Guia da Semana

O número 2.423 da rua Consolação, quase na esquina com a Avenida Paulista, é um dos pontos mais conhecidos pelos cinéfilos paulistanos. O Cine Belas Artes, inaugurado como Cine Ritz em 1943, costumava ser um dos cinemas mais importantes da cidade, mas foi fechado em 2011 por falta de financiamento. Em maio deste ano, deve voltar à ativa com o auxílio de um banco do governo federal.

Por trás do retorno está o Movimento Belas Artes (MBA), responsável direto pela história de persistência do cinema, já que levou cidadãos às ruas com um pedido objetivo: o retorno de parte da história cinematográfica de São Paulo.

Batizado em 1967 de Cine Belas Artes, como é conhecido até hoje, o cinema se consolidou na memória paulistana não apenas pela localização, no centro financeiro da capital, mas pelo que representou na vida de seus frequentadores. “O Belas Artes não tem valor arquitetônico, mas o ponto onde ele está é tradicional. A construção, o lugar, sua identidade formada naquela esquina. Ali começaram namoros, trocaram-se beijos, fizeram-se amizades”, conta Antônio Moura Reis, jornalista aposentado e participante do MBA.

Guilherme Franciulli, 28 anos, produtor audiovisual, é outro membro do movimento. Ele enfatiza a dificuldade de encontrar uma solução plausível para o problema. “Foi uma luta árdua. Enfrentamos mais de 50 dias de reuniões em órgãos públicos. Foram reuniões e manifestações de rua em prol da causa”, conta. Ele completa que o número de adesões cresceu rapidamente: “foram criados sites, iniciou-se um abaixo assinado online e o movimento começou a ganhar forma”.

Nascido no Piauí e antigo morador do Rio de Janeiro, Moura Reis tem uma ligação muito forte com o cinema. Conheceu o Belas Artes em uma vinda a trabalho para São Paulo, em 1967, e resolveu ficar na cidade. “Mandei minha matéria por telex, disse que ia manter alguns contatos, mas, na verdade, resolvi ficar somente para ver o filme daquela noite”, conta o jornalista. O filme em questão era a comédia Os Russos Estão Chegando, de Norman Jewison, o primeiro exibido no Cine Belas Artes.

Já para Afonso Júnior de Lima, gaúcho de 37 anos, o Cine Belas Artes foi uma maneira de lembrar a terra natal. “O que me cativou no movimento foi poder tratar da cegueira do poder público para com as pessoas que se importavam com o local. O cinema é a melhor forma de sociabilidade, de fazer amigos, e de se ter uma formação intelectual. Como se pode deixar a cidade sem essa educação?”, questiona.

A história de persistência que rodeia um dos cinemas mais antigos de São Paulo terá um final feliz. A abertura do Cine Belas Artes está prevista para o final do mês de maio e já conta com festa de reinauguração na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, permitindo que o Belas Artes ainda seja palco de muitos filmes, amizades e beijos.

Por Bianca Giacomazzi, aluna do 3º semestre do curso de jornalismo na ESPM

Atualizado em 3 Abr 2014.