Guia da Semana

Foto: Divulgação


Três anos atrás, eu entrava no cinema sem nenhuma expectativa, e saía extasiado com um desenho de visual deslumbrante, história sincera e cativante, personagens divertidos e engraçados e uma das melhores animações de 2008. Ao lado de Wall-E, o primeiro filme do atrapalhado urso panda escolhido para grande guerreiro do Kung Fu era uma grata surpresa. Mais infantil que o desenho da Pixar, mas não pior.

Este ano, novamente, entrei no cinema sem nenhuma expectativa para ver a segunda aventura da franquia. E novamente me surpreendi. Já na abertura, na logomarca da Dreamworks, o desenho mostra a que veio. Seu visual é simplesmente fantástico. Melhorado ainda pelo 3D e pela tela gigantesca do IMAX, as caretas de Po e companhia são ainda mais divertidas. Os closes em seu nariz e nos seus grandes olhos mostram uma riqueza de detalhes e uma sinceridade de expressão raramente vistos até em atores de carne e osso, já que Po tem menos plásticas...

Se, no primeiro filme, Po precisava provar que conseguiria lutar kung fu, neste ele precisa salvá-lo. Guardando semelhanças com O Príncipe do Egito (e, consequentemente, com a história de Moisés), Po deve descobrir quem realmente é para encontrar a paz interior.

Os efeitos 3D da animação são um deslumbre para os olhos. Usados com um pouquinho de exagero, tanta coisa nos salta na cara que é impossível em alguns momentos não desviar. Da mesma forma, a sensação de profundidade é tão impressionante que chega a chocar. As visões aéreas da China, dos palácios, montanhas e vales são de cair o queixo, não tem expressão melhor. As cenas de ação também são (com o perdão de mais um lugar comum) de tirar o fôlego. Nunca tinha sentido isso realmente dentro do cinema. Desta vez, ficava com a respiração presa até o fim da batalha.

O fraco dos concorrentes da Pixar sempre foi não ter um roteiro bom o bastante. Desenhos muito fracos, como Meu Malvado Favorito, Madagascar ou Monstros vs. Alienígenas não tinham como conseguir competir com perfeições do nível de Procurando Nemo, Ratattouille, Up ou Monstros S/A. O primeiro Kung Fu Panda mudou um pouco isso. Na linha de mostrar que o diferente também merece um lugar ao sol e também tem seu valor, o gorducho e aparvalhado panda veio e mostrou sua capacidade. Pois no segundo filme o nível do roteiro só subiu.

A jornada pessoal de Po em busca de suas origens (e de desvendar uma das grandes perguntas sem resposta do primeiro filme), a descoberta da tragédia, a busca pela sabedoria para enfrentar o grande vilão, tudo isso contribui para um filme tocante e sensível, mas com muito humor. Como em uma sitcom, nenhum momento mais pesado ou dramático sobrevive por mais de alguns segundos sem uma piada. E aí é que está a beleza do filme. Ao tocar em dramas pessoais pesados, como a adoção e uma certa atitude um tanto nazista, o filme toca os pais, que logo depois vão rir junto com os filhos das piadas que pipocam na tela.

Simplesmente a Dreamworks nos entrega um dos melhores filmes do ano até agora. Carros 2 vai ter que ser muito superior ao (fraco) primeiro filme pra superá-lo, senão a Pixar pode perder o trono no próximo Oscar.

Leia as colunas anteriores de Flávio St Jayme:

Evita

Piratas do Caribe

Quem é o colunista: Flávio St Jayme.

O que faz: Pedagogo de formação, historiador de Arte, empresário de profissão, artista plástico e escritor de realização, cinéfilo e blogueiro de paixão.

Pecado gastronômico: Batata frita, Coca Cola e empanados em geral.

Melhor lugar do mundo: Aquele onde a gente quer chegar. E a gente sempre vai querer chegar em algum lugar.

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Sempre: Ludov, Matchbox Twenty, Maroon Five, Jay Vaquer, Belle & Sebastian, Coldplay, Robbie Williams, Pato Fu, Irreveresíveis, Glee, trilhas de filmes.

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Atualizado em 1 Dez 2011.