Guia da Semana

A idade realmente não define o humor e a profissão de uma pessoa. Aos 54 anos, Marcelo Mansfield continua sendo um dos principais comediantes da atualidade. Com uma carreira consagrada e bem diversificada – ele atuou em peças teatrais, novelas, filmes, campanhas publicitárias e até escreveu um livro –, Mansfield conta que a comédia sempre esteve presente em sua vida.

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“Desde criança eu sempre fui o engraçadinho da família. Aquele que animava as festinhas e que subia em cima da mesa para cantar. Então, desde quando resolvi ser ator e assumir a profissão eu já fui pra comédia”, afirma.

Em um bate-papo pra lá de descontraído e engraçado – no mínimo –, o Guia da Semana conversou com o humorista, que falou sobre sua carreira, projetos e parcerias com outros comediantes.

Terça Insana
“A Terça Insana foi, na verdade, a consagração de um formato que eu, a Grace Gianoukas e a Ângela Dip fizemos muito nos anos 80. O chamado “Underground Paulistano”, um período em que a gente se apresentava muito no Madame Satã, no Espaço Off, entre outras casas. Foi nessa época que a gente criou o formato de esquetes curtas, que posteriormente foi consagrado com a Terça Insana. Eu fiz parte desse projeto de 2001 a 2005, e era maravilhoso. Mas quando eu completei 20 anos fazendo o mesmo estilo, eu decidi mudar um pouco. E foi a partir daí que eu conheci e investi no stand up”.

Clube da Comédia
“O Clube da Comédia foi extremamente importante para o crescimento do movimento do stand up no Brasil. Foi o grupo que transformou o stand up brasileiro no que ele é hoje. O projeto surgiu comigo, Rafinha Bastos e Marcela Leal. Na época, o Rafinha, que tocava a página dele, e a Marcela, que também fazia personagens de esquetes, queriam começar no stand-up. Como eu tinha bastante experiência no teatro, eu acabei produzindo o projeto. Depois do primeiro espetáculo, a gente começou a agregar pessoas ao grupo, como o falecido Marcio Ribeiro, o Diogo Portugal, o Oscar Filho, o Danilo Gentili... E foi assim que o Clube da Comédia se consagrou, existindo por anos. Para você ter uma ideia, o próprio Comedians, bar do Rafinha e Danilo, surgiu a partir do Clube da Comédia. É com se fosse uma extensão do projeto, uma verdadeira casa do Clube da Comédia”.

Esquete x stand up
“Esquete e stand up são bem diferentes. Na esquete, o ator interpreta um personagem, usa peruca e figurinos. Já no stand up o comediante tem que estar de cara limpa, sem acessórios. É só ele e o texto. Além disso, o texto precisa ser baseado em coisas da vida do ator, são situações vivenciadas e interpretadas pelo comediante. É isso é diferente da esquete, que pode ter situações e personagens absurdos. Na Terça Insana, por exemplo, eu interpretava um transexual fictício chamado Terezo. Ele na verdade era uma mulher que se tornou um homem super bem dotado, com 33 cm de pênis. Ou seja, impossível, rs”.

Agora É Tarde
“No Agora É Tarde a gente transferiu para o estúdio as brincadeiras e situações engracadas que rolavam nos bastidores e camarim do Clube da Comédia. O bacana é que o programa é gravado como se fosse ao vivo, quando a gente começa vai até o fim. E com isso a gente fica muito à vontade. Mas a gente segue um roteiro. O programa conta com cinco roteiristas, que enviam o material com antecedência pra gente. E acho que por isso que ficamos à vontade para fazer alguns comentários improvisados. O formato do programa em si faz com que a gente fique bem a vontade com os roteiros e as improvisações”.

Amizade com Danilo Gentili e Rafinha Bastos
“Eles são praticamente meus filhos, adotei os dois. Tenho bastante contato com a família do Rafinha. O filho dele, por exemplo, me chama de tio. Quando encontro a mãe do Rafinha a gente conversa por horas e horas. É uma relação muito familiar mesmo. E o Danilo é a única pessoa que pode me ligar de madrugada, sabe assim? Como ele dorme muito tarde, ele é o único que pode me mandar mensagem de madrugada sem que eu fique chateado. A gente tem bastante intimidade, acho que isso dá para ver no programa, né? Na verdade, tenho muita amizade com todos que fizeram parte do Clube da Comédia. Foi um projeto com amigos mesmo”.

Nocaute
“A peça existe desde 2008. Na época, o Rafinha Bastos estava me dirigindo. E cada vez que eu soltava uma piada ele falava “nossa, esso é uma porrada”, “essa é um tapa”. E foi daí surgiu o nome “Nocaute”. O texto é o mesmo de 2008. Eu sou super careta, super teatral. Eu tenho a disciplina do teatro, sabe? Claro que coloquei coisas novas para atualizar a peça, mas o formato ainda é o mesmo. Essa última temporada é uma grande oportunidade para o pessoal que ainda não assistiu à peça conhecer o espetáculo. Até porque, tem um pessoal que curte o meu trabalho hoje que na época ainda nem tinha 18 anos. E também é uma boa chance do público do Agora É Tarde me ver no teatro. E pra quem já viu, é uma ótima oportunidade de se despedir do “Nocaute”, é uma missa de sétimo dia, rs”.

Evolução do stand up no Brasil
“Eu acho que o que tinha que aparecer já apareceu. Agora estamos na fase de estabilidade. O stand up é um formato que faz parte dos vários formatos que temos na comédia. O engraçado é que ele começou a rolar junto com o formato musical, só que, como o stand up é dinâmico, um dia está em um bar, no outro em um teatro, ele acabou caindo no gosto do público mais rapidamente. O musical, por outro lado, fica no teatro por muito tempo. Mas esses dois formatos que vieram para o teatro brasileiro dominaram essa década. Como o público já sabe como funciona o stand up, acho que acontece a tal seleção natural. Hoje o público escolhe o que quer ver e não arrisca mais”.

As apostas do humor
“Eu acho o Cris Paiva um dos melhores humoristas da atualidade. O Paulo Viera, de Tocantis, é muito bom também. O Vitor Camejo, que por sinal é um dos roteiristas do Agora é Tarde, é excelente. Eu realmente acho que esses vieram para ficar, sabe? Eles estão aí para substituir toda a velha guarda que está morrendo, rs. É a nova geração! E claro, gosto muito do Fábio Porchat, como todo mundo, e do Marco Caruso”.

Próximos Passos
“Eu tenho dois solos para fazer, um que chama “Chega de Shakespeare”, e o outro eu ainda estou traduzindo, então não escolhi um nome pra ele. Mas é uma peça formal de rádio. Além disso, tem outra peça que pretendo fazer que se chama “Como eliminar uma hora do seu dia”, que vai ter participação da Ângela Dip e Adriane Galisteu”.

Por Anna Thereza de Almeida

Atualizado em 16 Out 2013.