Guia da Semana

Foto:Getty Images

"Dá uma dica de alguma banda nova incrível para eu escutar?" Toda vez que alguém me pergunta isso, fico uns bons minutos pensando, pensando e não consigo pensar em nada. Calma, antes que alguém me acuse de niilista-xiita, vou tentar explicar. Claro que há uma coisa ou outra bacaninha, um artista novo que consiga um "brilhareco" ou dois, mas, no cômputo geral do cenário pop dos dias que correm - e aí entram desde o mainstream até os chamados indies, a meu ver, anda tudo um tédio dos diabos...

Vamos pegar primeiro o pop-rock radiofônico, esse que as grandes gravadoras investem os tubos, cujos artistas lançam um videoclipe a cada 15 dias e cujos CDs chegam a ser lançados no Brasil com pompa e circunstância. Não importa se você ouve Chris Brown, Usher, Sean Kingston ou Timbaland; Linkin Park, Simple Plan ou 30 Seconds To Mars; Fergie, Rihanna ou Avril Lavigne;ou todo mundo featuring todo mundo. A impressão é de uma massa sonora uniformizada, com batidas, riffs, idéias e produção repetidas ad nauseam. Ou como genialmente observou uma amiga, há bem pouco tempo a indústria de celulares buscava criar ringtones do modo mais fiel possível às canções originais, atualmente, a indústria fonográfica é que procura fazer músicas que se pareçam cada vez mais com ringtones.

É até simples entender essa lógica. Basta notar como dez entre dez videoclipes - sobretudo do pessoal do R&B e do rap farofa - em algum (ns) momento (s) mostram com destaque alguém falando ao celular. O cara lança um single que parece um ringtone, faz propaganda do celular no seu videoclipe e voilà: alguns milhões de dólares a mais no banco. Até aí, nada contra. Todo mundo está nesse troço de música para ganhar algum mesmo. O problema é que, quando, por conta disso, a música chega ao fundo do poço - como, em minha opinião, chegou -, o negócio fica preocupante.

Como é preocupante a cena alternativa (ou indie, como queira). Outrora celeiro de artistas inquietos, de um rock urgente e idéias frescas, a coisa toda parece que virou o fio. Sim, se você fuçar bem fuçado vai achar gente interessante. Existe até mesmo um pessoal que acabou fazendo sucesso, como Gnarls Barkley e Amy Winehouse, que são legais. Só que, da turma incensada nos últimos anos, grande parte me parece derivativa e/ou pouco ousada. Desde que começou essa febre com o tal "novo" rock, a partir do deslumbre em cima do Strokes, procurei conhecer cada banda que semanalmente era tida como a oitava maravilha da música contemporânea e foi só frustração. Talvez tenha criado expectativas exageradas esperando ter a mesma empolgação que tive quando conheci o Clash lá nos anos 80 ou, sei lá, o Flaming Lips na década de 90, porém a reação sempre foi a mesma: "Ah, Franz Ferdinand? Kaiser Chiefs? MGMT? Hot Chip? Legal, mas..."

Talvez eu esteja demonstrando uma visão muito particular e acredito que escrever uma coluna passe por uma certa "parcialidade" mesmo. Talvez, no fundo, contrariando tudo que escrevi acima (não me cobre coerência, hehehehe) o pop de hoje em dia tenha encontrado a fórmula mágica; talvez o rock alternativo do século 21 seja genial e consiga fazer exatamente o que a molecada quer escutar. O que tentei expor nestas mal batucadas é que me sinto carente de "novas descobertas". Sabe quando você ouve uma banda nova pela primeira vez e rola aquele brilho nos olhos (e nos ouvidos)? Quando você conhece um artista e quer ter todos os CDs (sim, sou um dinossauro que ainda compra CD) do cara? Então, é disso que sinto falta há anos. Ou, talvez, eu apenas tenha me tornado um chato.

Quem é o colunista: Alex Menotti

O que faz: Jornalista.

Pecado gastronômico: Carne de porco, esse animalzinho mágico

Melhor lugar do Brasil: São Paulo

O que ele ouve no carro, em casa e no IPod: Bandas de garagem dos anos 60, jazz, punk rock nova-iorquino dos anos 70, Spiritualized, Flaming Lips, Cartola e os sambistas da velha, Toquinho & Vinicius, James Brown, Dylan e por aí vai...

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.