Guia da Semana

Los Angeles


A vida de Bolt não é fácil. Todos os dias, ele precisa salvar Penny das garras do malvado Homem do Olho Verde, um amante dos gatos, cujos planos de dominação mundial seriam terríveis para a humanidade. Bolt usa sua coragem e seus superpoderes para cumprir sua missão até que o diretor grita: "corta!". O faz de conta acaba, menos para ele, que acredita em tudo que acontece num dos melhores seriados da televisão. Bolt é o suprassumo do ator de método, um Truman Burbank canino, que vive uma realidade de mentirinha. Mas tudo muda quando ele se vê no mundo real, sem poderes e sem a menor noção de como um cachorro de verdade se comporta. Daí para frente começa uma aventura engraçada, emocionante e com o charme que só a Walt Disney consegue dar.

Bolt - Supercão levou cerca de cinco anos para ficar pronto e foi o primeiro projeto capitaneado por John Lasseter, que mudou algumas diretrizes da história logo que chegou e acompanhou a saga de Bolt com grande atenção. E tudo por um motivo: a Disney precisava recuperar sua incontestável qualidade técnica para voltar a fazer filmes memoráveis. Vale lembrar que Wall-E foi feito em conjunto com a Pixar. A preocupação rendeu bons resultados.

Feito para ser exibido também em cinemas 3D, Bolt - Supercão transforma uma história típica de filmes de "jornada animal para reencontrar o dono" em algo marcante por conta da ingenuidade de seu personagem principal. Sem falar na presença de humanos, Bolt (em ótimo trabalho de John Travolta) se descobre perdido no meio de Nova Iorque e precisa retornar até Los Angeles, para reencontrar Penny (Miley Cyrus se aventurando na dublagem), sua dona. Aos poucos, Bolt vai deixando de lado sua postura heróica e capaz de resolver tudo com o superlatido ou sua visão de raio laser para aprender a viver como um cachorro normal.

Cenas memoráveis acontecem durante esse processo. Quando ele aprende a pedir comida ou a realizar a simples, porém desconhecida, façanha de colocar a cabeça para fora da janela num carro em movimento, é impossível não entrar no espírito proposto pelos diretores Byron Howard e Chris Williams. Mas nada supera o encontro de Bolt e sua refém - a gata Mittens - com o sujeito engraçado do filme: Rhino, um hamster que vive dentro de uma bola de plástico. A idéia inicial para o filme, aliás, nasceu a partir do desejo dos diretores de fazerem um filme envolvendo um hamster nessas condições. Esse personagem, porém, não precisou de apoio de uma voz famosa para funcionar, aliás, foi bem o contrário. A voz de teste foi feita por Mark Walton, um dos profissionais do estúdio e que já havia dublado um dos personagens de O Galinho Chicken Little. O resultado ficou tão bom que ninguém encontrou uma voz melhor para substituí-lo. Funcionou por ser orgânico e ter tudo a ver com o perfil semipsicótico do hamster fanático pelo programa de Bolt e que sonha com seus dias de aventura.

A versão em 3D de Bolt - Supercão é uma das criações animadas mais belas da década, com tomadas espetaculares e a prova de que essa tecnologia veio para ficar. A mescla do visual com a bela trilha sonora composta por John Powell (Kung Fu Panda e O Ultimato Bourne) garantem grande nível de realismo e muita emoção. Durante sua jornada, Bolt e Rhino nos brindam com uma discussão memorável sob a luz da Lua no alto de uma colina. Claro que nada daquilo existe, mas faz a platéia - especialmente os mais novos - sonhar alto com tamanha beleza.

O bom-humor de Bolt é latente. Além de Rhino com seus surpreendentes surtos, os roteiristas brincaram com referências do mundo do entretenimento e, claro, super-heróis. Bolt, por exemplo, acha que bolinhas de isopor roubam seus poderes e, ao chegar em Los Angeles - "a cidade mais perigosa do mundo" - Bolt é reconhecido e um par de pombos com sonhos de grandeza o aborda para sugerir o argumento de um novo programa de TV. Aliás, como diriam os pombos, o filme é "Rindonculo" (corruptela de "ridículo") de tão engraçado. Melhor opção infantil das férias.


Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.


Atualizado em 6 Set 2011.