Guia da Semana




Imagine 5 mil volumes em suas mãos, pesando apenas 400 gramas. Hoje em dia, com apenas um toque na tela digital, é possível viajar no universo das palavras da Antiguidade, com Ulisses, passar pela Idade Média de Don Quixote, dando uma paradinha no Romantismo de Crime Castigo, até chegar a uma ficcção de Stephen King, em segundos. Não estamos falando sobre um roteiro criado para um filme de Steven Spielberg, mas do leitor eletrônico de e-books, que tem como proposta abolir o papel e reinventar de comunicação entre homem e livro.

Simples e fáceis de usar, além dos próprios gadgets de leitura, os e-books podem ser lidos em palmtops ou smartphones, através da web. Ao seu dispor já estão sites com acervos de mais de 240 mil títulos, com preços bem mais em conta do que os impressos, oferecendo possibilidade de também explorar revistas e jornais. Mas mesmo com todas essas facilidades, ainda permanece uma dúvida: por quê os e-books, lançados há quase uma década, ainda não conseguiram fazer frente ao tradicional método de impressão inventado por Gutemberg, no século XV?

O fracasso

Há dez anos, uma grande agitação tomava conta do mercado tecnológico. Acerditava-se que os e-books revolucionariam o setor. Ledo engano (até agora). Para explicar o motivo do fracasso, Mark Coker, fundador da Smashword, uma das principais empresas de autopublicação do Vale do Silício, citou, em uma entrevista recente ao Jornal do Brasil, duas razões para o insucesso: os esquemas de Gerenciamento de Direitos Digitais, que criados para evitar cópias ilegais, afugentavam os usuários, limitando sua capacidade para usufruir de livros online. Mark também aponta a tecnologia dos leitores, incapazes ainda de oferecer uma experiência agradável de leitura e uma disponibilidade de conteúdo limitada.

Um exemplo emblemático a ser observado é a aposta do best-seller Stephen King. Em 2000, ele forneceu o download de uma obra sua, através do site da editora, a um valor simbólico de U$ 2,50. Com mais de 400 mil exemplares baixados em apenas um dia, sentiu-se seguro para deixar a editora de lado e comercializar diretamente o romance The Plant (A Planta), no qual o público baixava capítulos mediante o pagamento de US$ 1,00 cada, de forma voluntária. Resultado: somente 50% dos usuários acertaram a quantia estipulada e o autor largou a obra inacabada.

Após o case de King, muitos dos que haviam apostado no formato acabaram ficando com pé atrás. O resultado: o descrédito total dos e-books em computadores de bolso e celulares multimídia.


Foto: Amazon.com

De fácil portabilidade, o leitor de e-book mostra-se como uma nova solução para os calhamaços de livros


Repensando o formato

Passado o abalo inicial, muitos problemas já foram solucionados e a tecnologia das telas melhorou drasticamente, em todos os dispositivos, atraindo um novo grupo de leitores dedicados aos e-books, impulsionado pela maior quantidade de conteúdos nas prateleiras digitais, muitos deles com donwload gratuito de clássicos da literatura.

O novo boom trouxe outras iniciativas no Brasil, como a de Alexandre Batistela, que ao lado do sócio Ednei Procópio, abriu um site que disponibiliza livros eletrônicos, oferecendo material de autores independentes, obras para publicação gratuita e de domínio público. "Não acreditamos que o livro eletrônico substituirá o impresso, mas facilitará o acesso, popularizando a leitura por meio de uma divulgação rápida e barata. Além disso, contribui para a preservação do planeta, pois não necessita de uma única folha de papel", aponta Alexandre.

Necessidade Atual

Segundo a American Association of Publishers [AAP], após o ostracismo dos primeiros anos do século XXI, os e-books ascenderam novamente, gerando crescimento anual nas vendas de 55%, entre 2002 e 2007, enquanto o aumento no comércio global de livros foi de apenas 2,5%. No mercado norte-americano, isso representou uma adição de 108% das vendas em novembro de 2008, de acordo com o International Digital Publishing Forum [IDPF].

Isso pode se configurar em uma resposta ao alto custo do livro impresso, que em uma tradicional cadeia de abastecimento para o volume passa por vários intermediários como autor, editora, distribuidora e livraria, encarecendo o produto final. Para visualizar a diferença, a publicação de 3 mil livros em offset gira em cerca de R$ 10 mil reais, enquanto o e-book pode sair por 10% do valor, com a possibilidade se ser acessado por inúmeras pessoas, sem custo adicional. É também uma oportunidade para os escritores que não encontram espaço nas restritas prateleiras das livrarias.

Novas plataformas

Durante muito tempo ninguém conseguiu uma plataforma realmente bem-sucedida, que organizasse, assim como o iPod faz com a música, o armazenamento de uma grande quantidade de títulos, com uma usabilidade confortável e conveniente. A última lançada pela Sony é o Reader Digital Book, que permite a compra de milhares de títulos em uma loja virtual credenciada.

Para não ficar atrás, a Amazon entrou na disputa com um o conhecido Kindle, que aposta em um método muito mais simples e ilimitado de escolha, disponibilizando 230 mil títulos para download, além de jornais e revistas. Enquanto isso, a japonesa Fujitsu apresenta o Flepia, um livro eletrônico com cartão de memória de 4 GB, capaz de armazenar quase 5 mil títulos de 300 páginas.

Mas embora práticos, ainda vai demorar um pouco para os e-books caírem no gosto popular. Começando pelo preço - o Reader, mais barato de todos, não sai por menos de US$ 300, nos EUA. Sem contar a velha questão da familiaridade. Muitos leitores da geração de consumidores em potencial ainda sentem dificuldades em apreciar seu romance fora das páginas convencionais. Ao que parece, ainda vai demorar mais alguns anos para ver as pessoas lendo o jornal no metrô em telas de computadores.

Atualizado em 6 Set 2011.