sugestão de escolher Celso Nunes para a direção de Estranho Casal foi dada inicialmente por Edison. "Quando surgiu a comédia, achei que ela deveria ser dirigida por uma pessoa sofisticada, porque é uma comédia sofisticada, uma comédia de situação. Então, eu achei melhor chamar um diretor sério. Todos estranharam por ser ele. Mas foi perfeito, porque ele deu exatamente a profundidade certa ao texto. Eu fiquei muito feliz, pois foi uma experiência fantástica", explica o ator.

E completa: "Ele aprofundou a discussão das relações amorosas. Ele ligou para as questões principais da peça que são os comportamentos humanos, com o compromisso de formarem um 'clube do bolinha' toda sexta para os jogos de pôquer, sem suas mulheres que surgem por meio dos telefonemas e as cobranças do que cada um tem que levar para casa ou porque precisa ir para casa naquela hora".

Outro ponto que o diretor levou para o espetáculo foi seu estilo e atenção com cada pessoa que é uma peça do trabalho. "Ele consegue ter uma visão diferenciada de cada pessoa que faz parte da peça, tanto no caso dos atores quanto dos responsáveis pelo cenário, figurino. É um carinho por cada um e ele adora o que faz e nada melhor do que você trabalhar com uma pessoa que tem tanto cuidado e tanto carinho por esse ofício", finaliza Carmo.


Fotos: Divulgação

Atualizado em 6 Set 2011.