Guia da Semana

Por Vânia Abreu



Em 26 de janeiro deste ano, o libanês de 23 anos, chamado Mika, foi capa da Ilustrada (caderno de cultura do jornal Folha de S. Paulo). A matéria noticiava o seu grande e crescente sucesso. Informava que ele é a "principal aposta da gravadora Universal para 2007" e ainda, que "ele está prestes a tomar conta do mundo pop." Na continuidade da matéria, destacavam-se opiniões de influentes e/ou poderosas figuras do showbusiness sobre o artista. Uma frase me chamou atenção: "...Ele é insolente, arrogante, bonito, escreve canções pop perfeitas, com letras bobas e grandes refrões. Gostaria que existisse mais gente como ele." Esta frase (entre outras em destaque) é de Paul Watts, editor da "Q". Eu nem conhecia Mika, e sequer tenho idéia de quem seja Paul Watts. Perdoem-me os informadíssimos, mas fiquei a pensar sobre o que tinha lido.

Toda vez que leio uma matéria como esta sobre um novo artista de sucesso, subentendo nas entrelinhas que existe um enorme investimento financeiro em sua carreira. Não discuto nem o talento, nem o carisma, tão pouco o merecimento, mas penso...quem é que afinal de contas consegue "convencer" todo o resto de que este é o "cara"? A matéria cita que ele foi rejeitado inúmeras vezes por gravadoras e ouviu de um (atual) jurado do "American Idol" (que proferiu profeticamente), que ele tinha uma boa voz, mas que desistisse de procurar uma gravadora. Quem em algum momento da história dele (Mika) foi capaz de acreditar e fez a diferença? Exceto ele, quem e com qual poder? Porque fica claro para mim mais uma vez que todo grande sucesso é feito por muitos, muitos que podem fazer acontecer, mas que o artista parece ainda depender de um momento mágico. Há uma citação do próprio Mika revelando que queria ser uma dessas pessoas que cria um mundo de ilusão. Ilusão ou certeza?

Uma das certezas que tenho é que jamais suportaria que falassem assim de mim, mesmo que isso signifique para muitos na atualidade uma descrição de capacidade, de sucesso. Talvez nem ele próprio suporte, ou sequer dê importância. E fico com mais uma pergunta, o que é que importa mesmo? Até porque não estamos discutindo um universo particular de felicidade, comum nas campanhas de marketing deste século.

Uma certa vez ouvi de um músico amador, destes que dizem que tocam por prazer nas horas vagas, por opção, (pois só como arquiteto conseguia pagar suas contas do mês), e por acreditar que na música seria muito difícil fazer sucesso: "na música você precisa ter muita sorte. Sorte para estar no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas te ouvindo". É verdade. Se sorte pode ser explicada como oportunidade e preparo, para a maioria falta esta oportunidade, o tal momento mágico que precede os outros: o do artista diante de alguém com poder e que acredite em você como "a principal aposta". É realmente preciso talento e muita sorte.

Gostou? Então, leia a coluna anterior da Vânia:
  • Do invisível: a cantora faz perguntas e tenta achar respostas sobre a essência da música.


    Quem é a colunista: Vânia Abreu

    O que faz: é cantora.

    Pecado gastronômico: comida japonesa.

    Melhor lugar do Brasil: a própria casa.

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  • Atualizado em 6 Set 2011.