Guia da Semana

Foto: divulgação



Guia da Semana: Durante a coletiva você comentou que, quando o Fábio te chamou para fazer a Dona Lindu, você não entedia o porquê do filme ser feito, só compreendeu depois de ler o roteiro. Gostaria que você explicasse isso melhor.
Glória Pires:
Tive essa sensação porque o Lula é uma pessoa hiper, mega, blaster conhecida e achei que não teria mais nada a acrescentar, a não ser fazer um "docudrama", que é pegar as coisas dessa figura política e super importante e dramatizar. O que não imaginava era que, além dessa passado que todo mundo conhece, houvesse toda essa história forte, importante e desconhecida.

Guia da Semana: Então foi o corte do roteiro, narrando a vida de Lula até 1980, que atraiu para o projeto?
Glória:
Quando li o roteiro fiquei encantada com a forma como foi contada a história. Ele é redondo e não parece que as cenas são colocadas ali só pra terem um efeito. Considero a parte mais complicada de um filme, porque ali está o tempo das sequências, o peso dela dentro da história que está sendo contada, a forma como aquilo contribui para a narrativa. Quando encontro um bom roteiro, logo fico atraída.

Guia da Semana: Como foi a preparação para o personagem?
Glória:
Tive a oportunidade de trabalhar com uma fonoaudióloga quando fiz Memorial da Maria Moura e outra durante Lula, uma fono de São Paulo incrível, Sueli Master, que fez um trabalho muito bom me ajudando a achar uma outra forma de falar. Tinha essa preocupação, já que eu tenho uma voz educada, uma forma de falar projetada e tinha curiosidade de saber falar como essa mulher, criada no sertão e acostumada a falar em um outro registro.

Foto: Leonardo Filomeno


Guia da Semana: Na construção do personagem da Dona Lindu, o que teve de pesquisa, de referências maternas e de infância?
Glória:
Claro que a gente acaba agregando algumas coisas. A maquiadora falava que o cabelo da Dona Lindu era o "momento minha vozinha" e ela fazia lembrando de um cabelo que avó dela usava. Claro que tinha algumas coisas que lembravam a minha mãe, como aqueles vestidinhos de ficar em casa; minha mãe usava muito aquilo. E a gente se vendo com mais idade, acaba mesmo se achando parecida. Tem horas que estou com a cara da minha mãe, outras que estou com a cara da minha vó e às vezes até do meu pai. Tem uma sequência no hospital no filme que lembrou um fato pessoal com meu pai que ficou doente muitos anos e estava em casa todo esse período, alternando momentos bons com outros que precisavam ser internados. Foi bastante penoso e essa cena me remeteu a isso. Mas foi só, o que fiz de construção da Dona Lindu foi baseado nos depoimentos dos familiares e o que eles passaram sobre a maneira dela ser mesmo.

Guia da Semana: Você falou do encontro curto que teve com o Lula. Você lembra quais foram às palavras que ele falou depois de ver o filme?
Glória:
Ele falou pouco: "Olha, parabéns Glória! O filme ficou muito bom, muito bom mesmo!" Ele estava extremamente emocionado, com os olhos marejados e imagino, deve ser uma loucura isso, você ver a sua vida passar ali nas telas, deve ser incrível. Ele achava tudo muito bom e bem feito. Até fez um comentário, que se pudesse escolher, nasceria de novo para ter uma mãe carinhosinha que nem eu.

Guia da Semana: Junto com o Lula, você está nas grandes telas com É Proibido Fumar. Como surgiu o convite para este papel?
Glória:
A Baby é um personagem surpreendente! Eu tinha conhecido a Ana (Muylaert) em Recife, gostei do trabalho dela e ficamos em contato desde então. Depois de uns cinco ou seis anos, ela me mandou o roteiro desse projeto novo e eu adorei porque vi na Baby uma personagem rica e com espaço, porque a própria narrativa privilegia a dimensão das personagens.

Atualizado em 6 Set 2011.