Guia da Semana

Divulgação
Cena do filme História Sem Fim
Há dias em que queremos a qualquer custo provocar, através das palavras, algum tipo de impacto em alguém ou até em nós mesmos. Procurar frases pra colocar no msn ou no orkut é quase terapêutico, funciona até como marketing pessoal. Particularmente, gosto de quem as usa para se definir. Na verdade adoro ler frases, de artistas, compositores, anônimos, pensadores.

Confesso que uma das minhas diversões é ler as que estão em banheiros de bar, do mais sofisticado aos mais chinfrins. Desconsiderando os xingamentos e propagandas sexuais, você encontra cada pérola. Experimente ler qualquer dia.

Frases no pára-choque de caminhão então, é um clássico. Quase todas são de um humor peculiar. No entanto, vi uma outro dia que me chamou atenção: "Sonhar é sair pela janela da liberdade".

Eu sou um sonhador nato, sempre fui. Poderia citar muitas frases sobre essa arte que é sonhar. Mas prefiro esta porque me fez associar outras coisas. Vi esse caminhão pela janela do ônibus a caminho do aeroporto, tirei da mochila uma caneta e antes que a esquecesse, escrevi na minha agenda. Poucos minutos depois, dentro do avião pedi um fone de ouvido e coloquei no canal de trilhas sonoras. No momento exato da decolagem tocou uma música que é cara da minha infância: "The Nevereding Story" do filme A História sem Fim.

Aquilo foi um pulo para que eu viajasse. Voando dentro de uma máquina branca em cima da cidade não teve como não lembrar quantas vezes sonhei ser aquele garoto que voava com aquele cachorro branco pra salvar o reino de fantasia.

Independente da idade, sonhar é única forma de não se limitar aos limites. Às vezes a vida está tão difícil, os problemas são tantos que a única solução imediata é embarcar num mundo de fantasia. Óbvio que isso não vai acabar com eles, mas essa fuga ajuda a viver, ah, e como ajuda.

Numa fila qualquer, quando estou em algum lugar que não queria estar eu resolvo de uma maneira prática: sonho acordado. Volta e meia, tem um amigo que sempre que me vê extrapolar fala: - "Ei, volta pra casinha!".

Conversando com meu diretor outro dia, ficamos falando das nossas vidas. Ele me contou da infância difícil que teve e me disse que não guardava traumas, tudo pra ele era resolvido com a fantasia, enquanto saía com a mãe pra vender laranjas ele transformava as cascas em brinquedo e aquilo o ajudava a ainda ser uma criança.

Um bom livro me força a fantasiar, um dos grandes prazeres pra mim é imaginar aqueles personagens vivendo aquela história, crio na minha cabeça a imagem deles, como é o cabelo, a altura, a cor dos olhos. Adoro quando um livro que gosto muito vira um filme ou uma peça de teatro. Alguns me decepcionam, mas normalmente até me surpreendo.

Recentemente, comecei a escrever contos e enquanto procuro um estilo de escrita uma coisa é indispensável pra mim: o detalhe. Da respiração ao silêncio eu tento transportar o leitor pra minha viagem.

O Teatro é um ótimo agente transformador do sonho em realidade. Já falei isso uma vez, peça boa pra mim é aquela que me força a sair do meu mundo e embarcar naquele em que estou vendo, gosto de me sentir próximo daquela história, por isso que é importante acreditar na verdade do que se propõe discutir em cena. Por mais esdrúxula que possa ser, é importante levar o espectador a seguir na nossa fantasia. Pegar em suas mãos e levar para esse novo universo.

Vou aproveitar agora minha "chata" estadia no Recife e vou à praia. Olhar o mar é uma ótima forma de sonhar acordado. Bons sonhos. Até a próxima.

Quem é o colunista: Guilherme Gonzalez.

O que faz: Paraense, radicado em São Paulo, Guilherme Gonzalez é uma mistura de ator e produtor cultural. É um dos fundadores da Cia. Teatro de Janela.

Pecado gastronômico: Sorvete de tapioca.

Melhor lugar do Brasil: Praia do Amor em Pipa (RN) bem acompanhado.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.