Guia da Semana

Foto: Photocase.de


Lembro certa vez que, assistindo a um programa de TV, uma modelo-atriz-apresentadora que acabara de posar nua para uma revista, quando questionada sobre a luxúria, disse que ia aproveitar seu cachê para usufruir de muito luxo e comprar sapatos, bolsas, fazer viagens e outras coisas mais que o dinheiro iria lhe proporcionar. Tinha tanta convicção do que estava falando que a entrevistadora nem questionava suas palavras, apenas continha a gargalhada.

Acabara de chegar do feriado prolongado - e óbvio - não poderia associar outro pecado capital que não esse à maior manifestação cultural genuinamente brasileira, também chamada de Carnaval.

Segundo a Doutrina Católica, a luxúria consiste no apego aos prazeres carnais, corrupção de costumes, sexualidade extrema, lascívia e sensualidade, servindo de "porta" para levar a outros pecados. Como diria minha tia: "Nossa Senhora, tudo isso?". Tudo isso e muito mais, eu responderia. Não aqui cabe questionar essa corrente teórica, afinal não quero causar problemas com a Igreja. E muito menos com a minha mãe. Mas, o mais engraçado (ou irônico) é pensar que o carnaval é uma manifestação do cristianismo da Idade Média.

Associação feita, vamos aos "finalmentes". Pelo quarto ano consecutivo, fui para a cidade que, me perdoem as outras, respira Carnaval o ano inteiro: o Rio de Janeiro. Gostar de Carnaval significa assistir aos desfiles, acompanhar os blocos de rua, esquecer o ridículo e usar uma fantasia de mosquito da dengue e claro, conhecer e porque não um outro alguém ou vários "alguens" (dependendo do seu nível de luxúria) pra dividir a folia. E vamos combinar que a festa é absolutamente sensual, principalmente se tratando do Rio de Janeiro que, entre um bloco e outro, você pode dar aquela "gratinada" na praia com corpos seminus. Ou seja, há libido por todos os lados, com ou sem fantasia.

A criatividade das pessoas é sem limite. Eu citei a fantasia do mosquito da dengue, só pra não cair no chavão do Arlequim e Colombina, mas vi, por exemplo, uma menina "vestida" de Paula Oliveira (a moça que supostamente se cortou inteira pra ganhar indenização na Suíça) e um cara usando terno naquele calor infernal com uma placa: Atrás do bloco só ao vai quem já morreu! Sérgio Naya. Isso é formidável

Agora, nada melhor que os nomes dos blocos de rua, só pra mencionar alguns: "Que merda é essa?" "Me beija que eu sou cineasta", "Imprensa que eu gamo", "Bagunça meu coreto", "Xupa, mas não baba", "Vem in mim que eu sou facinha", "Se me der, eu como!". A diversão já é garantida por si só.

Como é sempre bom recorrer a uma pesquisa na net para definições, a Wikipédia define a luxúria como um desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. Ainda acredito na liberdade das pessoas, sem nenhuma doutrina pra regrar sua vida, seu desejos, suas vontades, com consciência e respeito por si mesmo, sem querer novamente deixar frases de auto-ajuda, estou desejando assim, como todo mundo, é ser feliz. E as cores e a alegria do Carnaval me proporcionam isso. No meu mp3 player ainda persiste a voz do Chico cantando: Vai passar, nessa avenida um samba po-pu-lar...

Leia as colunas anteriores de Guilherme Gonzales:

"O preguiçoso é um relógio sem corda"

"Eu me esforço para ser invejado, não para invejar"

Todos queria ser a Amy

Quem é o colunista: Guilherme Gonzalez.

O que faz: Paraense, radicado em São Paulo, Guilherme Gonzalez é uma mistura de ator e produtor cultural. É um dos fundadores da Cia. Teatro de Janela.

Pecado gastronômico: Sorvete de tapioca.

Melhor lugar do Brasil: Praia do Amor em Pipa (RN) bem acompanhado.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 10 Abr 2012.