Guia da Semana

Jericoacoara, Olinda, Floresta Amazônica, Gramado, Ouro Preto, Rio de Janeiro, Salvador e muitas outras maravilhas do nosso país servem de cenário para a estreia do cinema brasileiro na cobiçada tecnologia tridimensional. Brasil Animado mistura imagens reais e animação feita do modo mais tradicional possível: à mão.

O filme conta a saga de Stress e Relax, que cruzam o território tupiniquim de norte a sul em busca do Grande Jequitibá Rosa. Enquanto o estressado empresário vislumbra a possibilidade de enriquecer com a árvore mais antiga do país, seu companheiro só pensa em se divertir e aproveitar as paisagens paradisíacas.

A diretora Mariana Caltabiano investiu na dupla de personagens já conhecida pela criançada em As Aventuras de Gui e Stopa, transformado em série para o Cartoon Network. Trilhando o mesmo caminho, Brasil Animado também integrará a programação do canal por assinatura e da TV Globo, depois de sair de cartaz dos cinemas.

Com um orçamento relativamente baixo (R$ 3 milhões) os efeitos especiais clássicos de um 3D são substituídos pelo humor, celebridades em desenho e canções interpretadas por Simoninha, com composição de Ed Motta. Em entrevista ao Guia da Semana, a diretora Mariana Caltabiano conta detalhes da produção e as principais dificuldades, confira!

Foto: Divulgação

Com 38 anos, Mariana Caltabiano dirige sua primeira produção cinematográfica

Guia da Semana: Como foi feita a captação das imagens em 3D para Brasil Animado?
Mariana Caltabiano: Fizemos com duas câmeras e um RIG, equipamento que as sustenta e tem um jogo de espelhos dentro. Uma câmera fica apontada para baixo e outra para frente, como se fosse o olho direito e o esquerdo do espectador. Com esse jogo de espelhos, assim que fazíamos uma cena, eu já conseguia ver no próprio monitor do set como as imagens iriam se comportar depois na tela do cinema. Ou seja, o RIG faz a simulação na hora do 3D.

Guia da Semana: Quais foram as principais dificuldades na produção do filme?
Mariana Caltabiano: O aumento do tempo de filmagem, porque para cada cena exige um cálculo do que vai estar mais próximo e do que vai estar mais distante da câmera. Surgiu então uma nova função no cinema, o estereógrafo, que é quem faz esses milhares de cálculos para o 3D. Com base nisso, as câmeras são ajustadas. Elas têm que estar bem alinhadas e, se tiver uma pequena diferença entre as duas tem que refazer a cena, é um trabalho que exige muita precisão. Fora isso, a animaçãom que é um trabalho de maluco! Fizemos uma média de 12 desenhos por segundo de animação.

Guia da Semana: Toda a animação é feita à mão. Por que a escolha do estilo?
Mariana Caltabiano: Eu já tinha o estúdio, minha equipe já tinha produzido o Gui Sopa e a Natureza para o Cartoon Network e é uma linguagem que eu pessoalmente gosto muito. Ela é muito colorida, são os desenhos que eu cresci vendo e, por coincidência, meus filhos hoje em dia também veem e curtem animações tradicionais, como Simpsons e Bob Esponja.

Foto: Divulgação

Brasil Animado mescla cenas live-action com animação

Guia da Semana: Como surgiu a ideia de misturar desenhos e imagens reais?
Mariana Caltabiano: Do outro projeto que fiz, o Gui Stopa e a Natureza. A ideia surgiu de um encontro com o cinegrafista Laurence Whabba. Eu gostava muito do trabalho dele e fiquei imaginando que seria interessante falar dos bichos para as crianças misturando imagens reais com animação. E o resultado deu muito certo, o pessoal gostou muito, tanto no Cartoon quanto no Projeto Escola do Cinemark, onde tivemos um público muito bacana. Aí pensei que o Brasil Animado poderia ser uma evolução disso. O Stress e o Relax nasceram na primeira série, As Aventuras de Gui e Stopa. Na segunda, Gui Stopa e a Natureza, pude experimentar essa linguagem de misturar ao vivo com animação e, no Brasil Animado trabalhei com esses dois personagens que já estavam bem resolvidos na minha cabeça.

Guia da Semana: Qual público o Brasil Animado pretende atingir?
Mariana Caltabiano: É um filme para toda família, o texto tem bastante piada para os adultos, que é um caminho que as animações internacionais veem seguindo. Pode ser que uma criança pequena não entenda alguma coisa do texto, mas ela fica ligada nas cores, nos desenhos, nas músicas...

Guia da Semana: Por que decidiu retratar as belezas do Brasil nessa primeira animação 3D?
Mariana Caltabiano: Fico pensando que poucos países no mundo são como o Brasil, que é como vários países dentro de um só. Imagino a reação de alguém de fora e até brasileiros mesmos. Já tinha morado no exterior e me dei conta de que não conhecia lugares incríveis dentro do meu próprio país, nunca tinha ido à Amazônia ou Foz do Iguaçu, por exemplo, e fiquei de queixo caído quando fui. A ideia é mostrar o que a gente tem e calhou de ser em um momento que o Brasil está com tudo.

Foto: Divulgação

Stress se mete em engraçadas confusões na Floresta Amazônica

Guia da Semana: Aparecem no filme personalidades como Fernando Meirelles e Gisele Bündchen. A ideia é frisar essa imagem positiva do país?
Mariana Caltabiano: Exatamente, peguei pessoas que admiro e que não se deixaram intimidar com a concorrência lá fora, que conquistaram coisas importantes e é mais ou menos o que gostaria de fazer também no Brasil Animado.

Guia da Semana: Há pretensão de exibi-lo no exterior?
Mariana Caltabiano: Sim, ele vai para o Festival de Berlim e para o Annecy, o mais importante Festival de Animação.

Guia da Semana: Os longas-metragens brasileiros mais conhecidos no exterior, como Cidade de Deus, retratam o país com uma visão bem diferente de Brasil Animado. O que acha disso?
Mariana Caltabiano: Acho importante ter as duas visões, mostrar esse lado violento, mas acho importante também mostrar o lado alegre e animado do Brasil, a gente precisa disso para seguir em frente. E o que eu via mais era esse lado da pobreza e violência, que é uma imagem que o pessoal de fora tem da gente. Eu queria dizer "opa, peraí, não é só isso, tem muita coisa aqui que vocês não sabem". E a gente também não é só futebol e Carnaval.

Fotos: Divulgação

Atualizado em 6 Set 2011.