Guia da Semana

Chega ao Brasil o novo filme de Alfonso Cuarón, Gravidade, após uma estreia estrondosa nos Estados Unidos e uma temporada de festivais onde colecionou elogios – coisa rara para uma ficção científica. Mas Gravidade não é bem uma ficção científica: é uma história sobre a vida na Terra e não no espaço. Um poema, arrisco dizer, sobre a sobrevivência, a superação, o luto.

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Sandra Bullock, candidata provável ao Oscar 2014, vive a engenheira Ryan Stone, uma mulher em sua primeira viagem ao espaço, trabalhando na manutenção de uma estação americana, que carrega um trauma pessoal: ela perdeu a filha num acidente. Junto com ela está o astronauta Matt Kowalski (George Clooney) e, no rádio, outro personagem essencial: Houston. Sim, como aquele eternizado na frase “Houston, we have a problem”, do clássico Apollo 13 de Ron Howard.

A trama é bastante simples: um satélite russo é explodido nas proximidades do americano e começa a arrastar detritos em velocidade acelerada até atingir a estação de Stone e Kowalski. Sem recursos, eles precisam chegar a outra estação para usar a cápsula de emergência e voltar à Terra. Nesse processo, é claro, muitas coisas podem dar errado.

Quem conhece o trabalho de Cuarón sabe que uma das cenas mais ansiosamente aguardadas do filme é o plano-sequência, logo na abertura. O diretor de Filhos da Esperança é famoso pela habilidade com sequências longas, com vários minutos coreografados sem que a câmera seja cortada – e, neste caso, são 17 minutos. Dezessete dos melhores minutos de sua carreira, gravados em velocidade lenta e num giro constante, como um balé espacial.

Mesmo que partes da cena já tenham sido divulgadas em trailers, vale a pena assistir na tela grande e, é claro, na sequência completa. A experiência nunca deixa de emocionar. “Experiência”, aliás, é a palavra que rege Gravidade: o espectador é obrigado a mergulhar no espaço com os personagens e a conviver com o silêncio e com a lentidão, ou com o eterno looping de quem não encontra um ponto de apoio naquela imensidão escura, tendo apenas a Terra ao fundo (ou o reflexo dela).

A trilha sonora, composta pelo quase estreante Steven Price (de The World’s End), assume papel central nessa imersão. É graças a ele que conseguimos migrar de um ambiente a outro, nos aproximar ou afastar dos personagens como se estivéssemos ali. Geniosamente, quase tudo o que se ouve vem do atrito das roupas com os objetos, do rádio interno nos capacetes ou do interior das estações – pois, do lado de fora, reina o silêncio de um ambiente hostil e inumano.

Tudo o que sabemos sobre os protagonistas vem dos diálogos: não há narração nem flash-backs. Além disso, o único ponto de vista que nos é permitido é o da Dra. Stone, o que aumenta consideravelmente a ansiedade do espectador quando a situação aperta. Será que haverá socorro? Onde estarão todos? Ela realmente quer viver?

No fim, Gravidade é um filme que não se apoia na ação nem nos efeitos visuais (por melhores que sejam), mas sim numa reflexão: será o instinto de sobrevivência a chave para superar um trauma e os obstáculos quase impossíveis que se colocam na vida? E é quando percebemos isso que o título se justifica: afinal, esse instinto de sobrevivência é exatamente como a gravidade, não é mesmo? Como a gravidade que nos puxa, dia após dia, para a nossa Terra.

Assista se você:

- Quer ver um filme que estará na corrida do Oscar

- Procura um filme para se emocionar

- Se interessa por aspectos técnicos do cinema (e quer conferir aquele plano-sequência!)

Não assista se você:

- Procura uma ficção científica convencional (com explosões, tiros, perseguições entre naves)

- Não gosta de filmes lentos

- Sofre com claustrofobia ou agorafobia

Por Juliana Varella

Atualizado em 10 Out 2013.