Guia da Semana

Foto: sxc.hu


Luzes, câmera, ação! Quem não conhece o velho grito de guerra que inicia as operações nos sets de gravação da vida? Quando a claquete soa o ruído disparado pelo encontro de suas lâminas, é dada a largada para o início das atividades: atores a postos, cenário em ordem, iluminação adequada e um último detalhe que faz a diferença... Conhecidos pelo anonimato de integrar multidões, os figurantes não roubam a cena mas ocupam boa parte dela. Com papéis de visibilidade quase irrisória, os operários do mundo artístico se portam praticamente como seres coletivos. Mas o que seria dos comercias, novelas, filmes e afins sem eles?

Contrariando o mito de que esses pseudo personagens, na maioria das vezes, entram mudos e saem calados, no ano de 2006, em uma iniciativa ousada, uma propaganda de cerveja deu voz a mais de 500 secundários que gritavam incessantemente por 36 vezes o bordão experimenta que, apesar de gerar polêmica, teve bastante repercussão pelo tom imperativo da expressão, caindo literalmente na boca do povo. Difícil seria imaginar a mesma produção sem um coro fizesse ecoar a mensagem com tamanha incidência.

Especialista em casting, a produtora da agência Dois Tons, Vanessa Mandarino, explica que o corpo da figuração compõe e desenha a cena, protagonizada pelos atores. "A atuação deles é indispensável para grandes e pequenas produções porque aproxima a produção da realidade", relata a produtora. Ela acrescenta que dificilmente esse tipo de trabalho é contratado para peças teatrais porque, nesses casos, os elencos têm participações mais ativas. "O teatro é um espetáculo com personagens específicos, diferente de filmes e comercias de TV", analisa.

Quase personagens
Eles podem ser magros, gordos, jovens, velhos, de várias etnias. Segundo Rodrigo Amatuzzi, produtor de elenco da agência Sagarana, existe demanda para todos os biotipos. "As produções se aproximam cada vez mais da cara do povo. Portanto, tem espaço para todos", diz.

Inserida nesse universo por acaso, a estudante Fabiana Siqueira se recorda de suas primeiras participações. "Fui estimulada por uma amiga: sabendo que eu estava fazendo faculdade de jornalismo, ela me indicou para fazer figuração na TV Record achando que isso poderia me ajudar na carreira. Desde então estou nessa vida", relata.

Apesar de escapar da decoração de scripts e ensaio de performances, a rotina dos figurantes não é fácil. Os horários das gravações nem sempre são favoráveis e, muitas vezes, a classe passa por situações incômodas e constrangedoras. Acostumada com esse ritmo há quase três anos, Fabiana diz que encontra prazer nas atividades que lhe engordam a renda com no mínimo R$ 300 mensais, valor variável de acordo com as participações cujos cachês vão de R$50 a R$200. Mesmo gostando do que faz, a estudante revela as dificuldades de ser um operário do mundo artístico: "Por ocasiões, tenho que acordar às quatro da manhã para fazer trabalhos. Outras vezes, passo a madrugada em claro. Gravar sob o sol escaldante, ficar sem comer também ou ser convocado e não entrar em cena são coisas que acontecem com freqüência", diz.

De amadores a profissionais
Para alguns figurantes, a aspiração de se tornar ator vem com o exercício das gravações. Rodrigo Amatuzzi acredita que o melhor caminho é fazer um curso profissionalizante para adquirir o DRT - sigla da Delegacia Regional do Trabalho. Por esse motivo, ele atua no sentido de preparar as pessoas para o mercado. "A partir do momento em que você adquire a carteira profissional o valor dos cachês aumenta e os percalços do ofício ganham dimensões bem menores", explica.

Muitos nomes conhecidos no âmbito nacional e internacional já passaram pelo estágio de operários do mundo artístico. Um exemplo disso é a atriz Luana Piovanni que, antes de estrelar na TV, já fazia algumas aparições em campanhas publicitárias e até mesmo em produções globais, como a novela Top Model.

Conheça algumas agências que trabalham com recrutamento de figurantes:

www.doistons.com.br

www.agenciatobias.com.br

www.agenciasagarana.com.br

CURIOSIDADES
?O espetáculo Paixão de Cristo que é interpretado religiosamente no feriado de sexta-feira da paixão em várias capitais do país, todos os anos, reúne centenas de figurantes, reproduzindo a história milenar da trajetória do Messias na terra.

?O filme que usou maior número de figurantes em toda a história do cinema foi Gandhi, 1982, de Richard Attenborough. No total, eram mais de 300.000 secundários em cena.


Atualizado em 10 Abr 2012.