Guia da Semana

De Los Angeles


Quando se fala em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, nomes como Harrison Ford, Steven Spielberg e George Lucas vêm à baila, porém, há uma máquina incansável que dá vazão às idéias de todos os figurões: seu nome é Frank Marshall, produtor responsável pelos quatro filmes do aventureiro. Mesmo sem revelar nenhum segredo, Marshall conversou conosco em Santa Mônica, no luxuoso hotel Casal Del Mar, em bate-papo exclusivo com nosso correspondente internacional.

Feliz da vida por ter recebido vários prêmios por Ultimato Bourne na na festa do Oscar, Marshall falou sobre construção de sets, comentou a participação do Brasil no filme (as quedas de Foz do Iguaçu fazem parte de uma das maiores perseguições do longa-metragem) e explicou como funciona trabalhar num filme de Indiana Jones.

Fábio Barreto: Deve ser difícil voltar a um mesmo universo visual depois de tanto tempo e ter que fazer parecer igual, afinal de contas, muita coisa mudou. Como foi essa transição?
Frank Marshall:
O ponto é que nada mudou. Tudo continuou o mesmo visualmente falando. A tecnologia pode ter mudado, mas não para Indiana. Fizemos tudo com aquele espírito de filme "B", mas com qualidade de primeira e toda a empolgação que o personagem pode passar para o público.

Qual a razão disso?
Frank Marshall:
Steven [Spielberg] queria fazer tudo dentro da tradição dos primeiros três filmes. Por isso filmamos tudo em película, editamos manualmente e buscamos o mesmo tipo de iluminação original. Ele coreografou as cenas da mesma maneira e tentou manter aquela inspiração dos anos 30 e 40 para definir o estilo. Afinal, foi isso que baseou os filmes anteriores. E conseguiu!

A equipe de produção encontrou algum grande obstáculo para realizar essa missão?
Frank Marshall:
Isso sempre existe, mas o mais importante é focar no fato de que esse filme tem "a cara e o espírito" de Indiana Jones. As ferramentas estão mais avançadas e só ajudaram, por exemplo, Harrison fez mais cenas de ação do que nos outros filmes, pois não era muito seguro e precisávamos de um dublê com mais freqüência. Por conta disso, Harrison só precisava se preocupar com a atuação e com o personagem dele. Isso gerou mais liberdade para ele.

Muita gente chorou ao ver o último trailer. Todas as cenas clássicas pareciam se encaixar perfeitamente com o material novo.
Frank Marshall:
A assinatura visual é a mesma, tudo faz sentido e foi nisso que Steven pensou durante a maior parte do tempo ao fazer esse filme. Tinha que existir essa conexão, se não, correríamos o risco de ter outro aventureiro nas mãos. E ninguém quer isso, queremos ver Indiana!

Uma curiosidade: em que consiste o ato de "produzir um filme de Indiana Jones"? O que o torna diferente?
Frank Marshall:
O principal aqui é o fato de estarmos a serviço de Steven. O objetivo é realizar a visão dele para o filme e, felizmente, já tendo feito isso três vezes antes, eu já sei mais ou menos o que ele espera e até o que vai pedir em alguns momentos. Sabia, por exemplo, que ele pediria chapéus exatamente iguais aos anteriores. Literalmente. Outro aspecto é o fato de viajarmos bastante para as locações, como de costume E viajamos para muitos lugares, aliás; mas resolvemos filmar todas as cenas de estúdio em Los Angeles, em vez de usar os estúdios de Londres. Isso foi diferente.

Diferente por quê? Custos?
Frank Marshall:
Não, acontece que agora todos têm família em Los Angeles e não queríamos deslocar a equipe inteira para a Inglaterra. Acabamos organizando as cenas para que filmássemos tudo no continente americano ou áreas próximas. Então, fomos para o Havaí, Novo México e, claro, Brasil! Vocês vão gostar!

É a primeira vez que Indiana visita a America do Sul, certo?
Frank Marshall:
Sim, finalmente fomos até lá! Parte da história acontece em algum lugar no Peru, mas não filmamos lá.

Onde fica Marshall College?
Frank Marshall:
Filmamos em Connecticut, mais precisamente na Universidade de Yale. Aquele é o lar de Indiana!

Por falar em universidade, Indiana Jones é um professor que explora um mundo que não tem muito para ser explorado, pelo menos para os novos espectadores. Como dar credibilidade a isso?
Frank Marshall:
O elemento principal é sempre o mistério ou item arqueológico que todo mundo quer encontrar ou possuir. Desta vez, é esse crânio de cristal. Tive a oportunidade de ver um dos treze crânios que existem de verdade e fazem parte de toda essa lenda. Então, o importante é fazer com que esse elemento deixe de ser apenas uma pequena história e ganhe proporções gigantescas para que o público entre na onda e queira participar daquela busca. E é aí que ter identidade entra, tudo tem que garantir a sensação de que o personagem é o mesmo que encantou o mundo décadas atrás.

Mas esse personagem hoje é uma grande estrela e tem que lidar com uma espécie de pupilo, que é Shia LaBeouf. Como esse encontro acontece?
Frank Marshall:
Bem a contragosto, devo dizer. Mutt [Shia] é esse cara meio baseado em James Dean e Marlon Brando, anda de moto e tem aquela atitude de todo adolescente que acha que sabe tudo. Mas aí surge o professor velho e sábio. Quer queira quer não, ele vai acabar aprendendo alguma coisa do velhote e é assim que a relação dos dois começa a se estabelecer. Deu pra ver isso no trailer, quando ele questiona se Indiana é apenas um professor.

E,por falar em trailer, vemos um armazém gigantesco. É lá onde está a Arca da Aliança? Ela vai participar da trama?
Frank Marshall:
Você tem que assistir! Talvez sim, talvez não. (risos)

Pelo jeito, manter segredo não é dificuldade para vocês, mas houve algum grande desafio técnico para a realização do filme?
Frank Marshall:
O fato de termos filmado em Los Angeles foi um deles. Das outras vezes, fomos até Londres e os estúdios eram grandes e numerosos o suficiente para gravarmos tudo. Aqui, porém, ninguém tinha algo daquele tamanho disponível - muitos filmes em andamento - e tivemos que usar vários estúdios ao mesmo tempo. Filmamos na Paramount, Universal, Warner Bros., Sony e Downey, ou seja, cinco estúdios diferentes para construir nossos sets gigantes e rodar tudo. Organizar tudo isso foi a parte mais difícil sem dúvida.

E quanto tempo vocês levam para construir algo gigantesco como uma pirâmide Maia, por exemplo?
Frank Marshall:
Cerca de três meses mais ou menos.

Tudo isso para usar por quanto tempo? Um dia?
Frank Marshall:
(risos) Quando muito por três dias, às vezes um pouco mais quando há refilmagens, mas é pouco sim. Eu até tentava brincar com o Steven: "não podemos fazer mais uma cena aqui, ficou tão bonito!". (risos)

Como mesclar o estilo clássico de construção de sets com a modernidade dos efeitos de computador?
Frank Marshall:
O que mais mudou em Indiana foi o fato de que, em vez de usarmos uma pintura de fundo, por exemplo, agora simplesmente pintamos de azul e aquele cenário vai ser gerado por computador. Para a produção, o conceito é o mesmo, é um espaço onde antes haveria uma imagem fixa ou algum efeito ótico. E fica mais bonito, sim. Mas não houve nenhuma inovação nesse sentido, foi o mesmo esquema de trabalho, só adaptado para uma tecnologia moderna. A pirâmide, por exemplo, foi construída nos fundos da Universal e podíamos ver bastante coisa atrás dela, como casas, árvores, etc., então, foi só jogar um pouco de azul e pronto!

Você é um homem importante para o mundo dos heróis, hem? Produziu os filmes de Indiana Jones e conquistou a Academia com O Ultimato Bourne. Aliás, parabéns! Esse é um gênero que interessa a você mais do que os outros?
Frank Marshall:
Obrigado, foi uma grande noite e os prêmios foram fantásticos! Jason [Bourne] é infalível e perfeito. [risos] Indiana é o rei da confusão, ele tem falhas de caráter e erra um bocado! Numa das cenas vemos Indy errando um salto e dizendo ´pensei que fosse mais perto´. Algumas coisas mudaram e ele mesmo diz que nada é tão fácil quando parecia. É realmente isso que define o novo Indiana, aceitar a mudança e passagem do tempo. Boa parte da equipe agora tem filhos, famílias e sentimos esse processo. Tudo amadureceu um pouco. Entretanto gostamos de colocar novos personagens que cercam o Indy para dar esse ar de renovação do qual ele precisa. E a gente também.

E quanto a um próximo filme? Seria esse um encerramento para Harrison?
Frank Marshall:
Primeiro temos que lançar esse filme. Não é um encerramento com certeza. É apenas mais um da série, espero que seja um filme tão bom quanto os demais.

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    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

  • Atualizado em 1 Dez 2011.