Guia da Semana

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Celebridades assumem o papel de escritores e cada vez com mais freqüência publicam obras com suas histórias para manter um lugar no degrau da fama. O que muita gente não sabe, porém, é que grande parte desses livros que chegam a ser best-sellers podem ter sido escritos por outras pessoas, conhecidas como ghost-writers, no português, escritores fantasmas.

O mecanismo é mais simples do que se parece. O cliente interessado em divulgar sua história contrata um profissional, solicita seu pedido e cabe ao escritor aceitar ou não o trabalho. O ghost writer Armando Alexandre dos Santos explica como é a relação entre os dois: "Às vezes um primeiro contato já revela uma empatia muito grande e vejo logo que um trabalho a quatro mãos, uma colaboração efetiva, é possível. Nesses casos aceito o serviço. Em via de regra, fico amigo pessoal dos meus clientes. Até já fui convidado para ser padrinho do filho de um deles... Em resumo, deve haver, entre o ghost-writer e os clientes, uma relação total de empatia e confiança. Sem isso não há colaboração possível."

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Para o ghost-writer Josias Andrade o cliente é um confidente, e grande parte das idéias surge de conversas, gravações, pesquisas etc. "Este elo existente entre ambos, não tenha dúvida, repercute na qualidade do trabalho." O serviço é desenvolvido ao longo de meses ou até anos, dependendo do tamanho e profundidade da obra. Quanto à remuneração, ele explica que normalmente firma-se um contrato de prestação de serviços, no qual são estabelecidas as condições de pagamento, prazo, tamanho, tema, materiais necessários, diárias para viagem, hotéis etc. "O pagamento costuma ser parcelado em razão das altas somas que um trabalho pode envolver. Se tratar de uma autobiografia envolve viagens, busca de documentos, entrevistas, transcrição de fitas etc."

O Doce Veneno do Escorpião, livro de Bruna Surfistinha, por exemplo, não foi escrito por ela e sim pelo jornalista Jorge Tarquini. No caso, ele fez o trabalho de um ghost-writer, mas com uma diferença: Raquel Pacheco, a dona da história não guarda segredo diante da mídia nem de seus leitores, pelo contrário: sempre deixou claro que quem escreveu o livro foi ele. Mas, Tarquini explica o motivo da sinceridade: "Quando se tem uma boa história como a dela, não há nenhum problema em assumir que o texto foi de um profissional especialista." Para ele, outras personalidades não fazem o mesmo por motivos como vaidade, insegurança e talvez por não terem o que contar e aí o que resta é um nome famoso na capa do livro.

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Embora muitos critiquem essas pessoas que fingem escrever algo e pagam para outros façam isso por elas, está cada vez mais comum utilizar esse serviço atualmente, não apenas famosos, mas indivíduos comuns e principalmente políticos ou outras pessoas públicas vêm tomando essa atitude. Armando fala um pouco sobre quem o procura: "Há casos de pessoas que têm experiências de vida maravilhosas (grandes médicos, empresários, filantropos ou artistas), mas que não têm jeito, ou não têm tempo, para escrever. Há ainda aquelas mais vaidosas que, por pura vaidade e desejo de enriquecer currículos vazios, me pedem livros. "Se já tem algum pronto, de qualquer assunto, eu compro!" ? às vezes me dizem. Confesso que tenho profundo sentimento de pena em relação a tais pessoas."

E para quem pensa que mentira tem perna curta está enganado. Quando se contrata um ghost-writer o sigilo dura para sempre. Se o pacto foi mesmo leal, se o profissional for competente mesmo, o cliente pode ficar tranqüilo que o fantasma some para sempre daquela vida. E não revela nunca que quem escreveu aquela obra na verdade foi ele. Por isso nem adianta duvidar dos seus autores preferidos, o melhor mesmo com tantas artimanhas dos serviços terceirizados é ler e não se questionar sobre a autoria da tal obra.


Além de Bruna Surfistinha, outros famosos já contaram com a ajuda de ghost- writers:
? Adriane Galisteu no livro O Caminho das Borboletas

? Paul McCartney no livro Many Years From Now

? Pamela Anderson no livro Star

? O Papa Bento XVI é um que constantemente precisa do trabalho de ghost - writers para escreverem seus discursos.



Colaboraram:
? Jorge Tarquini- jornalista e ghost writer, autor de O Doce Veneno do Escorpião de Bruna Surfistinha
? Armando Alexandre dos Santos- jornalista e ghost writer
? Josias Andrade- ghost writer

Atualizado em 6 Set 2011.