Guia da Semana

Qual é a magia que faz com que certos romances encham nossos olhos de lágrimas, mesmo que já tenhamos visto histórias tão parecidas muitas vezes antes? “Como Eu Era Antes de Você” já avisara desde o primeiro trailer e, se você não captou a mensagem, aqui vai um reforço: este é um filme que vai partir seu coração – mesmo que o faça com doçura e com uma atuação deliciosa de Emilia Clarke.

O filme é uma adaptação do livro homônimo de Jojo Moyes, autora de diversos títulos com protagonistas femininas, normalmente marcados por histórias cotidianas, reflexões existenciais e algumas lágrimas incontroláveis. Moyes também assina o roteiro, enquanto a diretora, Thea Sharrock, estreia no comando de longas-metragens com uma câmera sem floreios e uma condução eficiente dos atores – que, aliás, são a alma do filme.

Clarke é, evidentemente, a estrela mais brilhante, adorável em seu figurino excêntrico e suas risadas amplas e desajeitadas (sim, a Mãe dos Dragões tem seu lado cômico, e ele é perfeito). Ela interpreta Louise Clark, uma garota britânica que vive no interior e, para ajudar os pais, aceita um trabalho como cuidadora de Will Traynor (Sam Claflin), um milionário que sofreu um acidente dois anos antes e ficou tetraplégico.

Sua função, como logo fica claro, não é realmente “cuidar” dele, no sentido tradicional (lembram-se de “Intocáveis”?) – ela não teria forças para carregá-lo, de qualquer forma –, mas sim animá-lo, tentando fazer com que ele recupere a vontade de viver. E é aí que mora a maior polêmica em torno do filme.

Desde que “Como Eu Era Antes de Você” estreou em alguns países, diversas críticas começaram a aparecer, questionando a forma como o longa retrata a deficiência: no filme, Traynor literalmente considera a possibilidade da eutanásia, sugerindo que a morte seria melhor do que a vida naquelas condições.

De fato, o filme tem seus exageros (da mesma forma que o personagem é absurdamente rico e que sua cuidadora tem uma liberdade absurda para usar seu dinheiro), mas o pensamento de Traynor é totalmente coerente com a construção do personagem. Este é, afinal, um homem para quem a aparência e o vigor físico sempre foram muito importantes e, se prestarmos atenção, é um personagem que sofre não por sentir dor o tempo todo, mas por não se reconhecer mais naquele corpo, como se sua própria identidade, sua percepção como indivíduo, tivesse sido esmagada no acidente.

Claflin não traz às telas uma atuação particularmente visceral, mas seu Will Traynor é suficientemente carismático para que o público se apaixone por ele tanto quanto Louise Clark. Janet McTeer e Charles Dance roubam a cena em participações curtas, mas intensas, como os pais de Will, e quem também dá as caras (para delírio dos fãs de Harry Potter) é Matthew Lewis, no papel do namorado atleta de Louise.

Se “Como Eu Era Antes de Você” vai te fazer chorar, não será antes de colocar um sorriso de orelha a orelha em seu rosto. Apesar de repetir a mesma fórmula de tantos outros romances – casal se odeia, se apaixona, briga e reconcilia –, o filme tem um clima bastante autêntico e um ambiente extremamente aconchegante, entre as ruelas europeias e seus sotaques cheio de histórias. Antes que você perceba, estará completamente envolvido e rindo como bobo na sala do cinema. Não tente resistir.

Por Juliana Varella

Atualizado em 26 Jun 2016.