Guia da Semana

O cinema nacional tem mudado muito. Os temas parecem mais livres e, cada vez mais, universais. Até que enfim. A técnica está vivendo uma fase muito necessária de experimentação e profissionalização: as câmeras se movem com mais segurança, a luz participa da cena, tudo dialoga com mais suavidade e personalidade. Dá gosto de ver. Mas há um problema que teima em se repetir: a atuação excessivamente didática, herança das novelas. Sabem aquelas falas que parecem estar sendo lidas ou declamadas, que jamais seriam ditas daquela forma na vida real, muito menos pelos personagens a quem pertencem? Pois é, elas persistem.

Em “A Floresta Que Se Move”, novo filme de Vinícius Coimbra, esse problema impede que a obra tenha o impacto que merece. Inspirado livremente em “Macbeth”, de Shakespeare, o longa conta a história de um gerente de banco chamado Elias (Gabriel Braga Nunes) que, após ouvir uma profecia, é tomado pela ganância e, incentivado pela esposa Clara (Ana Paula Arósio), comete um assassinato.

A obra consegue criar tensão e encantar os olhos com uma fotografia expressiva e cenas bem pensadas, tão simbólicas quanto bonitas. Elias e Clara são ambiciosos como Macbeth e sua Lady, mas amadores na arte de matar. Os dois atores capricham na interpretação com olhos e corpo e embalam o público com suas transformações emocionais, mas deixam a desejar na naturalidade da fala, como a maior parte dos coadjuvantes.

Não que o roteiro utilize as frases originais do dramaturgo, longe disso: são as conversas do dia-a-dia que soam falsas – entre quaisquer personagens. A única exceção é a participação especial de Emiliano Queiroz, que surge na tela quando menos se espera e recita Shakespeare como se ninguém estivesse olhando. A questão é que estamos todos olhando, e nos perguntando por que os outros atores não fazem como ele.

“A Floresta Que Se Move” foi exibido no Festival do Rio, está em cartaz na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estreia nos cinemas no dia 5 de novembro. Para quem procura um bom suspense com referências clássicas e um toque nacional, é um filme obrigatório. Mesmo que ainda possa melhorar.

Por Juliana Varella

Atualizado em 27 Out 2015.