Guia da Semana

O ano era 2008. O dono do (então) Espaço Unibanco Augusta, em São Paulo, não conseguia parar de rir. “Como assim, vocês querem organizar uma sessão para mães e filhos?”. O empresário não entendia como aquelas mulheres podiam desejar uma sessão de cinema cheia de bebês chorando, com luzes acesas e um trocador dentro da sala. Diante de seus olhos incrédulos, nascia o CineMaterna.

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Taís Viana e Irene Nagashima, fundadoras do projeto, não se importavam com o choro dos filhos de suas vizinhas de poltrona – elas só queriam ter a chance de ir ao cinema, como sempre fizeram antes de serem mães. “Mães de primeira viagem têm muita dificuldade para simplesmente deixarem o filho em casa e irem se divertir. Mas elas também querem sair e manter suas rotinas culturais!”, explica Taís, engenheira química.

A solução, no início, foi reunir um pequeno grupo de mães numa mesma sessão, no horário mais vazio, para que uma apoiasse a outra nessa aventura subversiva. “A sensação era de que podiam nos expulsar a qualquer momento!”, conta a fundadora, entre risadas.

Os problemas para as mães no cinema iam além do choro e, logo, as duas perceberam que seria preciso organizar uma sessão diferente. Entrou em cena o trocador (dentro da sala, à frente da tela), as fraldas, os brinquedos, a iluminação baixa e o ar condicionado reduzido.

Surpreendentemente, o CineMaterna não encontrou resistência das redes exibidoras: ele teria suas condições e, em troca, ocuparia sessões normalmente esquecidas pelo público, pelo valor regular da entrada.

Hoje, o projeto atende 32 cidades em 15 estados e trabalha com 10 redes de cinema, com novos espaços estreando a cada mês. “Todo ano falamos que já temos o suficiente, já crescemos o que tínhamos que crescer... Mas a verdade é que ainda há muita procura e muito trabalho pela frente”, admite Taís, que, mãe de uma pequena cinéfila de seis anos, ainda frequenta algumas sessões para ver como outras mães estão aproveitando o cinema.

O perfil de quem frequenta o CineMaterna é bastante feminino: mesmo com acompanhantes liberados, o comum é que as mães tragam irmãs, suas mães e outros filhos, ao invés dos maridos. Os filmes são escolhidos por elas, pelo site do projeto, e têm um padrão interessante: jamais são violentos ou tristes demais. “Nessa fase, as mulheres estão com os hormônios a mil!”, explica Taís. Os longas são sempre atuais (os mesmos que estão em cartaz) e adultos – afinal, quem vai assistir é a mãe, não o bebê.

Após as sessões, há sempre um encontro num café próximo para que as mulheres se conheçam e possam conversar sobre – oras – bebês, é claro. Como no início, quando Taís e Irene se juntaram para enfrentar o medo de ir ao cinema com seus filhos, o que realmente conta é a segurança, o acolhimento, é sentir-se em casa.

Para garantir que outras mães sintam-se assim em cidades distantes, o projeto recruta colaboradoras. São mães uniformizadas que organizam as salas, acompanham o grupo nas sessões marcadas e depois o conduzem para o café. Tudo é baseado na cumplicidade, na confiança, e não é raro que se formem grandes amizades.

Nesta quarta-feira, dia 19, o CineMaterna inaugura mais uma sala para as mães cariocas: às 14h, o Cinesystem do Recreio Shopping exibirá “A Menina que Roubava Livros”. As 50 primeiras mães que se apresentarem com filhos de até 18 meses ganharão ingressos gratuitos. Para conferir a programação completa, acesse o site http://www.cinematerna.org.br.

Por Juliana Varella

Atualizado em 19 Fev 2014.