Guia da Semana


A proposta intimista marca os ambientes do Miniteatro

Fundada em 1970, a praça Rooselvet se tornou um verdadeiro Elefante Branco na capital paulista. Pouco arborizada e cercada de muros de concreto, terminou concentrando um grande fluxo de moradores de rua e usuários de drogas, ganhando a fama de área perigosa. Negligenciado pela prefeitura durante muito tempo, o local começou a renascer em meados de 2000, quando diversos grupos teatrais passaram a se instalar por lá.

De bocada a centro cultural. Atualmente são oito teatros e diversas trupes, como os Satyros e Parlapatões, além de um roteiro descolado de bares e cafés, que atraem um público cada vez maior, de todos os cantos da cidade. No meio de toda essa revitalização, destaca-se o Miniteatro, que idealizado pela Cia da Revista e aberto recentemente, dá nova cara a esse circuito, com uma proposta inovadora de interação com o público.

Tamanho da imaginação


O espaço reduzido alimenta a imaginação dos atores

Seguindo o conceito intimista do projeto, o nome do lugar é mais do que justificado, pela amplitude de apenas 150 m² e capacidade para 50 pessoas. "Mini é um derivado de mínimo, do latim minimu, que significa o menor. Nosso significado de mini, porém, busca uma analogia que carrega um outro sentido etimológico, que compreende nossa proposta: mini torna-se íntimo, essencial, revelado através da busca da essência, do mínimo necessário para a comunicação imediata", afirma a dramaturga Marília Toledo, diretora artística do Miniteatro.

Para aproveitar a arquitetura diminuta, as peças são encenadas bem perto da plateia. "Você tem que usar o espaço de forma inteligente, criar uma pesquisa de linguagem nesse sentido", explica Marília. Mas embora a ideia pareça coesa, se apresentou como um obstáculo inicial nos primeiros espetáculos, o que demandou uma necessidade de adaptação geral. "Encaramos esse espaço como uma limitação no início. Mas tornou-se uma inspiração e o ponto de partida para pesquisar o que é realmente essencial para o público", completa.

Segundo o diretor do grupo, Kleber Montanheiro, o Miniteatro estabelece um tipo de comunicação com o público muito mais íntima, transformando a cena praticamente em uma conversa ao pé de ouvido. "Tivemos que fazer uma grande adaptação. Trata-se de uma commedia dell"arte, que nasceu na rua, onde é tudo muito gradiloquente. Mas o que é grande para este teatro não é o mesmo para a rua, não temos a mesma expansão. Começamos então uma pesquisa para reduzir o volume, sem perder a força da farsa".

Quebra-cabeça


Os móveis são modulares para facilitar a mudança do espaço

Para aproveitar da melhor forma possível o local, a direção aproveitou todas as possibilidades oferecidas pelo imóvel, maximizando a utilização de todos os seus cantos. As portas de entrada são decoradas com miniaturas de objetos variados. Do mesmo modo criativo, o Miniteatro se desdobra em diversos ambientes, com duas salas multiuso, bar, banheiros e camarim, com bancada para 12 atores.

A sala térrea funciona como hall, mas também pode ser usada como lounge, cabaré e câmara de espetáculo. No primeiro andar, a segunda sala funciona como uma caixa preta e é equipada com cerca de 70 pontos de luz.

Para atender a essa proposta multifuncional, foram confeccionados móveis modulares, inspirados no brinquedo Lego. Peças de madeira com almofadas em veludo azul funcionam como cubos para diversos usos, que empilhados, podem formar mesas ou arquibancadas na sala térrea. Na sala de cima, também podem ser montadas duas arquibancadas de madeira e ferro, em diversas configurações.

O barzinho ainda está em fase de implantação e funcionará de acordo com o horário e o contexto da peça. "Vamos aproveitar o contexto da cozinha para reforçar a encenação. No caso de uma peça como De Vita Sua, vamos servir vinho e bruschetta antes da peça", adianta Kleber. "Temos também a idéia de, com o tempo, usar a cozinha, para coisas mais pontuais, como levar atores que cozinham para fazer um prato ali e depois realizar uma performance", conta Marília, anunciando novos projetos para o local.

Atrás das coxias
Os espetáculos que abrem a nova casa são: Bem Aventurados os Anjos que Dormem e A Odisséia de Arlequin. A programação inclui, ainda, uma estreia em maio, o espetáculo De Vita Sua - Aquele que Canta Sozinho, baseado no livro Um Monge no Divã, de David Léo Levisky, Os ingressos variam entre R$ 15,00 e R$ 30,00.

Serviço:
Miniteatro - Praça Roosevelt, 108. Telefone: (11) 2865-5955.

Atualizado em 6 Set 2011.