Guia da Semana

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Marília Pêra desafina para viver a pior cantora do mundo

Sempre muito dedicada e exigente na profissão, a atriz Marília Pêra passou a vida se aperfeiçoando. Ao longo de seus 62 anos de carreira, fez aulas de canto, piano, harpa, partituras entre muitas outras que enfeitam o currículo de uma das maiores veteranas da dramaturgia brasileira.

Mas, para encarar a nova personagem na comédia musical Gloriosa, ela precisou esquecer tudo o que aprendeu. "A composição da personagem foi extremamente difícil, porque passei a minha vida inteira aprendendo a cantar e me aprimorando. De repente, tenho que fazer justamente o contrário, desafinar. Foi uma verdadeira desconstrução da minha voz", explica.

O desafio de interpretar Florence Foster Jenkins, a pior cantora do mundo, não para por aí. "Depois de tantos gritos agudos durante mais de uma hora, eu tenho que me recompor e cantar de forma correta Ave Maria, no final do espetáculo. Na minha opinião, essa é a parte mais difícil, muitas vezes eu chego sem voz a esse momento", confessa.

A atriz

Marília - que já está acostumada a fazer musicais, a exemplo de Carmem Miranda (2005) e Mademoiselle Chanel (2004) - foi convidada pelo diretor Charles Möeller e por Cláudio Botelho, responsável pela adaptação do texto. "Chamamos Marília, que é uma amiga querida, a melhor atriz do mundo. Trabalhar com ela está sendo incrível. Ela é a primeira a chegar e a última a sair. Não é à toa que ela é Marília Pêra. Foi um ótimo casamento. E não poderia ser outra atriz no papel. Só uma profissional que canta muito bem poderia interpretar uma personagem que canta mal", conta o diretor Charles Möeller.

O enredo

A história gira em torno de Florence Foster Jenkins, que era a piada mais popular de Nova York nos anos 40, pelo seu modo de cantar. Os ingressos para os recitais anuais que protagonizava no Hotel Ritz eram disputados a tapa. Ela oferecia um repertório caprichado - Mozart, Verdi, Strauss - com uma peculiaridade: conseguia as piores interpretações que estes compositores já tiveram em toda a história. Ela cantava mal, tão mal que ganhou o apelido de "A Diva do Grito". Mas, para a Marília Pêra, Florence não tinha essa visão. "Tamanho o amor que ela tinha pela música e a necessidade de estar cercada de aplausos. Na verdade, acho que ela não queria ter essa consciência de que cantava mal", observa.

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Marília como Florence

Pelo que diz a história, Marília provavelmente deve estar certa. Aos 76 anos, Florence aceitou se apresentar no prestigioso Carnegie Hall. Os ingressos se esgotaram em poucas horas. Quem viu garante que foi uma apresentação inesquecível. E interminável. Entre uma música e outra havia intervalos enormes para Florence mudar de figurino. Sua roupa com asas - ela chamava de Angel of Inspiration - tornou-se um clássico. Um mês depois do concerto, Florence morreu. Há quem atribua a morte à depressão por, enfim, dar-se conta da reação do público, da crítica e de que a lotação não passava de chacota.

Parceria

Para enriquecer ainda mais o elenco, Guida Vianna e Eduardo Galvão também estão na peça. Guida vive três papéis - Maria, a empregada; Dorothy, a amiga; e Verinda, a mulher que humilha Florence durante um recital. "Sou um coringa no espetáculo e os personagens são bem diferentes, o que tem me estimulado muito. Tem sido maravilhoso e um privilégio estar ao lado de uma atriz com o talento da Marília. E a história de Florence é fascinante. Chega a ser surreal, se não fosse uma história verdadeira".

O ator Eduardo Galvão interpreta o pianista gay Cosme McMoon. "Meu personagem é um homem que entrou na vida de Florence por causa do dinheiro, afinal ele precisava tocar para sobreviver e ganhava relativamente pouco nos restaurantes onde trabalhava. Mas, com o passar do tempo, Cosme adquire um carinho enorme por ela e fica ao seu lado até o fim. Está sendo fascinante fazer", conta ele, que nunca tocou piano na vida. Por isso, teve aulas com a professora Zaida Valentim para aprender a posicionar a mão de maneira correta. No espetáculo, o pianista Silas Barbosa toca na coxia e o ator dubla o músico em cena.

Florence X Boyle

Em tempos de Internet e Youtube, a cantora britânica Susan Boyle virou um verdadeiro fenômeno, e não foi surpresa quando Florence foi comparada ao novo fenômeno musical. "A Susan conduz a voz muito bem. Tem até um tipo físico parecido com o da Florence, as maçãs do rosto. A Susan tem uma garganta na qual o ar passa com muita facilidade, já a Florence, coitada. Diria que a Susan é uma Florence às avessas", compara Marília, com muito bom humor.


Atualizado em 6 Set 2011.