Guia da Semana

Boy George reuniu famosos e nem tanto em sua recente visita ao Brasil


Veteranos do cenário pop-rock não se contentam mais em emular o passado de suas bandas em cima do palco, fazendo a alegria dos fãs ao mergulhar no túnel do tempo para ressuscitar antigos hits. A saída encontrada por alguns dos pesos pesados do passado recente tem sido se embrenhar pela cena eletrônica, fazendo as vezes de DJ. Nos últimos anos, uma boa leva dessas figuras aportaram no Brasil para agitar, ou pelo menos tentar, a noite das principais cidades do país.

Lembra de mim?

Escalado como uma das principais atrações do Motomix, evento realizado em 2006, o ex-baixista do New Order, Peter Hook, lançou mão de uma verdadeira salada mista em seu set. De Blur a Grace Jones, o veterano disparou clássicos que marcaram as últimas três décadas da música pop rock. Obviamente, não deixou os fãs nas mãos e evocou hinos não apenas do New Order, como também resgatou Love Will Tear Us Apart, maior hit do Joy Division, outro grupo de que fez parte.

Além de Hook, do New Order, quem também deu um tempo em outra importante banda dos anos 80 para se dedicar à discotecagem foi Andy Fletcher, do Depeche Mode, que se apresenta por aqui no final do mês. Produzindo o duo feminino de música eletrônica Client, o tecladista deu seus primeiros passos em direção a projetos envolvendo remixes e novos sets - pautados, claro, pela célebre batida da new wave e por ritmos como electro e house.

Farofa na pista

Saído da escuridão da década perdida, Daniel Ash é um dos últimos músicos-DJs a pisar em terras brasileiras. Após uma tarde de autógrafos em uma popular loja de discos de São Paulo, o cinqüentão encara as pick-ups de um descolado clube da cidade.

Ash: ex-Bauhaus e Love & Rockets
Ash integrou uma dos expoentes do movimento gótico dos anos 80, o Bauhaus, banda que ao lado de The Cure, Nick Cave And The Bad Seeds, Sisters Of Mercy e Siouxsie And The Banshees nortearam o futuro da música dark. Após um longo hiato, o grupo inglês retornou aos palcos em 1998 e 2005, mas a carreira do instrumentista sempre esteve voltada para projetos paralelos, como os conjuntos Love & Rockets e Tones On Tail.

Boy George, ex-líder do famigerado Culture Club, grupo que se tornou conhecido mundialmente com a canção Karma Chamaleon, deixou a androgenia e a breguice de lado ao discotecar para uma platéia de celebridades e quase celebridades em um dos clubes mais requintados da capital paulista.

Os punks também discotecam

Matlock emendou clássicos do punk
Remixar ou simplesmente trazer à baila canções que marcaram os tempos áureos de suas carreiras parece ser um ponto em comum entre os músicos que se arriscam nas pick-ups. Assim, sabendo que muitos dos que estavam na pista do Clash Club, em São Paulo, eram mais fãs do pesado Never Mind The Bullocks, álbum que catapultou a carreira dos Sex Pistols , Glen Matlock não perdoou e desceu logo um dos maiores dínamos de sua ex-banda, God Save The Queen, entre outros petardos punks.

Punks, aliás, costumam se enamorar das pick-ups sem muita resistência. Marky Ramone não hesitou ao escolher os melhores vinis de sua coleção para discotecar no clube Vegas, também em São Paulo. Tocando com um tanto de dificuldade sucesso após sucesso de sua ex-banda e de outras referências do movimento punk, o baterista nova-iorquino pareceu agradar apenas aos seguidores do Ramones, mais interessados em cultuar sua imagem e história do que em curtir o som.

Currículo duvidoso

Fica a dúvida, entretanto, se a habilidade de bateristas, baixistas, vocalistas ou músicos de qualquer espécie, íntimos de instrumentos tradicionais, deixam ou não a desejar quando assumem as pick-ups. Aproveitar-se do nome e história atrelados a um passado muitas vezes distante para atrair um público fiel, ainda que muitas vezes avesso às pistas, parece ser uma estratégia esperta dos donos de balada, afinal, é mais barato trazer um rockstar decadente do que investir em um DJ internacional de renome.

Discotecar, aliás, tem se tornado uma atividade cada vez mais carne de vaca. De apresentador de televisão a pseudo-celebridade, passando por crítico musical e estilista hype, muitos espertalhões que não tem a mínima noção de como se manipula os velhos bolachões tem se arriscado em clubes de renome. Os mais caras-de-pau não sentem a menor vergonha ao passar para mídias virgens as canções armazenadas em seus computadores pessoais, apostando ainda em hits mais do que repisados para animar o ambiente.

Obviamente, nem todo músico é um péssimo DJ, mas infelizmente para muitos aventureiros, anos de experiência diante de uma grande banda ou técnica de sobra não são suficientes para domar as pick-ups.

Depois de integrar o Joy Division e o New Order, Hook se apresenta como DJ


Atualizado em 6 Set 2011.