Guia da Semana

Fotos: Nathália Clark

Em 1780, entre cômodos e arredores de exuberantes construções parisienses, um universo repleto de desejo, traição e perversidade é retratado por meio das relações que permeiam integrantes da nobreza. Este é o contexto da peça Ligações Perigosas, dirigida por Mauro Baptista Vedia e protagonizada por Maria Fernanda Cândido, que vive a sua primeira vilã, a Marquesa de Merteuil. Ainda integram o elenco Marat Descartes, Sabrina Greve, Chris Couto, Laura Neiva, Clara Carvalho, Camila Czerkes, Ivan Capúa, Ricardo Monastero e Julio Machado.

Baseada no clássico da literatura francesa Les Liaisons Dangereuses, escrito por Choderlos de Laclos em 1792, a trama ganhou destaque em 1988, com o longa-metragem Ligações Perigosas, dirigido por Stephen Frears, que lançou Uma Thurman no papel da jovem Cécile. Também faziam parte do filme John Malkovich, Glenn Close e Michelle Pfeiffer. Na época, a produção foi indicada ao Oscar na categoria de melhor filme e melhor atriz, e venceu como melhor roteiro adaptado, melhor figurino e direção de arte. Já a peça foi escrita por Christopher Hampton em 1985.

Técnicas pós-modernas

Foto: João Caldas/ Divulgação

Maria Fernanda Cândido em cena de Ligações Perigosas

Na versão teatral brasileira, Vedia se valeu de uma encenação contemporânea para retratar o clássico de época. Por também ser cineasta, o diretor buscou inspirações em vários filmes para compor as cenas. "Gosto muito de trabalhar a ligação entre teatro e cinema. Utilizei uma vasta filmografia de referência, como Maria Antonieta, de Sofia Coppola, e Pulp Fiction e Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino. De certa maneira, fiz um movimento com a história do século 18 similar com o que é feito em Bastardos Inglórios", diz.

Segundo Vedia, apesar da história ser ambientada no século 18, ele teve cuidado em encená-la como uma peça escrita em 1985, que é o auge do teatro pós-moderno. "Não é uma recriação fiel da época. O texto é contemporâneo e diz muito sobre os tempos de hoje", afirma. No trabalho com atores, ele utiliza uma técnica de interpretação polifônica, em que se vale de uma certa assimetria proposital, e não uma homogeneidade de atuações. "Cada ator tem um certo tipo de jogo que não combina necessariamente de uma forma clássica com a do outro. Puxo o código de cada um".

Mosaico perverso

O enredo traz um jogo que mistura visceralidade, ambição e maldade. A peça gira em torno dos sentimentos e desejos da Marquesa de Merteuil (Maria Fernanda) e de seu ex-amante, o Visconde de Valmont (Marat Descartes). Na trama, a Marquesa pede que Valmont seduza a adolescente virgem Cécile (Laura Neiva), filha de sua prima, Madame de Volange (Chris Couto). Porém, a menina está prometida em casamento e tem ainda um outro pretendente, o jovem idealista Danceny (Ricardo Monastero). Como recompensa, a Marquesa oferece a Valmont uma noite de amor.

"A Marquesa é linda e rica, mas tem muitas feridas. Existe um vazio dentro dela muito grande. Ela mostra quanto uma pessoa pode corromper a essência da outra. São questões essencialmente humanas que não dependem do tempo", conta Maria Fernanda. Ela diz que foi um trabalho árduo e marcante, pois a sua personagem possui várias facetas. "Essa peça abriu um leque de possibilidades novas. Tive que estudar um vasto campo de sentimentos, como o ciúme, a inveja, a perversão, o egoísmo. Foi uma super oportunidade", diz.

Talento à prova

Foto: João Caldas/ Divulgação

Maria Fernanda e Laura Neiva

Além de marcar a estreia de Maria Fernanda como vilã, o espetáculo é a primeira experiência de Laura Neiva no teatro. A atriz de 17 anos ganhou destaque em 2009 como protagonista do filme À Deriva, de Heitor Dhalia. Depois de estrelar o longa ao lado de Cauã Reymond, Débora Bloch e do astro francês Vincent Cassel, a jovem andou pelo tapete vermelho do Festival de Cannes e foi capa de revistas francesas conceituadas, como a "Jalouse", em que foi considerada a diva do cinema brasileiro.

No entanto, a primeira experiência de Laura no teatro foi traumática, em uma peça da escola. "Foi um processo foi diferente. Era um papel que não entendia muito bem. Na hora da apresentação, me senti muito exposta e não tinha preparado um personagem", revela. Agora, a atriz diz que está mais confiante e tranquila. "Além dos meus amigos do elenco, que me deixam muito mais segura, tenho um pouco mais de experiência. Entendo mais meu personagem, li muita coisa e vi muitos filmes", completa.

Além de contar com esse elenco de peso, Ligações Perigosas traz uma grande produção, orçada em dois milhões de reais. A peça traz oito trocas de cenários, 30 figurinos de época feitos em Portugal por Maria Gonzaga, que tem em seu currículo trabalhos como os filmes A Casa dos Espíritos, baseado no livro de Isabel Allende, Cinco Dias, Cinco Noites, de José Fonseca e Costa, e O Judeu, de Jom Tob Azulay,

O espetáculo estreia em 23 de outubro e ficará em cartaz até abril de 2011, no Teatro Faap, em São Paulo.

Confira a resenha da peça

Atualizado em 10 Abr 2012.