Guia da Semana

Por Ricardo Manini


Longa-metragem aposta na fantasia e no romantismo para ser bem-sucedido


Um diretor veterano de teatro. Foi nos palcos, há praticamente 25 anos, que João Falcão dirigiu sua primeira peça, ainda em Pernambuco, estado no qual nasceu. De talento próximo ao gosto do público, começava ali uma escalada que o levaria a consagração em pouco tempo, não só em um ponto do mapa, mas no Brasil inteiro.

Foi na Rede Globo, quando firmou parceira com Guel Arraes e assinou episódios da série Brasil Especial ( O Homem Que Sabia Javanês, O Coronel e o Lobisomem) e o fantástico Auto da Compadecida, que veio o reconhecimento. Do tablado para a tela, ele mudava de meio, mas levava junto consigo o apoio da crítica e do público. A última fronteira da dramaturgia para sua carreira era o cinema, que Falcão cruzou com A Máquina, de 2001, filme bastante elogiado, mas pouco visto. Agora é a vez do seu segundo longa, Fica Comigo Esta Noite, baseado, assim como o primeiro, em uma peça de teatro. Talvez, entretanto, este trabalho percorra o caminho inverso - seja muito visto, mas tenha que lidar com algumas críticas negativas.

"A questão da qualidade é extremamente pessoal", diz ele. "Acho que muita gente vai gostar do filme, mas, para outros, ele não terá sido bem feito. É difícil agradar a todos", argumenta. "Sempre faço filmes para o público. Quando dirijo, o meu maior interesse é em agradar, em atingir as pessoas, em fazê-las pensar e se transformar. Não tenho a intenção de rodar algo para satisfazer meu próprio ego", afirma, sem constrangimentos, no sentido contrário de vários dos cineastas brasileiros. Não há demérito nenhum na escolha - pelo contrário, a existência desse tipo de projeto é importante para que o cinema nacional sobreviva e atinja bons números nas bilheterias.

Desta vez, Falcão pede ao público que fique com ele por uma noite e escala Vladimir Brichta e Alinne Moraes (foto) nos papéis principais. Os dois também são atores globais, mas começaram a carreira no teatro. "Conheci o João em uma peça que montamos chamada A Ver Estrelas, ainda em 1998", conta Brichta. Já Alinne foi vista pelo diretor pela primeira vez em uma novela.

"Fiquei impressionado com ela desde o primeiro instante. Tinha um talento extraordinário para quem era tão jovem e eu queria chamá-la para algum projeto". A oportunidade surgiu quando ele dirigiu um especial de fim de ano para a série Sexo Frágil. Com o bom resultado atingido, a trajetória profissional dos dois se estreitou. "Essa personagem tem muito a ver comigo e, até por isso, a experiência no cinema foi muito boa. As filmagens são mais lentas do que na televisão e deu para aprender algumas técnicas que eu ainda não tinha", diz Alinne (foto), sobre sua participação no longa-metragem.

Aos dois, se juntam atores com mais experiência, como Milton Gonçalves e Laura Cardoso, além dos também novatos Gustavo e Clarice Falcão, parentes do cineasta. Clarice divide uma personagem com Laura Cardoso. "Tinha uma grande vontade de trabalhar com ela, mas sabia também da enorme responsabilidade pela frente. Mas ela foi ótima, conversou bastante comigo, e acho que deu tudo certo", conta. A trilha sonora é do guitarrista Robertinho do Recife, que já havia trabalhado com o diretor em A Máquina. Mauro Pinheiro assina a fotografia, que, como a história pede, é escura e reflete um humor assombrado pela existência de um mundo sobrenatural.

Na primeira encenação da peça, feita ainda na década de 80, o casal protagonista estava solitário no palco. Era o suficiente para contar a história de amor de duas pessoas que se apaixonam, se casam, tentam lidar com os problemas conjugais, que só terminam quando um dos dois morre. Ainda assim, eles se amam e precisam se ver novamente para que possam estar juntos por uma última vez.

Foi esta versão que o produtor do filme, Diler Trindade, que já levou este ano Trair e Coçar é Só Começar para o cinema, viu nos palcos. A empatia com o texto foi imediata, mas a realização do filme demorou por conta de nomes para o elenco e para a direção. Quando Falcão fez A Máquina, os dois se conheceram e o projeto foi oferecido para ele, logo após terminarem as filmagens. "Quando vi que o personagem era um gaiato, logo pensei no Vladimir Brichta (foto)", brinca o diretor. Antes do primeiro trabalho estrear nos cinemas, o longa estava pronto, após quatro semanas de gravações.

Na versão para o cinema, alguns personagens foram acrescentados, mas a influência de diretor teatral de João Falcão é evidente. Esta característica não chega a ser uma novidade na história do cinema, mas ajuda, de certo modo, a criar empatia com o grande público. Se este é o seu objetivo, pode estar prestes a atingi-lo.

Atualizado em 6 Set 2011.