Guia da Semana

De Los Angeles

Muito antes de ser um filme, Spiderwick foi idealizado pelo ilustrador Toni DiTerlizzi e ganhou as páginas de livros com a ajuda de Holly Black. O Guia da Semana conversou com a dupla extremamente orgulhosa em ver seu mundo ganhar as telas e, em breve, continuação na literatura. Confira a entrevista exclusiva!

Fábio Barreto: Quantos filmes vocês esperam fazer para Spiderwick?
Holly Black:
Primeiro vamos deixar esse filme cumprir sua tarefa. Depois, a gente cruza os dedos e vê o que acontece.

Toni DiTerlizzi: Eu sou aquele tipo de cara que gosta de coisas contidas, definidas. Por exemplo, saber que vamos fazer uma trilogia ou quatro filmes ajudaria, mas algo sem perspectiva de conclusão soa um pouco esquisito.

Afinal, de onde veio Spiderwick?
Toni DiTerlizzi:
É uma grande mistura de Dungeons & Dragons, Labirinto e vários filmes e livros ligados à fantasia. Aí criei esse Guia de Campo sobre dragões, trolls, goblins e outras criaturas. Eu deixei isso de lado, mas toda vez que mostrava para alguém ouvia algo do tipo: nossa, ninguém nunca fez nada assim. E eu fiquei surpreso. E, como eu estava fazendo desenhos para os livros de D&D no final dos anos 90 e a Holly veio me entrevistar, eu mostrei isso a ela. E, como ela conhecia o folclore, nasceu a parceria.

Holly Black: Nesse momento começamos a conversar sobre a história de fundo de tudo isso, afinal, precisamos ter toda a base para não parecer uma bobagem qualquer. Eu escrevia várias partes, mandava para o Toni e ele respondia: isso não, isso pode melhorar, isso também não.

Toni DiTerlizzi: Mas essa parte aqui, que eu inventei, está ótima! Vamos mantê-la. Foi tudo muito em conjunto mesmo.

Holly Black: No filme, foi a mesma coisa, mas, pelo menos, está no contrato que eles têm que ouvir a gente quando vetamos ou mudamos algo. Viva o contrato!

E isso é comum?
Toni DiTerlizzi:
Na verdade, é bastante único, pois, normalmente, autor e ilustrador tendem a trabalhar completamente isolados um do outro. Na maioria das vezes, o autor escreve o texto e é o editor quem encontra um ilustrador para concluir o trabalho. Eu mesmo ilustrei muita coisa sem nunca conhecer os autores.

Holly Black: Trabalhar em conjunto ajuda muito, pois cada um tem uma idéia e normalmente é a terceira coisa que surge dessas duas idéias que acaba indo para o livro. Foi muito bom fazer assim.

E agora existe mesmo uma terceira coisa: o filme. Estão felizes com o resultado?
Toni DiTerlizzi:
Nossa! Ficou fantástico! Em alguns pontos, até melhor! Tem alguns diálogos do roteiro que eu vi e fiquei me remoendo: Droga, por que não pensei nisso antes? Quando Arthur diz: "você leu o livro, agora você é o livro". Essa me deixou perturbado, pois ficou tão bom e teria ficado fabuloso no livro. É poético, sabe. Sentei com o diretor e os produtores e expliquei para eles que sabia que o livro seria mudado, na verdade, eles tinham que mudar, pois a mera transposição das mídias seria um erro. Até por isso eu e Holly participamos do projeto e não fomos excluídos como acontece freqüentemente com outros autores. Acabamos ajudando a chegar numa solução boa para ambos os formatos e também para os fãs. Era só não se esquecer do espírito e do visual, que deu toda a fama ao livro. Tendo isso em mente, é só cada um fazer o seu trabalho e tudo termina bem.

Holly Black: Uma das coisas com que tínhamos preocupação era a natureza orgânica das fadas, quer dizer, deixar aquela sensação de que elas são elementos da natureza e que podem efetivamente ser encontradas se você olhar direito ou se elas permitirem, claro. Respeitar o folclore e as leis desse universo era muito importante. Mas todo mundo entendeu isso muito rápido.

E como afetou vocês todo esse barulho envolvendo o filme?
Toni DiTerlizzi:
Bem, estamos muito felizes e já temos algumas histórias a mais para contar. Fizemos um painel de divulgação na Comic-Con do ano passado e acabamos sendo a "coisa amena" entre Indiana Jones 4 e Cloverfield - ficamos bem entre esses dois eventos. Foi emocionante apresentar o filme ao lado de Phil Tippet [responsável pelas criaturas de Star Wars, por ter coordenado todas as miniaturas, incluindo os AT-AT], por exemplo. Depois falaram que a atriz Sarah Bolger estava escalada para o elenco e eu surtei. Bem, foi pior quando ligaram para avisar do Nick Nolte. Eu estava esperando alguém dizer: Pegadinha! É tudo mentira!

E novos livros?
Toni DiTerlizzi:
Estamos trabalhando em mais três livros, um deles será lançado no final do ano: Beyond the Spiderwick Chronicles. A história se passa na Flórida, Jared vira uma espécie de mentor, pois ele tem todo o conhecimento do livro, mas sabemos que ele não é a pessoa mais calma do mundo e desenvolvemos bastante isso. Muitas vezes ele acha melhor "ensinar" na marra e constantemente pensa "vou socar esse cara, se ele não aprender". (risos)

Holly Black: Ele é um péssimo mentor! Vamos trabalhar mais criaturas da água também.

Aliás, vocês trabalham muito a noção de que é necessário respeitar as regras e que contato com a natureza é relevante. Foi proposital?
Holly Black:
Respeitar o mundo das fadas é fundamental na história, assim como confiar nos instintos e em nosso discernimento. É isso que leva os personagens a resolverem seus problemas nesse filme, as escolhas deles. Ninguém tem superpoderes e é aí que a interação entre os dois mundos acontece. No fundo, as fadas foram transformadas em seres pequeninos e bonitinhos porque muita gente tinha e tem medo do sobrenatural. Tem muita coisa assustadora envolvendo esse mundo e, sem dúvida, muito acontece além dos nossos cinco sentidos. O livro em si não é mágico, na verdade, a grande mágica de Spiderwick é o conhecimento e ele está ao nosso alcance, é isso que tentamos mostrar bastante.

Você acredita em fadas, Holly?
Holly Black:
Não que eu acredite na fada que todo mundo imagina, mas tenho certeza de que algo acontece muito além. Mas há tantas histórias e relatos, especialmente vindos da Irlanda, que não é possível simplesmente ignorar. Existe um sujeito que construiu uma casa e, de repente, tudo tremia como se fosse um terremoto, mas não havia nada. Alguém contou que ele havia construído uma casa num "caminho de fadas", na verdade, só um cantinho dela. O sujeito não teve dúvidas, cortou esse canto - literalmente, eu vi a casa - e ela parou de tremer. Entretanto você ainda pode sentir um vento muito forte passando naquele canto uma vez por semana!


Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

Atualizado em 6 Set 2011.