Guia da Semana

Los Angeles


Engraçado e sempre preocupado com cada palavra que diz, Brendan Fraser possui uma personalidade muito diferente do herói atrapalhado e arrojado de seus filmes. Foi nesse estado de espírito que o astro recebeu o Guia da Semana, durante uma manhã chuvosa em Londres, para falar sobre Coração de Tinta, seu mais recente filme, no qual tem chance de misturar bem sua qualidade técnica com as tradicionais correrias e perseguições que o marcaram na última década, por conta da trilogia A Múmia. Além de contar segredos sobre a produção, Fraser falou sobre sua relação com a escritora Cornelia Funke - que escreveu o livro Coração de Tinta (lançado no Brasil pela Companhia das Letras), que tem o personagem principal inspirado nele.

Quando você conheceu Cornelia Funke?

Brendan Fraser:
Foi por volta de 2001, logo depois que ela publicou Coração de Tinta. Recebi uma cópia do romance com uma nota pessoal: "Espero que um dia você possa ler essa história para seus filhos e obrigado por ter inspirado esse personagem". E eu disse: "O que?!" Não sabia que era capaz de inspirar nada (risos). Li o livro e fiquei maravilhado com tudo aquilo. Quando recebi a oferta para o papel, nem sabia que ela estava envolvida (a escritora também produziu o filme). No meio disso tudo estava na Holanda, divulgando um de meus filmes e decidi dar um pulinho na Alemanha para conhecê-la. Foi fenomenal!

Você acha que fez por merecer essa inspiração? Gostou disso?

Brendan Fraser:
Adorei, sinceramente. O conceito de Coração de Tinta é tão interessante que faz com que as crianças, especialmente, queiram saber o que vai acontecer quando meu personagem começar a ler as histórias, quem ele vai trazer para nosso mundo e tudo isso. Elas não precisam daquela sacada sombria ou dúbia, que os adultos tanto procuram para "justificar" o gosto pela leitura desse gênero. As crianças são conquistadas pela curiosidade mesmo e isso as conduz através de materiais mais estruturados e complexos como esse. Ser criança não significa só gostar de contos clássicos ou histórias bobas. Há espaço para quase tudo na mente infantil.

Então você gostou de fazer um filme sem tanta correria e perseguir múmias...

Brendan Fraser:
Ei, as múmias me perseguem! A culpa não é minha! (gargalhadas) Mo não é um herói, pelo menos até que ele perceba que precisa ser algo parecido com uma figura heróica. Há toda uma construção para que ele possa ter seus momentos de herói, mas foi diferente por conta disso. Acho que corri o tanto quanto corri nos filmes da Múmia (risos). O cara é um escritor, praticamente um acadêmico que, do dia para a noite, precisou tomar conta de sua filha e assim ficou por anos a fio. Para minha sorte ele faz mais que só ficar olhando para os livros (risos). A motivação dele é muito mais forte do que qualquer outro efeito especial ou perseguição, acredito. Imagine um sujeito com um dom complicado e um desejo absurdo de reparar um mal que provocou? Em algum momento ele vai precisar deixar de lado a busca e agir. De qualquer forma, sou curioso para saber quantas calorias perco em cada um desses filmes (risos).

Seria natural o movimento para filmes com menos adrenalina na sua carreira?

Brendan Fraser:
Pode transparecer muita adrenalina para o público final, mas acaba sendo fruto de muita repetição e trabalho técnico, exagerado por conta dos efeitos especiais e da necessidade de preparação de cada cena. Acho que comecei minha carreira de modo bem eclético, com muitas comédias, dramas - quando conseguia a chance - e os filmes de ação. Sou muito sortudo, para dizer a verdade. Nunca pensei que seria um aventureiro de marca maior, como aconteceu com Rick O´Connell. O papel era até muito duvidoso no início. Se deu certo foi por conta do público. Continuo com essa postura diversificada, pois posso fazer Crash ao mesmo tempo em que me envolvo com Coração de Tinta. Gosto da perspectiva de ter a oportunidade de mudar meu foco de acordo com o filme e não só atrair um tipo específico de papel. Já imaginou se ainda estivesse fazendo só comédias?

A necessidade de novos formatos afeta a vida dos atores? O 3D, em especial, te agrada?

Brendan Fraser:
Curioso pensar nisso hoje em dia. Cresci com poucas opções e hoje vivemos com tanta parafernália tecnológica: TV sob demanda, download pela internet, filmes no celular... É um inferno. Sou um daqueles caras que ainda gosta de vivenciar um filme na tela grande, de sentir o susto ou surpresa de uma cena naquela cadeira confortável e com um som de estourar os tímpanos. Acho que 3D pode manter isso vivo, pois não pode ser reproduzido em casa. Isso deveria ser uma opção lógica das pessoas, mas o mundo tem se acomodado em suas cadeiras atrás dos computadores e estamos nos esquecendo do quanto é bom curtir um filme na telona.

Não dá para negar que a maioria de seus personagens depende um bocado de objetos de cena, certa dose de animais e crianças por perto. Gosta desse cenário?

Brendan Fraser:
Pode mandar todas as crianças, armas, cavalos, camelos e todo tipo de animal e ter certeza de que eu NÃO sou bom com nada disso! Brincadeirinha! Me dou bem com crianças e aquele monte de arma de mentirinha. Agora, falando sério, deixe os cavalos longe de mim! Cavalos e camelos! Bem longe! (risos)

Por quê?

Brendan Fraser:
Já tentou trabalhar com um cavalo? Eles fazem o que bem entendem, não tem muita conversa. Se ele está afim, a cena acontece. Se não, pode trazer outro cavalo mais disposto. Camelos então, pelo amor de Deus. São mil vezes piores que os cavalos e ainda fedem uma barbaridade. Uma vez tentaram fazer um camelo correr. O bicho nem se mexeu, sabe por quê? Era hora do almoço e ninguém conseguia tirar aquele monstrengo do lugar até que ele comeu alguma coisa. Nada de camelos! (risos)

Você assinou para as continuações de Coração de Tinta?

Brendan Fraser:
Assinei? Engraçado como muita gente tem essa idéia de que a gente assina alguma coisa obrigatoriamente para tudo. Claro que existe o contrato, mas ainda existe um pouco de estilo nessa indústria. Se eu digo a um diretor que vou fazer o filme dele, é bom ele confiar na minha palavra! (risos). Sobre o filme, vamos esperar o primeiro estrear, para depois pensarmos em continuações. Espero que sim e que essa maldita crise não complique a nossa vida. Tenho certeza de que teremos o segundo filme.

Qual o momento mais marcante de Coração de Tinta?

Brendan Fraser:
Gosto muito quando Mo lê a cena em que ouro começa a cair do céu. Filmar foi legal, pois cada personagem reagia à "chuva de ouro" de um jeito diferente. Foi uma cena bastante curiosa e interessante.

Jogaram moedas em vocês ou foi tudo efeito especial, como a chuva de chicletes no novo filme de Adam Sandler?

Brendan Fraser:
Moedas de ouro? Quem me dera! As moedas eram bem leves, mas, mesmo assim, extremamente irritantes, afinal choveu ouro por um tempão durante a cena.

Leia as matérias anteriores do nosso correspondente:

  • Dustin Hoffman: ficção e realidade

  • Reese Witherpsoon: atriz e mãe

  • Stan Lee: o mestre dos quadrinhos.


    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.


  • Atualizado em 10 Abr 2012.