Guia da Semana

Dez anos atrás, Marcio Ballas, ao lado do parceiro Cesar Gouveia, resolveu criar um espetáculo de palhaço um pouco diferente do convencional.

O espetáculo Jogando no Quintal, não tinha roteiro usava como palco um fundo de quintal e tinha espaço para no máximo quarenta pessoas. Mal sabia ele que aquela brincadeira levaria ele muito longe.

As apresentações do quintal foram um sucesso tão grande, que levaram o espetáculo uma extensa turnê no país, que hoje chega em sua nova temporada. A companhia agora tem sede própria e Ballas e seu improviso se tornoram grandes referências no humor nacional. O ator chegou até a apresentar um programa chamando É Tudo Improviso, que passava na Band.

Muito sem engana quem pensa que é preciso pouco para atuar um espetáculo de improviso. O currículo de Ballas é extenso. Antes de fundar a Cia Jogando no Quintal, ele estudou na escola de palhaços Jacques Lecoq, em Paris, trabalhou no Clowns Sem Fronteiras, com duas expedições para zonas de guerra e se formou no L’Institut du Clown Relationnel, na Bélgica, além de ter integrado o Doutores da Alegria do Brasil por 4 anos.

Atualmente Marcio Ballas está em cartaz as terças com o espetáculo Caleidoscópio, se apresenta as quartas no Comedians Club com as noites de improviso, além de ministrar cursos de improviso na sede do Jogando no Quintal.

Confira a entrevista que o ator e palhaço concedeu ao Guia da Semana.

Guia da Semana - Como tem sido sua experiência com os espetáculos de improviso? Você tem fugido do teatro mais tradicional?

Marcio Ballas - Na verdade eu não tenho fugido do teatro, mas sim focado no improviso porque é o que eu sei fazer. Originalmente eu sou palhaço e quase sempre trabalhei com isso. Dez anos atrás tive um encontro com o Cesar Gouveia onde criamos o Jogando no Quintal, um dos primeiros espetáculos de improviso no país e talvez o mais antigo que continua em cartaz.

Conforme fomos pesquisando sobre o tema palhaço eu gostava mais e mais do improviso. Ai eu comecei a desenvolver outros espetáculo e formatos dentro desta linguagem.

Desta pesquisa nasceu o Caleidoscópio que é de um grupo de pessoas do Jogando no Quintal, só que sem o elemento palhaço, comecei a desenvolver outros trabalhos como as Noites de Improviso que faço no Comedians Club, o programa É Tudo Improviso, na Band, e até o grupo Os Barbichas me chamaram para fazer a orientação dos espetáculo Improvável. Então eu trabalho muito com o improviso porque é o que eu sei fazer de melhor.

Guia da Semana - Você começou com o espetáculo que acontecia num fundo de quintal e hoje já passou pela TV e está com dois espetáculo em cartaz. Como você vê a sua evolução de lá para cá?

Marcio Ballas - Foi algo muito louco! Eu nunca poderia imaginar que teria essa repercussão toda porque era um espetáculo totalmente alternativo, num quintal pequeno para um público máximo de 30 a 40 pessoas. Fomos trabalhando e fomos fazendo e o público foi reconhecendo.

O espetáculo de improviso tem uma coisa bacana que público pode assistir mais de uma vez porque ele é sempre diferente.

Guia da Semana – Você acredita que o improviso está virando uma contra partida do engessamento do "teatro tradicional"?

Marcio Ballas – O improviso tem uma característica que o diferencia do teatro tradicional que é a participação do público, que dá os temas e os títulos a cena, tendo um papel mais ativo na peça.

Mas um bom teatro é um bom teatro e vai ser sempre. Um não entra no lugar do outro, mas a verdade é que o público de improviso tem crescido cada vez e nós temos sentido isso nos teatros.

O fenômeno da TV aconteceu por causa do teatro, já que a gente já fazia sucesso antes de rolar o convite. Para a gente é muito legal porque a gente quer é ter mais público e poder compartilhar nossa pesquisa e nosso trabalho.

"A cada espetáculo é um improviso, a cada dia é uma loucura” - Marcio Ballas

Guia da Semana – A maioria dos espetáculo de improviso busca a comédia, mas teria como faz um improviso de drama?

Marcio Ballas – Tem. Depois de muitos anos fazendo espetáculos a gente organizou um festival aqui em são Paulo e a gente viu um espetáculo da Colômbia de um grupo chamado Accion Impro que apresentou um espetáculo chamdao Triptico, que era um espetáculo sério, sem humor, onde as história demoravam para ser criadas.

A gente ficou muito impressionado e quando vimos achamos incrível. A partir daí surgiu a vontade de fazer o Caleidoscópio, que não é um espetáculo que busca o humor. Ele tem um pouco de poesia e lirismo. Nosso objetivo é conta história que acabam tendo humor, porque viemos da comédia, mas o público tem uma grata surpresa por achar um espetáculo que não é refém do humor o tempo todo.

Guia da Semana – Como é sua relação com o seu personagem de clown, o João Grandão? Ele evoluiu com o tempo?

Marcio Ballas – O palhaço muda muito com o tempo. Não costumo chamar o João Grandão de personagem porque ele é muito o que eu sou. Com a idade, com o tempo, a vivência no palco, você muda.

Eu tinha um professor que dizia que o palhaço bom é o palhaço que tem pelo menos 10 anos e acho que nesse ponto o João mudou bastante. Neste ponto ele é diferente de um personagem teatral que tem sempre as mesmas características.

Guia da Semana – Você viajou por muito lugares com seu espetáculo. Como você vê a mudança da abordagem do humor ao redor do mundo?

Marcio Ballas – O humor é universal. Na maioria dos países as pessoas riem das mesmas coisas. Ai tem características de cada lugar, cada pais e de cada cidade. As vezes quando a gente vai apresentar em outros estados a gente sente a diferença num tipo de piada que funciona mais ou funciona menos.

Você vai no Rio, que é um público mais despojado, que fala mais palavrão, mais malandro, eles não tem problemas de sair uma cena mais de sacanagem com palavrão. Outros lugares, o publico é mais comedido. O humor muda um pouco de país em país, mas no geral ele é bem parecido.

Em 2008, participamos de um Campeonato Internacional de Improviso na Colômbia, onde fomos campeões. Foi uma surpresa porque não jogávamos faz tempo o improviso, tinha países que jogavam há muitos anos, e até times da Colômbia, os donos da casa, os favoritos.

Acabamos ganhando porque o público de lá é muito receptivo e caloroso. Eles gostaram muito do nosso jogo que misturava clown, bem brasileiro. Fomos campões porque o público gostou do nosso estilo de humor.

Por Edson Castro

Atualizado em 10 Abr 2012.