Guia da Semana

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Reciclar clichês no cinema nem sempre é algo que traz sucesso e qualidade. As apostas são sempre arriscadas e, com um tema tão retratado e batido como o amor, os filmes de romance são, acredito eu, os que mais sofrem deste problema. Deu certo com Diário de uma Paixão (o amor que resistiu ao tempo), As Pontes de Madison (o romance impossível), O Amor Não Tira Férias (desilusão e fuga que resultam em uma nova chance), PS: Eu Te Amo (separados pela morte) ou A Proposta (personagens que descobrem que amor e ódio caminham lado a lado). São inúmeros os exemplos e, para alegria dos fãs do gênero, um novo membro surge nesta nova safra de filmes de amor que farão sonhar as moças (e moços, por que não?) mais românticos.

Em 1996, acompanhamos a vida de Jamie Randall (Jake Gyllenhaal), um jovem charmoso, extrovertido e extremamente bem-sucedido quando se trata de mulheres. Conquistador inveterado, personifica o tipo de homem que muitos adoram, as mulheres amam e os homens odeiam (ou invejam). Com o dom de conseguir levar para a cama qualquer mulher que cruze seu caminho e lhe faça atiçar a testosterona, Jamie possui um histórico sexual incalculável.


Após ser demitido de um emprego em uma loja, ele se embrenha na indústria farmacêutica e se torna representante da Pfizer, famosa empresa do ramo. Em princípio, precisa enfrentar o concorrente anti-depressivo Prozac em favor de seu produto, o Zoloft. Para isso, bate de frente com Terry Hannigan (Gabriel Macht), grande fornecedor de amostras ao doutor Stan Knight (Hank Azaria), médico da bela Maggie Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de um estágio inicial do mal de Parkinson, doença degenerativa que afeta a coordenação motora.

Quando conhece Maggie, Jamie vê a moça como o mais novo alvo de suas conquistas. Ela, ciente de sua doença e levando a vida o menos sério possível, quer apenas sexo e diversão. Essa espécie de versão feminina de si mesmo poderá mudar Jamie para sempre, em que ambos vão descobrir que, quanto mais se foge do amor, mais ele pode lhe perseguir.


Baseado no livro Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman, de Jamie Reidy, Amor e Outras Drogas conta com direção, produção e co-adaptação do roteiro de Edward Zwick (Lendas da Paixão, O Último Samurai, Diamante de Sangue) e acompanha a descoberta do Viagra, a grande revolução sexual que deu a homens e mulheres a chance de redescobrir o prazer sexual, independente da idade. Entre tardes regadas a sexo sem compromisso, Jamie e Maggie vão se envolvendo cada vez mais, trocando intimidades na qual revelam seus medos e experiências. É a porta de entrada para que o tal sentimento de quatro letras entre sem ser convidado.


Jamie, que divide o teto com o irmão mais novo, o inconveniente Josh (Josh Gad), conseguirá seu trunfo como representante do Viagra, cuja propaganda lhe cai como uma luva. Afinal, quem melhor para vender a droga do sexo do que alguém que mais entende do assunto? Nesse meio tempo, a relação dele com Maggie vai se aprofundando cada vez mais e o sentimento que um sente pelo outro passa pela maior das provas: a doença dela.


Em Amor e Outras Drogas, Anne e Gyllenhaal estão tão à vontade em seus papéis que é impossível não se encantar. No auge da beleza e sucesso, a dupla - que já havia sido par romântico no premiado O Segredo de Brokeback Mountain - volta, cinco anos depois, em uma trama mais descontraída, mas que não deixa a peteca cair quando se trata de arrancar lágrimas da plateia. Do charme e carisma de Gyllenhaal à beleza natural e adorável de Anne (indicados ao Globo de Ouro por seus papéis), é interessante acompanhar como estes jogos de amor e sexo são expostos e que, mesmo cientes dos riscos, se permitem não resistir e se entregam.


Com ritmo e um bom roteiro - que não busca fazer necessariamente rir, mas, sim, criar empatia com seu público - Amor e Outras Drogas mostra a dupla com uma sensualidade latente e à vontade nas cenas mais íntimas, incluindo nu e cenas de sexo convincentes. A trilha sonora, recheada de hits dos anos 90, traz nomes como Spin Doctors, Fatboy Slim e até a clássica Macarena (quem não se lembra dela?), passando por Berlinda Carlisle, famosa em carreira solo no final dos anos 80 até desembocar na contemporânea Regina Spektor.


Com uma dupla que traz veracidade e se mostra confortável nos seus papéis, acompanhamos um casal real, com problemas reais e que age como um casal da vida real. Sem ser um romance açucarado demais, vai falar diretamente com o público que já passou pelo sexo casual que pode vir a se tornar - ou se tornou - um namoro. Porém, como uma pílula capaz de curar alguma dor ou doença, o amor também é uma droga e provoca efeitos colaterais. E todos precisamos dele para nos sentirmos bem, por mais que sua dose tenha um gosto amargo em alguns momentos.

Leia as colunas anteriores de Leonardo Freitas:

Desenrola

Megamente

O garoto de Liverpool



Quem é o colunista: Um jornalista aficionado por cinema de A a Z.

O que faz: Dono do blog Dial M For Movies.

Pecado gastronômico: Lasanha.

Melhor lugar do Brasil: Qualquer lugar, desde que eu esteja com meus amigos.

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Atualizado em 10 Abr 2012.