Guia da Semana

Foto: Ravi Santana
Ao colocar nas telas cenas de nudez frontal, sexo e a mais ofensiva violência, Cláudio Assis, sem meias-voltas e nenhuma cerimônia, provoca choque no público. Diretor pernambucano que também assinou a direção de Amarelo Manga, ele volta aos cinemas com Baixio das Bestas, causando polêmica e levando prêmios por onde passa - foram seis só no Festival de Brasília. No filme, a história de garotos ricos e impunes e do desrespeito com as mulheres no agreste nordestino.

O diretor conversou com o Guia da Semana sobre o longa-metragem, que estréia em 11 de maio em algumas capitais. Leia a entrevista!

Em quais histórias o seu filme é baseado? São histórias reais?
Cláudio Assis:
O filme é como um quadro, como poesia: ou você, ou pinta, ou declama ou reage. No filme, é claro que existem várias referências e há uma referência universal, que é o respeito pelo ser humano. Então não passa necessariamente por uma história pontual. É pontual no sentido de a violência contra a mulher ser grande, a impunidade, que é outra coisa gritante no filme, é nacional, seja no legislativo, no judiciário, nas condições socioeconômicas. Do que se está falando é de uma violência e de uma impunidade que tornou-se normal. E o que a gente vai fazer? No filme, porque os agroboys não morrem (garotos ricos e criminosos da história), é errado. Mas, por que eu tenho que matar? Eles estão impunes hoje, a verdade é essa! A impunidade reina no Brasil.

É papel do cinema fazer este tipo de denúncia?
Cláudio Assis:
É papel do cinema denunciar sim. O que não é papel do cinema é ter que pedir uma redenção, resolver o problema. Este é um problema da sociedade. É trazer a discussão, porque quem não reage, rasteja.

Foto: Gilvan Barreto
Num trecho do trailer, o personagem fala que a pobreza é como um câncer...
Cláudio Assis:
É um câncer, lógico que é. Tanto no cristianismo como na democracia e tudo mais: são formas de enganar as pessoas. As pessoas pensam: Deus e o diabo, o céu e o inferno, o bom e o mau, o pobre e o rico. Pobre é ruim tanto quando rico é, são todos iguais. Essa questão de dualidade é uma mentira.

No Festival de Brasília, segundo relatos, Baixio das Bestas causou certa perplexidade. Era assim que você esperava ser recebido?
Cláudio Assis:
Lógico. O que é mentira que dizem é que o filme foi vaiado e não foi. O filme que foi vaiado foi o Texas Hotel (curta dirigido pelo cineasta) em 2000. O Baixio não recebeu nenhuma vaia. O que foi vaiada foi a última premiação do prêmio oficial. Pela crítica especializada foi aplaudido, prêmios de ator, de atriz... Tudo aplaudido. No último, quem não ganhou, vaiou.

Por que optou por repetir alguns atores do filme anterior, Amarelo Manga, como a Dira Paes e o Matheus Nachtergaele, em Baixio das Bestas?
Cláudio Assis:
Em time bom não se mexe. Eu tiro do time quando um elemento que é um mau elemento resolve não contribuir. Agora, vou encontrar um ator melhor que o Matheus Nachtergaele aonde? E melhor atriz do que Dira Paes, nua e maravilhosa no filme?

Foto: Gilvan Barreto
Há cenas de nudez e sexo no filme. A história perderia algo se não fosse mostrada desta forma?
Cláudio Assis:
Quando se fala de vida de seres humanos, não se pode falar que não existe prazer, que não existe comida, que não existe fome... Existe sexo, desejo, são necessidades presentes e a todo momento. O ser humano tem cheiro, fede, tem desejo, tem prazer, tem tudo. Um fica olhando para o outro. É mentira quando diz que não é. Querem negar isso pra quem? A boca é sensual, tem tesão... Pára com essa mentira, essa demagogia, é tudo falsidade. Demagogia barata, não querem discutir porque são também perversos. O ser humano é perverso! E ponto final!

Atualizado em 6 Set 2011.