Guia da Semana


Não sei se por conta da admiração a cineastas como Jean-Luc Godard e François Truffaut, ou se por conta das últimas férias que passei em Paris, em outubro, ou ainda por um motivo pessoal, mas ando perseguindo o cinema francês. Assistir a uma produção daquele país na tela é como se fosse possível se transportar para o local onde estão as imagens. Também não sei se é devido o meu interesse recente que só agora me dei conta que existem muito mais filmes franceses em exibição do que diversas salas da Cinemark podem imaginar.

Enquanto estive em Paris, tive a oportunidade de assistir ao longa-metragem 99 Francs, do holandês Jan Kounen. O filme é baseado em livro homônimo de Frédéric Beigbeder (publicado pela Record, chama-se $ 29,99) e deu o que falar no reduto publicitário, uma vez que a história conta sobre o dia-a-dia do redator Octave, que para criar trabalha duro, usa drogas e tem mulheres a rodo. Embora pareça feliz, Octave está à beira da loucura.

Confesso que assistir à produção falada em francês (sem legendas, é claro) não foi tarefa fácil, até porque o meu vocabulário naquele idioma se resume a "pardon", "bonjour"/"bonsoir", "s´il vous plaît", "merci" e "au revoir". Com ajuda de uma tradução simultânea em momentos cruciais e de muita imaginação para decifrar as imagens, deu para aproveitar. Em todo caso, não vejo a hora de o filme chegar aqui. Se é que esse dia vai chegar!

Bom, mas vamos falar daquilo que temos em mãos. Para começar, e para quem gosta de ver filme no aconchego do lar, a partir de 22 de novembro, chegam às locadoras Paris, Te Amo, um conjunto de 18 curtas-metragens comandados por 21 diretores nacionais e estrangeiros, incluindo os brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas. Cada diretor (ou dupla de diretores) escolheu um tema para contar a sua história. Entre os destaques, Parc Monceau, de Alfonso Cuaron, com Nick Nolte no elenco. Trata-se de uma obra para admirar o trabalho de direção impecável, com o filme feito uma única tomada; os irmãos Joel e Ethan Coen ficaram responsáveis por Tuileries, que conta sobre o turista no metrô que não entende nada de francês e se envolve em uma briga com o casal de namorados. Paris, Te Amo é uma verdadeira declaração de amor feita por cineastas franceses e estrangeiros.

Um Lugar na Platéia, de Danièle Thompson, está nas telas desde maio e fala sobre uma moça que chega em Paris para trabalhar como garçonete, mas seu principal interesse é nos artistas que passam por lá. Uma comédia simples, mas com um timing de primeira.

O diretor Alain Resnais, o mesmo do inusitado Amores Parisienses, chegou com Medos Privados em Lugares Públicos em julho. A fita conta a história de um corretor de imóveis apaixonado por sua colega de trabalho, de um ex-militar desempregado e em crise afetiva e de uma jovem solitária que marca encontros com homens desconhecidos. Resnais aponta suas lentes para lugares obscuros, situações estranhas, mas consegue contar uma história de maneira clara e singular.

Para quem prefere drama, recentemente entrou no circuito Piaf - Um Hino ao Amor, sob a batuta de Olivier Dahan, que também é autor do roteiro. Para viver Edith Piaf, cantora francesa que fez muito sucesso nos anos 1950, foi escalada Marion Cotillard. A fita dá conta de mostrar, de forma não-linear, a trajetória da cantora desde a sua infância, quando morou em um prostíbulo, até o sucesso, passando por sua difícil jornada de ganhar o dinheiro para comer quando cantava nas esquinas de Paris. O resultado é um filme delicado e emocionante, salpicado por canções inesquecíveis. Só não pode se esquecer de levar o lenço para a sessão!

Depois de passar pela 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, estréia na capital, dia 23 de novembro, Lady Chatterley, de Pascale Ferran. A fita, que tem quase três horas de duração, é um romance lindo, que se passa no início do século XX, no interior da França. A fita conta a história de Constance Reide, que se casa com o bem-sucedido Clifford Chatterley. Ele, depois de lutar na guerra, acaba preso a uma cadeira de rodas. A moça, por sua vez, em um de seus passeios vespertinos na grande propriedade, se envolve com o caçador de animais, com quem tem verdadeiras tardes de amor. Lento e intimista, o longa descreve sem cerimônia as aventuras da moça rica com um rapaz de classe social inferior.

Outro filme que passou pela Mostra é Em Paris, de Christophe Honoré. Garantida pela Imovision para 21 de dezembro, a fita é narrada por Jonathan, que conta a história de seu irmão mais velho que, após se separar, se sente deprimido e volta a Paris para viver novamente com o pai e seu irmão caçula. Mas é com o olhar de Jonathan que veremos como se comporta a juventude, que tenta se divertir e também reanimar o irmão. Em Paris é um cinema francês leve, bem-humorado e com lições nas entrelinhas.

Para finalizar, Crimes de Autor, escrito, dirigido e produzido por Claude Lelouch, que estreou nos cinemas no dia 16 de novembro. Na fita, a famosa escritora Judith Ralitzer (Fanny Ardant) é acusada pelo assassinato de seu ghost-writer Pierre (Dominique Pinon). No entanto, no meio do caminho em direção a Cannes, ele conhece a cabeleireira Huguette (Audrey Dana), que servirá de inspiração e personagem para a história. O longa traz às telas uma mistura de drama, mistério e romance que vai prender o espectador do início ao fim. A trilha sonora, com música original de Alexandre Jaffray, completa a obra de arte.

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Fotos: Divulgação e www.sxc.hu

Quem é a colunista: Tatianna Babadobulos, paulistana, jornalista e crítica de cinema.

O que faz: Cinéfila de carteirinha, assiste a diversos filmes, além de escrever, ler e respirar cinema.

Pecado gastronômico: Doces, principalmente os encharcados de chocolate!

Melhor lugar de São Paulo: Qualquer área verde para se respirar ar puro ou sala de cinema que exiba um bom filme e a faça ir com uma ótima companhia (mesmo que seja ela mesma!).

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.