Xavier Dolan já pode ser considerado um fenômeno cinematográfico. Ator mirim a partir dos cinco anos de idade, o garoto cresceu com papéis em filmes e séries canadenses até decidir, com apenas 17 anos, escrever sobre sua conturbada relação com a mãe. Aos 19, então, dirigiu, roteirizou, produziu e atuou no longa Eu Matei a Minha Mãe (J'ai tué ma mère, 2009), que estreia um ano depois e com pouquíssima distribuição no Brasil.
Mesmo tão jovem, Dolan consegue prender a atenção do espectador com seus 96 minutos de filme. E não só do espectador. Em 1999, conseguiu sair do renomado Festival de Cannes com três prêmios conquistados, oito minutos de aplausos ininterruptos após a exibição e seu primeiro longa como representante do Canadá no Oscar daquele ano.
Em Eu Matei a Minha Mãe, Dolan interpreta Hubert, um jovem homossexual de 17 anos, completamente revoltado com a mãe, Chantale (Anne Dorval). Neste cotidiano com ela, o convívio torna-se insuportável e sufocante. Seja a música, que é escolhida para tocar durante um passeio de carro, do café da manhã, em que a mãe come com a boca suja e o barulho que o incomoda ou as imposições mais sérias, como a recusa diante do pedido de Hubert em morar sozinho.
Extremamente temperamental, Hubert culpa a mãe por tudo que dá errado na sua vida, pelo jeito que ela é, pelo comportamento e até pelas roupas que veste. Do outro lado, incapacitada de lidar com as tempestivas explosões de fúria do rapaz, ela ouve os mais ferozes insultos dele. Assim, nesse ambiente, Hubert tem de seguir, mesmo com a ausência do pai (Pierre Chagnon), divorciado de Chantale, buscando apoio na casa do namorado, Antonin (François Arnaud), que tem com a mãe uma relação completamente diferente.
Além disso, conta com a ajuda da compreensiva professora Julie (Suzanne Clément), revelando parte deste redemoinho de emoções adolescentes prestes a explodir a cada minuto. Sem, necessariamente, culpados e inocentes, o rapaz e a mãe são retratos de pessoas infelizes que, incapazes de administrar esse vazio juntos, culpam um ao outro, com doses fortes de ironia, raiva e tentativas frustradas.
Reflexo totalmente propício e atual - ou seria eterno? - da difícil comunicação entre pais e filhos, Eu Matei a Minha Mãe tem um adolescente responsável por um filme que fala sobre os conflitos internos e externos de uma pessoa nesta mesma fase. Méritos são captados desta experiência, assim como falhas, mas o resultado final sai melhor do que se imagina.
Do pop das canções em francês à sua intimista trilha instrumental de piano e violino, o longa traça um período conturbado dessa semibiografia de Dolan com diálogos fortes, ótimo proveito no uso de cores, uso pertinente da câmera lenta, inscrições na tela para explicar certas situações e algumas doses de surrealismo nas divagações de Hubert. Em seu epílogo, é reforçada a ideia de nostalgia, ou seja, um tempo-espaço onde esta família foi feliz e cuja felicidade deve ser resgatada para seguir em frente.
Dolan estreou bem na direção com Eu Matei a Minha Mãe e já teve seu segundo filme, Amores Imaginários, com estreia na mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes deste ano, além de ter sido lançado no Festival de Cinema do Rio. O filme trata de um triângulo amoroso entre três jovens, sendo um deles interpretado por Dolan, que também dirigiu, roteirizou e produziu.
Na próxima empreitada, prevista para estrear em 2012, o canadense de 21 anos sai da frente das câmeras e traz o astro francês Louis Garrel (Os Sonhadores, Canções de Amor, Em Paris) como protagonista de Laurence Anyways, que tem estreia prevista para 2012. Pelo jeito, diferente de seu alterego Hubert, Dolan não precisa voltar ao passado para ser feliz, mas sim seguir em frente, rumo a um futuro promissor.
Veja o trailer de Eu Matei Minha mãe
Leia as colunas anteriores de Leonardo Freitas:
Quando o inesperado acontece
Sexy e Poderosa
Confiança Hipócrita
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Atualizado em 6 Set 2011.
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