Guia da Semana

Foto: Robert Schwenck


Com a platéia do Teatro Carlos Gomes (RJ) cheia, nem mesmo um pequeno acessório do cenário despencando acidentalmente no palco tirou o brilho da reestréia do espetáculo 7 - O Musical, que trazia como estrela da noite a atriz Zezé Motta, brilhando ao lado das belas vozes de seus companheiros de palco. Entre eles, a atriz Alessandra Maestrini, que interpreta a empregada gaúcha de Toma Lá, da Cá, da Rede Globo, destacando-se no papel da sofrida e invejosa Amélia, além da jovem Marina Ruy Barbosa e da experiente Ida Gomes, que, com 85 anos de idade e 70 dedicados à carreira, fez bonito no palco, interpretando a Sra. A.

As duas horas e 15 minutos passaram despercebidas em meio a cenas de comédia, amor e ódio, todas referindo-se a belos contos de fadas infantis, como Branca de Neve e Cinderela, porém numa visão mais adulta. Para falar mais sobre o assunto, o Guia da Semana entrevistou Zezé Motta, que completa 40 anos de profissão em 2008 e conta os detalhes da preparação da peça, que deve chegar a São Paulo no ano que vem. Confira!

O espetáculo

Foto: Robert Schwenck


GDS - A Carmem é sua primeira vilã. Como foi o processo de preparação para esse papel? Houve muito estudo sobre as histórias dos Irmãos Grimm?

Zezé Motta - Na verdade, eu fiquei mais focada na direção do Charles Möeller. Voltei mais para o que ele queria de verdade na Carmem. Agora, na segunda temporada do espetáculo, a personagem está muito mais forte!

GDS - Como é a preparação para um musical? É diferente de outros tipos de espetáculos de Teatro?

Zezé Motta - Nessa peça eu não danço! (risos). Mas a preparação para um musical é bastante trabalhosa, porque exige uma postura maior de cada artista. Eu voltei até a fazer aulas de canto para aprimorar mais o que eu já conheço. É trabalhoso, mas no final é maravilhoso.

GDS - Com relação à trilha sonora, ao figurino e ao cenário, o que achou da mistura de um estilo medieval (as roupas serem parecidas com as das histórias dos irmãos Grimm) com o contemporâneo (cenário adaptado ao Rio de Janeiro)?

Zezé Motta - Na primeira temporada, o figurino de Rita Murtinho recebeu o Prêmio Shell. É lindo, cheio de detalhes. O cenário é maluco, porque neva no Rio de Janeiro (risos). Já em relação à trilha sonora, é muito bom cantar as músicas do Ed Motta. As letras são fortes e passam a história para o espectador.

GDS - O que achou da atuação dos estreantes Marina Ruy Barbosa e de Pedro Sol?

Zezé Motta - Todos os artistas que estão nesse musical são lindos e profissionais. Foram dez substituições de atores e atrizes para a segunda temporada. Foi até um susto, porque já estávamos acostumados com as atuações de cada um. Mas acabou sendo a mesma harmonia, todos se entrosaram com muita facilidade. E uma outra curiosidade é que, no trabalho, há quatro gerações: a de Marina, que tem 13 anos, a geração dos 20 aos 30, a minha, que é a mesma de Rogéria, e Ida Gomes, que tem 85 anos. Por mais tempo de profissão que você tenha, o artista sempre está aprendendo. Eu converso muito com a Alessandra Maestrini e estamos sempre experimentando as cenas, ainda mais ela, que é uma atriz requintada, consegue fazer um acabamento limpo em todas.

GDS - Já que falou em Ida Gomes, para você, o que é trabalhar com essa, que completou 70 anos de profissão em 2008?

Zezé Motta - Eu tenho o privilégio e a honra de dividir o camarim com essa atriz, que é um exemplo de profissional, ainda mais estando com 85 anos e trabalhando num musical que tem dois atos e mais de duas horas de duração. Temos muito o que aprender com ela.

GDS - *O valor do ingresso em alguns domingos custará R$ 1,00. O que você acha dessa proposta de Teatro Popular?

Zezé Motta - Acho isso muito interessante. É democratizar a cultura. Acredito que a partir do momento que o público tiver mais acesso ao teatro e ao cinema, vai sempre fazer uma força para voltar, ver novos trabalhos. A falta de interesse é tanto pelas condições financeiras quanto condições culturais. Eu tive o privilégio de estudar em uma escola que incentivava os alunos. Eu acho que também falta motivação das escolas, tanto públicas quanto particulares, de levarem seus alunos até a cultura. Eu ajudei na fundação da ONG Centro de Informação e Documentação do Artista Negro - CIDAN e lá, além das aulas de teatro, também levamos os alunos até o teatro para assistirem aos espetáculos.

*O preço promocional de R$ 1,00 acontece todo último domingo do mês. A temporada de 7 - O Musical dura dois meses no Rio, portanto, a promoção acontece ainda nos dias 26 de outubro e 30 de novembro.

A carreira

Foto: Robert Schwenck


GDS - Você começou em um musical (Roda Vida) e agora, completando 40 anos de carreira, está no elenco de um outro grande espetáculo. Qual o significado dessa vilã para sua história profissional?

Zezé Motta - No início da minha carreira, fiz vários musicais. [A atriz também atuou em Fígaro Fígaro, Arena canta Zumbi, entre outros]. Eu estudei balé moderno, dança afro, jazz, canto. Já tinha algum tempo que não fazia teatro, principalmente musicais. Foi muito bom o convite para interpretar a Carmem. Quando eu fiz Xica da Silva, a personagem (Maria da Silva) não era exatamente uma vilã. Ela fazia suas maldades, mas a Carmem é muito mais maldosa. Eu acho que o ator tem que experimentar de tudo, interpretar anjos e demônios, e eu adoro esse novo papel.

GDS - Você está na área artística há 40 anos. O que mudou no teatro, televisão e até cinema, desde quando começou a atuar?

Zezé Motta - Eu iniciei minha carreira enfrentando a censura, com o Roda Viva. Fomos proibidos de encenar o espetáculo em Porto Alegre, na ditadura. Hoje, temos total liberdade de escrever e encenar trabalhos. Isso é muito bom, pois podemos mostrar a realidade de um lugar, a pobreza e a miséria existentes.

GDS - Entre muitos de seus trabalhos nas telinhas, está a novela Xica da Silva, que primeiro foi um filme e depois foi para a televisão. Qual a importância desse trabalho?

Zezé Motta - Eu acho que a novela foi um marco pela história em si. Fomos dirigidos por Walter Avancini, que pra mim é um ´papa´ da teledramaturgia. Mas, outra novela que, pra mim, foi um marco, é Beto Rockefeller (exibida em 1968, com direção de Lima Duarte e Walter Avancini), porque ousou criticar a burguesia brasileira.

GDS - Você também já lançou diversos discos, entre eles O Samba Mandou me Chamar. Você sentiu que a pirataria prejudicou a venda de seus discos?

Zezé Motta - Eu faço parte dessa luta contra a pirataria. Eu sou diretora de comunicação de uma sociedade de proteção de direitos autorais e isso é uma luta permanente. A pirataria é uma traição com o artista. Infelizmente, ainda não há uma ´cura´ para isso, mas não podemos desistir de combater esse crime.

Atualizado em 6 Set 2011.