Guia da Semana


Os cinéfilos de plantão têm tido dificuldade de ir ao cinema. Estranho, mas é verdade. Isso porque as salas têm sido ocupadas por blockbusters que geralmente não agradam aos amantes do chamado "cinema de arte", mas rendem grande bilheteria aos exibidores. Os filmes menores (com menos cópias, mas não menos importantes) têm mais dificuldade de serem produzidos, têm menos dinheiro em caixa e provavelmente vão receber menos retorno da bilheteria porque vão exibir (se conseguirem) em menos salas, atraindo público cada vez mais seleto.

Esta conta é complicada, mas é assim que acontece. Desde maio (sem contar com 300, que estreou em 30 de março), as salas exibem filmes que atraem público interessado em entretenimento, pipoca e muita ação na tela. Aconteceu com Homem-Aranha 3, que logo em seguida teve a companhia de Piratas do Caribe 3 - No Fim do Mundo. Entre os dois longas houve uma janela de três semanas, tempo suficiente para filmes como O Amor Pode Dar Certo, Invasão de Domicílio, Um Crime de Mestre, Alpha Dog, Escola de Idiotas tentarem emplacar.

Mais três semanas de respiro com Caparaó, o nacional Não Por Acaso (que tem o apelo do star-system Rodrigo Santoro), o dinamarquês Depois do Casamento, Premonições, Zodíaco, entre outros, até que Shrek Terceiro invadisse as telas com tudo.

Nessas férias não foi diferente. Quando julho chegou, vieram Treze Homens e um Novo Segredo, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, Ratatouille. Um por semana. As salas de cinema comercial lotaram de fãs aficionados por animação e por franquia. Por falar nela, Harry Potter e a Ordem da Fênix, o quinto filme da série do bruxinho que arrasta fãs do mundo inteiro, estreou mundialmente em plena quarta-feira, dia 11 de julho. Já chegou arrasando e ocupando um terço das salas disponíveis no Brasil inteiro. Não quero deixar esta coluna parecendo aula de estatística, por isso vou poupar o leitor de números. Mas imagine que foram mais de 700 salas com cópias nas versões original e dublada. Contando que no país temos pouco mais que duas mil salas... Nesta época, o público passava em frente a esses cinemas e só via estampado: Harry Potter, Ratatouille, Quarteto Fantástico, Treze Homens. Um verdadeiro "espanta cinéfilo".

Na sexta-feira daquela semana, dia 13 de julho, só entraram outros dois filmes timidamente, como o francês Medos Privados em Lugares Públicos, de Alain Resnais, e o documentário nacional Fabricando Tom Zé.

Para se ter uma idéia do "efeito Harry Potter", nas três primeiras semanas o longa-metragem ficou em primeiro lugar. Não foi desbancado nem por Transformers, que estreou na semana seguinte ocupando apenas o segundo lugar do ranking. Em uma semana de entressafra com Transformers e Duro de Matar 4.0, que chegou aos cinemas dia 3 de agosto, filmes menores aproveitaram para emplacar, como Bobby, O Ex-Namorado da Minha Mulher, Luzes do Além, Quebra de Confiança e Conceição - Autor Bom é Autor Morto. Outros filmes menores também tentaram conquistar o seu lugar ao sol, como Paris, Te Amo, Algo como a Felicidade, além dos nacionais Baixio das Bestas e Saneamento Básico - O Filme (com basicamente atores globais como chamariz), que figura entre os 10 mais vistos na semana de 23 a 29 de julho, sua segunda semana de exibição.

Foi Duro de Matar 4.0, aliás, que tirou Harry Potter da liderança. A fita levou 307 mil pessoas para o cinema no primeiro fim de semana. Em sua quarta semana, a quinta aventura do bruxinho convenceu 4 milhões de espectadores a irem ao cinema.

Daqui pra frente a coisa ainda não vai melhorar. Pense que dia 17 de agosto estréia Os Simpsons - O Filme. Nos Estados Unidos, a fita conquistou o primeiro lugar e é a quinta melhor estréia do ano. Talvez como parte da estratégia de divulgação e também visando uma boa bilheteria de abertura, O Ultimato Bourne, terceira parte da trilogia precedida por A Identidade Bourne e A Supremacia Bourne (foto), previsto para a mesma semana, foi adiado para 24 de agosto. A Universal fez certo. Eu também não seria maluca de concorrer com Os Simpsons. Em um país que não regulamenta o que no passado era chamado de "cota de tela", fica difícil manter o nível de exibição. Nesta toada, ficam de fora sempre os europeus e, por conseqüência, os brasileiros, que talvez tivessem de pressionar um pouco para conquistar o seu espaço. Mesmo que tivesse de ser a força.

Leia as colunas anteriores da Tatianna:

? Cinema mudo:quando tudo começou

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Fotos: Divulgação Warner Bros, Universal e www.morguefile.com

Quem é a colunista: Tatianna Babadobulos, paulistana, jornalista e crítica de cinema.

O que faz: Cinéfila de carteirinha, assiste a diversos filmes, além de escrever, ler e respirar cinema.

Pecado gastronômico: Doces, principalmente os encharcados de chocolate!

Melhor lugar de São Paulo: Qualquer área verde para se respirar ar puro ou sala de cinema que exiba um bom filme e a faça ir com uma ótima companhia (mesmo que seja ela mesma!).

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.