Guia da Semana

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"Ler é melhor do que ir ao cinema, viajar ou usar porcarias que tiram o sujeito do sério. Pensando bem, ler é a segunda melhor coisa do mundo. A primeira é escrever. A que você está pensando é hors-concours." O novo resultado de tamanha devoção à escrita do jornalista e escritor mineiro Ruy Castro já pode ser conferido pelo público.

Autor de biografias de sucesso como Estrela Solitária: Um Brasileiro Chamado Garrincha e a recente Carmen: Uma Biografia, sobre a vida de Carmen Miranda, Castro acaba de lançar o livro Tempestade de Ritmos - Jazz e Música Popular no Século XX, uma coletânea de 58 textos publicados na imprensa sobre o mundo do jazz e da música popular.

Celebrando 40 anos de atividade na imprensa, o autor não pretende parar tão cedo. Além de Tempestade de Ritmos, o autor está trabalhando em um novo romance, com lançamento previsto para o final do ano. Em entrevista ao Guia da Semana, ele fala sobre a carreira, música e revela "Não gosto de pancadaria tipo rock, nem de ´xaropices´ tipo Roberto Carlos" . Confira!

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Guia da Semana: Como foi a passagem da carreira de jornalista para a de escritor?
Ruy Castro: Não foi uma coisa planejada. Houve um momento, por volta de 1988, em que precisei me expandir mais. Comecei a ter umas idéias que não cabiam mais no espaço dos jornais e revistas - exigiam um livro inteiro, como a história da Bossa Nova ou a vida do Nelson Rodrigues. Mas nunca deixei exatamente de ser jornalista, continuo colaborando na imprensa.

Guia da Semana: Seu primeiro artigo assinado como jornalista foi sobre música. Lembra sobre o que era a matéria?

Ruy Castro: Claro. Era sobre os 30 anos da morte do Noel Rosa, que estavam sendo comemorados naquele dia. Na introdução de Tempestade de Ritmos há uma reprodução da página do Correio da Manhã contendo esse artigo, publicado há 40 anos. Mas parece que foi ontem!

Guia da Semana: Quais são suas primeiras lembranças quando o assunto é música?

Ruy Castro: Ouço música desde que nasci. Meu pai gostava de tocar violão e cantar, e tanto ele como minha mãe tinham centenas de discos de todos os estilos. Meu pai era boêmio, morava na Lapa, no Rio, e freqüentava estações de rádio. Dizia que tinha conhecido Carmen Miranda e Mario Reis. Eu próprio, desde que comecei a trabalhar em jornal, aos 19 anos, me dediquei muito à música e conheci todo mundo. Fiquei até amigo de alguns, como do Tom Jobim e do cantor americano Bobby Short.

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Guia da Semana: Depois de tanto sucesso com as biografias, porque que resolveu escrever um livro sobre o universo musical?

Ruy Castro:Bem, de alguma forma, grande parte dos outros livros também era ligado à musica. Antes de Tempestade de Ritmos, já publiquei Chega de Saudade (1990), A Onda que se Ergueu no Mar (2001) e Rio Bossa Nova (2006), todos sobre a Bossa Nova, além de Carmen - Uma Biografia (2005), sobre Carmen Miranda. A música é um dos meus principais interesses e tenho passado a vida escrevendo sobre o assunto em jornais e revistas.

Guia da Semana: Como foi feita a seleção dos textos? De que maneira eles foram organizados?

Ruy Castro: Os textos foram selecionados pela Heloisa Seixas com base na qualidade dos artigos. Segundo ela, é mais importante um bom texto sobre um artista "menor" do que um texto medíocre sobre um artista "maior". Mas não há artistas "menores" neste livro. Alguns podem não ser tão famosos, mas são todos maravilhosos.

Guia da Semana: Que tipo de música mais o agrada hoje? Quais são os seus cantores preferidos?

Ruy Castro: Gosto de quase toda espécie de música, desde que contenha melodia, harmonia, ritmo e letras inteligentes. Ouço muita música brasileira e americana dos anos 30 e 40 - e isso não é saudosismo, porque eu nem era nascido naquele tempo. Não gosto de pancadaria tipo rock, nem de "xaropice"s tipo Roberto Carlos. Quanto aos cantores favoritos, em cada época tenho um. Nesse momento, é o Marcos Sacramento, para mim o melhor cantor brasileiro da atualidade.

Guia da Semana: Nestes 40 anos de imprensa, tem alguém que gostaria de ter entrevistado ou alguma matéria que gostaria de ter feito e ficou para trás?

Ruy Castro: Não. Como disse, tive - e tenho - o privilégio de conhecer ou conviver com centenas de pessoas que admirei e admiro. Mas não lamento pelo que deixei de fazer. Se não fiz, é porque ainda não era a hora - e ela vai chegar.

Foto: Márcio Scavone

Guia da Semana: As biografias foram definitivamente abandonadas?

Ruy Castro: Não diria que foram definitivamente abandonadas, mas quero dar um tempo - além disso, não tenho nenhum nome em vista.

Guia da Semana: Com tantas histórias, pensa em escrever uma autobiografia?

Ruy Castro: Jamais escreveria uma. Em compensação, minha mulher, Heloisa Seixas, vai publicar um livro a meu respeito em um projeto intitulado Álbum de Retratos, que já começou a rolar aqui no Rio. O livro sobre mim vai sair em fins do ano que vem.

Atualizado em 6 Set 2011.