Guia da Semana


Hoje faz exatamente um ano que recebi a notícia que eu sabia que um dia chegaria, mas que veio cedo demais. Foi difícil acreditar no começo. De repente, uma a uma, todas as emissoras de TV, rádio, sites... Todos pararam o que quer que fizessem para falar de você. Programas de esporte foram interrompidos, pautas de telejornais caíram e você ganhava os holofotes de novo.

Fiquei confuso, olhando para a TV, as imagens do hospital, da mansão, onde você morou, algumas imagens vazadas de seus ensaios em Los Angeles... Meu telefone não parava de tocar - gente que eu nem lembrava que tinha meu número. E a pergunta era sempre a mesma. Queriam saber de você. Queriam saber algo sobre o qual eu jamais quis falar.


Você foi homenageado várias vezes. Claro, um monte de gente dançou como você e os mortos-vivos. Fizeram um disco novo com uma canção inédita sua. Inclusive, vários vídeos que tocam a canção de trás para frente juram que ela é uma mensagem codificada, e que você na verdade ainda está entre a gente. Eu queria que isso fosse verdade.


Não importava quão mal os tablóides falavam de você. Era você, e sabê-lo ali nos dava uma esperança de que um dia, talvez, fôssemos acabar com as músicas ruins, o pop vazio; revolucionaríamos mais uma vez os videoclipes, os shows; poderíamos curar o mundo, salvar as crianças. De um ano para cá, ficou mais difícil manter essa fé.


Depois de um tempo, fizeram um acordo, ganharam mais dinheiro em cima de você e lançaram um filme: você ensaiava, cantava, dançava, orientava os músicos, os dançarinos. Foi engraçado (um pouco vingativo, concordo) ver tanta gente que falava mal de você se curvar, finalmente, ao seu talento, Fazer fila para comprar um ingresso. Melhor que isso, só vê-lo ao vivo. Infelizmente, é o mais próximo que podemos chegar de você agora.


Curioso é que, depois de 50 anos lutando contra tantas coisas pequenas, de fato, parece que finalmente entenderam sua mensagem: ninguém mais liga se você é preto ou branco, se a criança é ou não seu filho ou se você foi mesmo muito cedo. Para nós, você jamais foi. E jamais irá. Onde quer que você esteja, sei que agora, apesar dos medos e dores, você sorri.

Leia as colunas anteriores de Rafael Gonçalves:

Reality de verdade

De novo, somos o mundo

Pé na roça

Quem é o colunista: Jornalista, músico e só usa meias brancas e calçados pretos, igual ao Michael Jackson.

O que faz: Jornalista, compositor, violonista e cantor.

Pecado gastronômico: Chocolates, churrasco (feito por mim) e molho de alho caseiro da vó!

Melhor lugar do Brasil: Qualquer um que comporte a equação praia +violão + amigos.

O que ele ouve no carro, em casa e no IPod: Um pouco de tudo e de tudo um pouco.

Fale com ele: [email protected] acesse o site da sua banda!

Atualizado em 6 Set 2011.