Guia da Semana

Foto: Divulgação


No mundo da moda, além do glamour e de uma grana preta, as fotografias movimentam todo um aparato técnico, que vai da iluminação perfeita à pós-produção. No mundo de Terry Richardson, não. Nascido em Nova Iorque e criado em Hollywood, ele é um dos nomes fundamentais quando se fala em fotografia de moda. Ao contrário de seus colegas de profissão, Richardson costuma utilizar uma maquininha como aquelas Yashikas de filme que as digitais compactas substituíram em todas as festas de aniversário.

Ele começou a se interessar por fotografia na capital do cinema comercial, quando ainda estava no ensino médio e tocava numa banda punk. Filho de Bob Richardson, fotógrafo de moda badalado nos anos 60 e 70, seu primeiro trabalho profissional foi para a revista Vibe. Apesar de tê-lo conseguido com a ajuda do pai, ele desenvolveu o ensaio sozinho, sem a ajuda do velho. Em entrevista à Index Magazine, Terry disse que fez isso para conseguir respeito. Na mesma ocasião, ele afirmou que sua mãe, que nunca fotografou profissionalmente, é melhor fotógrafa que ele e o pai juntos.

Punk

A influência do punk é marcante em toda a obra de Terry, composta por fotos cruas, sem tratamento e que às vezes deixam passar até os olhos vermelhos ocasionados pelo flash da camerazinha. Além dos aspectos técnicos - ou da aparente ausência destes -, suas imagens chamam a atenção pelas cenas em si. Suas fotos têm como foco o mundano, a má conduta, o desagradável. O oposto do sonho americano. Suor, saliva, rugas, pelos e demais "imperfeições" são enquadradas propositalmente. Sempre que possível, seus editoriais contêm personalidades anônimas, figuras do submundo, modelos fora dos padrões, ou ele mesmo nu. Sua mãe também é personagem frequente de seus retratos. Em seu site, há uma seção intitulada Model For Terry, dirigida a qualquer pessoa que queira posar nua para o figura. Mais punk impossível.

Assim, retratar os caras do Jackass foi um caminho natural. O encontro entre os membros do programa - que coloca em cheque diversos valores pré-estabelecidos com o artista que faz questão de excluir os bons costumes de suas cenas - era praticamente inevitável. A sintonia entre o fotógrafo e os fotografados fica evidente. E pode ser vista no resultado final, que traz cenas de gente urinando em um ferro de passar roupas, um anão pelado e um cara com a bandeira dos EUA simbolizando seu pênis.

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Os Papéis

Terry Richardson está no mundo da moda para incomodar. Para mostrar o que há de mais cru e essencial em seus fotografados e no ambiente que os rodeia. Muitas vezes ele explicíta a pouca importância das roupas para a composição de um estilo. Ousadia é um adjetivo fundamental quando seu nome está jogo. Seus retratos desnudam.

Nem as celebridades brasileiras escaparam de sua lente. Luiza Brunet e sua filha Yasmin foram retratadas em nus frontais. Personalidades como Ricardo Tozzi, Cauã Reymond e Beth Lago também foram clicadas quando Richardson esteve por aqui para produzir as imagens do livro Rio, Cidade Maravilhosa, bancado pela Diesel e lançado em 2007. Além dos famosos, a obra aborda as favelas, os bailes-funk, as paisagens e tudo o que ronda o imaginário acerca da capital fluminense.

O Currículo

Além do livro sobre o Rio de Janeiro, Richardson tem outras oito obras lançadas, incluindo aí uma edição revisada de Terryworld, lançado e relançado pela Taschen. Seu último livro, Wifes, Wheel, Weapons, de 2008, é uma parceria com o escritor James Frey, que vê o mundo de forma semelhante à de Terry e é responsável pelos textos da publicação.

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Seu currículo inclui trabalhos para grifes do calibre de Gucci, Sisley, Chloe e editoriais para revistas como Vogue, i-D, Purple, GQ e Harper´s Bazaar. Mesmo assim, há quem diga que o seu trabalho é amador. Tem gente que de fato vende fotos feitas por amadores como sendo de Terry Richardson. E ele acha isso o máximo.

Inserido em um dos círculos mais restritos da cultura de consumo, Richardson sabe onde pisa. Talvez isso o faça tão importante. Seu trabalho chacoalha o universo da fotografia e o coloca em cheque. Faz com que os modelos desçam do patamar em que vivem e sejam fotografados da mesma forma que a maior parte dos simples mortais. Sem hipocrisia, e ao mesmo tempo contraditório, ele está constantemente questionando a importância e o valor imputado à fotografia, tanto como arte quanto como publicidade. Mais Terry, impossível.




Atualizado em 10 Abr 2012.