Guia da Semana

Beto Brant e Renato Ciasca nas filmagens de Cão Sem Dono

De um descontraído escritório, cercado de verde, no meio da caótica São Paulo, Beto Brant e Renato Ciasca, diretores de Cão Sem Dono, falaram ao Guia da Semana sobre a produção do novo filme. Adaptado do livro Até o Dia em Que o Cão Morreu, de Daniel Galera, o longa deixa de lado a violência dos anteriores, como Crime Delicado e O Invasor, para contar uma intimista história de amor.

Ciasca confessa que o tema foi o que mais os atraiu na obra de Galera. "A gente estava querendo falar sobre as condições humanas", diz o diretor. Beto Brant afirma que foi "a construção passo-a-passo até o cara se entregar" que fez com que esta história fosse a escolhida, já que não é comum ver um homem neste estado em uma relação amorosa. Para entender o autor, os cineastas conheceram Porto Alegre, cenário do filme, guiados pelo próprio Daniel, começando a criar o diálogo com o livro.

Este diálogo, porém, não era apenas com a obra ou o autor, mas com a própria cidade. Para criar um clima mais íntimo entre o filme e a capital gaúcha, a equipe técnica foi selecionada lá, e não exatamente pelo seu profissionalismo, mas pelo que poderiam adicionar à produção. "Esta troca que acrescentou ao filme esse caldo porto-alegrense", revelou Renato. Não só os técnicos, mas o elenco também é de gaúchos. No início, os protagonistas seriam Selton Mello e Fernanda Lima, mas Brant logo percebeu que "a única maneira de fazer um bom filme seria com uma imersão absoluta em Porto Alegre".

E não foi uma decisão errada. A dedicação dos protagonistas Júlio Andrade e Tainá Muller ajudou a deixar Cão Sem Dono mais realista. Sobre o intérprete, Brant diz que "ele provou da solidão do personagem", ao revelar que Júlio se mudou para o apartamento do filme mais de um mês antes das filmagens, com Churras, o cachorro. Lá ele viveu afastado de seus conhecidos, lendo textos de russos existencialistas. "Os atores foram se colocando aos poucos nos personagens", afirma Beto que completa dizendo que eles fizeram "com que os atores começassem a pensar como os personagens".

Para criar este clima, o elenco foi escolhido por entrevistas, "porque a gente quer que a vivência do cara vá trazer coisas que nós não sabíamos sobre o personagem", afirma Brant. Os diretores revelam que é esta descontração nas filmagens e estas trocas que tornam os filmes melhores do que seus próprios roteiros. Assim, eles não sabem como será o resultado. Em Cão Sem Dono, eles só descobriram como fazer o final depois de já ter filmado dois terços. "A gente nunca tem a pretensão de saber o filme que a gente vai fazer antes da realização. A gente vai descobrir o filme", revela Beto Brant.

Uma grande mudança neste filme em relação aos demais da dupla é a temática. Brant brinca que "a gente começa a fazer filmes intimistas depois de certa idade", além de dizer que seu cinema é sempre muito ligado à obra do escritor e roteirista Marçal Aquino. Porém, o que chamou a atenção foi o fato de Renato Ciasca ter passado de produtor a diretor nesta obra. Segundo os dois cineastas, o principal motivo é pela maturidade e o fato de se conhecerem bem, um ao outro, depois de trabalharem juntos há 25 anos.

Para o próximo filme, tudo indica que haverá também a direção conjunta. A adaptação de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, livro de Aquino, deve ser filmada somente em 2009, mas já começa a tomar forma. Brant diz que o sexto longa terá um pouco de cada um de seus filmes, mas diferente de todos. A obra também deverá usar o romance como ponto de partida, assim como Ciasca afirma terem feito em Cão Sem Dono. "A gente se filiou à história de amor. Por mais que a gente tenha dialogado com o livro em várias circunstâncias, na hora de concebê-lo, fomos atrás dessa história da paixão dos dois. Isto era importante", diz.

Atualizado em 1 Dez 2011.