Guia da Semana

A ascensão meteórica de Mallu Magalhães passa por covers de Bob Dylan


Seja em um programa dominical cafona ou na festa de aniversário de um sobrinho, quando uma criança sobe ao palco com um microfone em mãos todo cuidado é pouco. Afinal, o histórico de prodígios que aterrorizaram o cenário musical não pode ser menosprezado.

Do longínquo Jordy, o francês que aos cinco anos de idade já havia vendido seis milhões de discos graças ao hit Dur Dur D´être Bébé, às constrangedoras performances da dupla Sandy & Júnior, passando ainda pelo MC Johnatan, cujos verso "de segunda à sexta, esporro na escola / sábado e domingo eu solto pipa e jogo bola" tomou de assalto o funk carioca, infantes de toda ordem sempre deram as caras na indústria fonográfica.

Celeiro mirim

Há décadas, o apresentador Raul Gil tem se especializado em lançar programas dedicados a garimpar, lapidar e lançar talentos mirins. Sob o olhar curioso de platéia e jurados, crianças de todas as idades se contorcem no palco, dublando sucessos do momento, simulando tocarem instrumentos musicais muitas vezes maiores do que seus próprios corpos ou simplesmente participando de concursos de gosto no mínimo duvidoso, como os indefectíveis Forrózinhos e Pagodeirinhos.

Ao lado do também apresentador Gugu Libertato, Raul Gil desovou na praça pequenas aberrações tais quais a dupla Rafaela & Maury, cujo chamariz é a ex-sósia da atriz Ana Paulo Arósio, Rafaela Rômulo, e o grupo É O Tchan Mirim. Mas poucas atrações fizeram tanto barulho - em todas as derivações de sentido possíveis - como o jovem saxofonista Caio Mesquita.

Mesquita: a cria mais célebre de Raul Gil
Mesquita nutre certo ar blasé em relação ao jazz, gênero intimamente ligado a seu instrumento, e que deu ao mundo monstros sagrados do sax como Charlie Parker e John Coltrane. Seu ídolo declarado é Kenny G, o terror das salas de espera. Não se lembra dele? Experimente ouvir The Moment, trilha sonora oficial de nove em cada dez cerimônias de formatura. Se ainda assim não for o suficiente, encare Dying Young, balada que embala o clássico da Sessão da Tarde Tudo Por Amor.

Para arrebanhar um público desacostumado à música instrumental, o jovem saxofonista seguiu uma fórmula infalível: diluir arranjos intricados em uma sonoridade anestesiante. Ao repaginar clássicos da bossa nova - gravados e regravados por uma plêiade de artistas -, Mesquita encantou o auditório do Programa Raul Gil e vendeu discos a rodo, ainda que tenha se confinado em um gênero morno, conhecido por ambient music, ou ainda música de elevador.

Princesa do hype

Mallu caiu nas graças da crítica
Trilhando outras searas, a cantora Mallu Magalhães, de apenas 15 anos, tem causado um histerismo coletivo na mídia. Mimetizada em princesinha do hype, Mallu chamou a atenção da crítica ao interpretar canções de Bob Dylan, Belle & Sebastian e The Melody Peaches - quando não resolve passear pela trilha-sonora de Juno. Sua voz suave, que remete à escocesa Isobel Campbell, e seus trejeitos delicados arrancam suspiros de marmanjos e elogios de todos os cantos.

Ainda que esteja sob a égide do colunismo musical, Mallu mostra esperteza ao diversificar seu repertório e apostar em composições próprias, algo incomum em sua idade. Se mantiver distância das badalações da imprensa, que insiste em lhe colar o rótulo de anti-folk - uma das denominações mais toscas dos últimos tempos -, Mallu pode alçar vôos mais altos e conquistar os fãs pelas próprias pernas. Vale lembrar que a garota coleciona apenas um punhado de apresentações pela capital paulista, e não tem nem mesmo um álbum lançado no mercado.

Primeiros passos

Crianças, no Programa do Raul Gil ou no palquinho de um buffet infantil, tendem a se comportar com a gravidade de um adulto, passando, não raramente, uma imagem de prepotência. Por sorte, alguns desses talentos resistem ao frisson de primeira hora, revelando dotes musicais complexos e muitas vezes mal aproveitados.

O pequeno Jackson antes de decolar para o estrelato


Em seus primeiros anos de carreira, ao lado dos irmãos, Michael Jackson demonstrava um domínio vocal assombroso, que mais tarde foi trabalhado pelo produtor Quincy Jones. O resultado não poderia ser mais significativo para a história da música: Thriller, o álbum mais vendido de todos os tempos e verdadeira referência para a cultura pop .

Atualizado em 6 Set 2011.