Guia da Semana

Fotos: divulgação


Ator cômico desde os anos 80, Marcelo Mansfield fundou o Clube da Comédia Stand Up, ao lado de Marcela Leal e Rafinha Bastos, dando início a uma febre que tomou conta do país. Conhecido pelas tiradas rápidas e irônicas, se tornou o padrinho de um nova geração de comediantes, que agora integra a programação da Primeira Mostra Paulista de Stand Up Comedy, que acontece de 16 de janeiro a 15 de março, no Teatro Nair Bello, no Shopping Frei Caneca, em São Paulo.

Em entrevista ao Guia da Semana, o ator comenta sobre os rumos da comédia no Brasil, apresenta novos projetos e revela que para ser um bom humorista do gênero é preciso, antes de tudo, observar o cotidiano e saber escrever bem. Confira abaixo os melhores momentos deste divertido bate-papo.

Guia da Semana: Como você vê a reunião dos principais espetáculos de stand up em um só festival?

Marcelo Mansfield: Eu acho que é muito legal e a idéia do Fernando Padilha, de reunir todo mundo em um único espaço. É para fechar com chave de ouro essa primeira fase do boom do stand up. Eu confesso que estou achando uma maravilha, principalmente porque tem a Ângela Dip, que começou a carreira comigo em 85, no grupo Harpias. Também tem a Marcela Leal que, ao meu lado, fundou o Clube da Comédia Stand Up, além do Fernando Caruso e o Fábio Porchat, que são os caras da Comédia em Pé. Já o Diogo Portugal, é um grande sucesso do stand up, que eu já conheço há muito tempo, desde o festival Risorama em Curitiba. Ou seja, ele (Padilha) reuniu os pioneiros.

Guia da Semana: O que você acha dos novos talentos do gênero?

Marcelo: Acho que com o tempo, naturalmente, só vão ficar os bons. Tem bastante gente testando coisas, porque o stand up é um formato em que a pessoa não precisa ser um ator formal. Basta ser um bom blogueiro, né?! Vai virar uma coisa mais profissional daqui a pouco. Muita gente vai perceber que prefere ser espectador a arriscar passar vergonha no palco. Mas eu também me considero um pouco iniciante no stand up. Até pouco tempo atrás eu fazia coisas como um ator cômico formal.

Guia da Semana: Por quê você coloca os seus vídeos no Youtube? Não acha que dessa maneira as pessoas acabam não assistindo ao show, pois já conhecem as piadas?

Marcelo: Eu acho que a internet é uma grande ferramenta para divulgar o meu trabalho. Você pode jogar na rede uma boa piada e não precisa mais fazer no show. Se alguém reconhecer, você pode brincar com isso também. Eu fiz um quadro com o Rafinha Bastos em que a gente corrige a ortografia do casal Nardoni. Já deu mais de 1 milhão de acessos! Pô! É ibope de novela dos anos 80. Por isso uso muito o Orkut para me divulgar e o Youtube para fazer o trailer dos meus trabalhos. Já o meu blog é direcionado a um único personagem, que é o Seu Lili, que era da Terça Insana e agora virou uma série. Já está indo para a segunda temporada.

Guia da Semana: Qual é o seu segredo para fazer stand up sem perder o frescor criativo?

Marcelo: É a observação. Sempre estar ligado em tudo o que está acontecendo. Esta é a melhor maneira de criar qualquer coisa de comédia. Algumas coisas ficam na cabeça da gente, cenas que foram engraçadas e que você guardou numa pasta. Aí chega o momento em que você pode usar aquela piada. Por isso você tem que estar sempre observando e guardando as coisas numa pasta do computador, ou na sua cabeça.

Guia da Semana: Por quê o stand up é uma maneira atemporal de fazer rir?

Marcelo: Porque você trata muito do dia-a-dia. Uma coisa que acontece hoje, em Brasília, vira piada imediatamente no País inteiro. O stand up vai sempre se renovando. A partir de fevereiro terá uma nova novela pra gente brincar: o Barack Obama que assume a presidência americana no final do mês. O mundo evolui rápido demais e a gente acompanha essa transformação criando piada em cima.

Fotos: Gabriel Oliveira


Guia da Semana: Você está sempre de bom humor?

Marcelo: Sempre! Quando eu fico de mau humor, eu durmo. (risos).

Guia da Semana: Qual é a diferença entre o stand up americano e o brasileiro?

Marcelo: A diferença é que nos Estados Unidos eles aceitam se você adota um personagem ou faz o seu número maquiado. Aqui, a maioria dos que fazem stand up atua de cara limpa. Tem outro fator importante: o humor brasileiro é um pouco mais agressivo que o norte-americano.

Guia da Semana: Qual é a maior dificuldade em fazer humor no Brasil?

Marcelo: O mais difícil é que o gênero não é respeitado pela classe. Você não vê um comediante tendo papel de protagonista em uma novela. A classe artística não respeita o comediante como um grande ator, com potencial dramático. Por exemplo, no filme Se Eu Fosse Você 2, a Glória Pires e o Tony Ramos estão brilhantes e a gente ri o tempo inteiro. Por quê não dão para eles esse papel numa novela? Você vê que tem prêmio para todo mundo no teatro, mas não tem para a comédia.

Guia da Semana: Então qual é a vantagem de atuar com o humor?

Marcelo: A vantagem é que o público gosta da comédia. Os atores de comédia são mais ricos que os atores dramáticos. É bem mais fácil você ganhar dinheiro com comédia do que fazendo novela.

Fotos: Gabriel Oliveira


Guia da Semana: O que você considera o mais difícil na hora de fazer rir?

Marcelo: Eu acho que a maior dificuldade é quando você mexe em coisas que incomodam as pessoas. Com pedofilia, por exemplo, não dá para fazer piada. Morte e doenças são outros assuntos que ninguém vai achar engraçado. Essas coisas são proibidas em comédia.

Guia da Semana: Quais os seus ídolos da comédia?

Marcelo: Tinha uma comediante brasileira... A Maria Teresa... Ela fazia uma fofoqueira que ficava na janela, na Praça É Nossa. Ela sabia fazer humor na televisão como ninguém. Também achava o Jô Soares muito engraçado, na época dos personagens. Tinha um outro comediante brasileiro que eu gostava muito quando era criança chamado Pagano Sobrinho.

Guia da Semana: Como você enxerga a comédia na TV?

Marcelo: Todo mundo mete o pau no Zorra Total, que foi uma coisa deliciosa de fazer. Não gosto muito do resultado, mas é maravilhoso fazer. Os comediantes ensaiam e têm o poder de discutir o formato com a direção. O que acontece é que eu acho que o formato já está desgastado.

Guia da Semana: E dos programas como o Pânico na TV e o CQC, você gosta?

Marcelo: O CQC eu acho que é mais inteligente. Não é porque tenho amigos lá, mas é mais educado. Acho o Pânico muito deselegante, muito grosseiro. As pessoas não foram educadas pra ouvirem aquilo.

Guia da Semana: O que você acha que ainda não fez nesses 23 anos de carreira?

Marcelo: Acho que falta fazer drama. Vou esperar completar 80 anos pra encenar o Rei Lear (risos). Brincadeira, eu sinto falta de contracenar. Tenho vontade de fazer teatro formal. Também gostaria muito de fazer uma comédia de situação na TV, estilo Friends, The Nanny. Acho que está faltando isso no Brasil, mas por conta da falta de estrutura das emissoras. É preciso ter um estúdio gigante e uma equipe monstruosa de pessoas trabalhando nisso.

Guia da Semana: Que dica você daria para os jovens comediantes que querem seguir carreira no stand up?

Marcelo: Mude imediatamente de profissão (risos). Eu acho que tem que estudar, como tudo na vida. Tem que conhecer o formato e ter um senso crítico apurado. Também tem que ter um timing cômico. Não é simplesmente subir no palco e meter o pau na Hebe, entendeu? A Hebe merece respeito, uma mulher que tem 58 anos de carreira. Se você vai fazer uma piada sobre a Hebe, tem que ser surpreendente pra ela, inclusive. Eu sempre penso assim: se eu vou fazer uma piada sobre alguém a pessoa tem que rir disso. Não se sentir constrangida, mas reparar e falar, "Pô, eu sou assim mesmo".

Bate-bola
Comida: a minha primeira esposa. Risos. Aaaaah! Eu gosto muito de feijoada.
Bebida: suco de cramberry com soda.
Uma mulher: Dercy! Ela é mulher pra mais de 100 anos. Risos.
Cantora: Madeleine Peyroux.
Livro: a biografia do Billy Wilder.
Filme: Crepúsculo dos Deuses
Hobby: colecionar carros. Eu não faço isso, mas eu gostaria. Mentira, eu coleciono carrinho em miniatura.
Sonho de consumo: um Jaguar preto clássico.
Algo que jamais faria por dinheiro: voltar a fumar ou a beber.
Melhor humorista do Brasil: o falecido Pagano Sobrinho.
Pior humorista do Brasil: o presidente da Câmara. Risos.
Humor para mim é... o dia-a-dia. Minha força profissional, porque se eu não estiver bem-humorado eu não consigo subir no palco. Acho que o humor move tudo no meu cotidiano.



Atualizado em 6 Set 2011.