Guia da Semana

Foto: João Caldas/ Divulgação


Sexo, álcool, drogas e roupas de grife. Este é o universo abordado em Hell, que estreia em 7 de outubro, em São Paulo, com Bárbara Paz, como protagonista, e Ricardo Tozzi. Dirigida por Hector Babenco, cineasta que começou a carreira como diretor de teatro, a montagem é uma adaptação do romance homônimo da escritora francesa Lolita Pille, que foi best-seller em dezenas de países.

No palco, a trama traz a narração do cotidiano de Hell, pseudônimo de uma garota rica, fútil e arrogante. Além de expor a natureza consumista e frívola dos jovens da alta sociedade parisiense, o enredo mostra a trágica história de amor vivida pela protagonista e Andrea, um jovem que vive na mesma condição de riqueza e desespero. A seguir, Bárbara Paz fala sobre seu novo trabalho e como foi a parceria com seu marido.

Guia da Semana: Você comprou há três anos os direitos para realizar o espetáculo Hell no Brasil. O que te motivou a levar essa história ao teatro?
Bárbara Paz: O vazio do consumo frenético de uma menina que tem tudo e não consegue viver a felicidade. O livro, como literatura, não me chamou atenção, mas a personagem sim. No começo achei distante, mas depois vi que o tanto que se gasta em outros países também se gasta aqui com drogas e bebidas. A felicidade acaba não existindo.

Guia da Semana: Sempre que você lê um livro já pensa no potencial cênico da história?
Bárbara: Quando você está lendo um bom livro e percebe que há algum caminho para a dramaturgia, não tem como não pensar nisso. Mas ganhei esse livro de um amigo. Ele me entregou e falou que lá tinha um personagem para eu fazer. Assim que começou a história. Então, já li com o intuito de um espetáculo.

Guia da Semana: E o que te impedia de realizar a peça?
Bárbara: Minha vida foi corrida nesses últimos tempos. Fiquei praticamente um ano na novela Viver a Vida, da Rede Globo. E o processo de adaptação de um livro para o teatro não é fácil. No entanto, o Hector, que já adaptou várias obras literárias para o cinema, teve facilidade para condensar essa história em 1h15. Eu achava que era impossível fazer isso.

Foto: João Caldas/ Divulgação


Guia da Semana: Como Hector Babenco recebeu o livro e a proposta de montar a peça?
Bárbara: Ele também achou que como literatura não era muito atraente, mas como personagem é bem interessante. Em todos os países em que foi publicado, o livro virou best-seller, porque essa menina acabou confessando como era a vida da alta sociedade, como em um diário. Ela começou a contar como era a vida da nobreza parisiense através das experiências fúteis que ela vivia. Isso chocou a sociedade de Paris. Ela acabou sendo proibida de entrar nas boates e nos lugares que frequentava. Apesar de dizer que não é uma obra autobiográfica, não nega que a vida dela é desse jeito. A primeira coisa que o Hector me disse foi: 'nossa, uma menina de 17 anos escreveu esses absurdos?' É esse o espanto que causa. Como uma garota da alta sociedade tem capacidade de escrever um livro desse e falar sobre seu dia a dia de uma forma tão arrogante e prepotente.

Guia da Semana: Você acha que essa personagem vai também causar esse espanto na plateia?
Bárbara: Não dá para saber o que vai acontecer. Sempre digo que é um livro adaptado. O Hector está fazendo uma direção super contemporânea. Para mim, a peça é um relato dessa menina. Então, não sei como a plateia vai encarar isso. Só vamos saber quando estrear.

Guia da Semana: Como foi o processo de construção da personagem? Você se valeu de alguma característica da personagem Renata, de Viver a Vida, que tinha envolvimento com excesso de álcool?
Bárbara: É engraçado porque que as personagens me chamam. Hell já existia antes da Renata. Cheguei a ir para Paris quando a novela terminou para fazer um laboratório, mas não adianta. Está tudo dentro de você. Acho que meu "physique du role" atrai essas personagens mais problemáticas. Mas foi muita coincidência serem duas personagens parecidas. O Sesi selecionou o projeto. Teve todo o trâmite de seleção. Quando a novela acabou, já sabia que estrearia em outubro. Só que é muito diferente, em uma outra instância. Hell é uma menina rica de Paris, diferente da Renata, que era da classe média de outro país. São histórias diferentes, mas que têm uma doença em comum.

Guia da Semana: Como foi ser dirigida pelo Hector? A intimidade atrapalhou ou foi favorável?
Bárbara: É sempre delicado trabalhar com marido. No começo não dá para saber como vai ficar a relação, mas foi muito interessante esse processo. Conheço a obra dele, mas não sabia até então como ele era como diretor. O Hector trabalha muito com a improvisação, com o que o ator traz para a cena. Então, tudo o que nós trouxemos valeu para alguma coisa. Ele não chegou com nada pronto. Eu, ele, o Ricardo e o Murilo, que é o assistente de direção, descobrimos juntos o espetáculo através da improvisação. O jeito que ele trabalha me deixou muito feliz, porque o ator adora que o diretor deixe improvisar.

Foto: João Caldas/ Divulgação


Guia da Semana: A peça ganhou algumas características cinematográficas por causa da experiência do Hector?
Bárbara: Ele dirige o espetáculo como se fosse um plano fechado. Não tem como não influenciar. Hector viveu a vida toda no cinema, não tem como não levar toda essa bagagem para o teatro. Ele sempre vê o palco como uma grande tela e trabalhou quadro a quadro. Isso é bom para os atores. Os quadros são como se fossem takes de cinema. Eu vejo assim.

Guia da Semana: Como é voltar ao teatro depois de ter feito uma novela das oito da Rede Globo, que é considerada a Meca para muitos atores. Você acredita que essa experiência dará mais visibilidade à peça?
Bárbara: Para mim, voltar ao teatro é como voltar para casa. O teatro já faz parte da minha vida. Não vejo essa diferença. Eu amei fazer a novela Viver a Vida. Foi muito significativo para minha carreira. Fiz um personagem forte, com densidade. Espero que tenha muito público na peça. O teatro do Sesi já é maravilhoso, pois é gratuito. Então, sempre tem público. Mas a gente também faz televisão para voltar ao teatro e atrair mais pessoas. Mas é preciso ter um espetáculo bom para ter espectadores. Não adianta só estar na novela do horário nobre.

Guia da Semana: Você e Hector Babenco pretendem trabalhar juntos novamente no teatro?
Bárbara: Agora nós estamos em Hell. Tenho muitos textos que ainda quero fazer. Já estou em processo de montar Nelson Rodrigues, que vai acontecer depois de Hell. Também vamos levar a peça para o Rio de Janeiro e pretendemos viajar para outros lugares. Vou fazer a próxima novela do Walcyr Carrasco, Dinossauros e Robôs.

Guia da Semana: O resultado final ficou parecido com o que você imaginava do livro ou existiram muitas mudanças?
Bárbara: A montagem do Hector está muito fiel ao livro. Quem já leu o livro vai sentir isso quando assistir à peça. Só que dentro da obra existem muitas outras coisas que foram condensadas na história de amor que há no enredo, além da vida de consumo da garota. Acredito que o espetáculo vai chamar muito mais atenção pela história de amor, do que pela vida da Hell.

Saiba mais sobre a trajetória de Bárbara Paz.

Atualizado em 6 Set 2011.