Guia da Semana

Por Ravi Santana

Cena de Antônia, de Tata Amaral

Preta, Mayah, Lena e Bárbara são as quatro rappers que formam o grupo Antônia, no filme de mesmo nome. Apesar de suas interpretes serem, na verdade, cantoras e não atrizes, o conjunto é ficcional. Relatando o universo do hip hop pela visão feminina, tendo que lidar com o preconceito e o machismo, Antônia cria essas quatro personagens que têm um pouco da realidade, mas que nasceram nas telas. No cinema, não é novidade aparecer vez por outra músicos fictícios que podem fazer algum sucesso fora das salas, como é o caso das brasileiras.

Os sucessos lá de fora

Outro rapper fictício já havia aparecido nas telas em 2003. Trata-se de B-Rabbit (foto), no filme 8 Mile - Rua das Ilusões. Interpretado por Eminen, o personagem era uma espécie de alter ego do cantor. O roteiro, aliás, foi baseado em sua própria vida, mas sem levar em conta a parte mais polêmica. B-Rabbit aparece como o sujeito politicamente correto, o que não é o caso do músico real.

Filmes baseados em personagens reais não é privilégio de Eminen. Velvet Goldmine, conta a história de Brian Slade, com sua banda Vênus in Furs, e seu relacionamento com o músico Curt Wild, no momento em que eles despontam no Glam-Rock. Mas bem poderia ser a história de David Bowie, com a banda Velvet Underground, e seu relacionamento com Iggy Pop, de onde o filme tirou inspiração.

Acontece também em Quase Famosos. A relação entre o personagem William Miller e a banda Stillwater é, na verdade, a relação entre o próprio diretor do filme, Cameron Crowe, com a banda Led Zeppelin, quando ele tinha apenas 15 anos e trabalhava como jornalista para a revista Rolling Stones.

Já no filme irlandês The Commitments - Loucos pela Fama, o empresário Jimmy resolve montar uma banda de música negra, para isso vai recrutando músicos brancos irlandeses - segundo ele, os negros da Europa - e, aos poucos, vai conseguindo obter um relativo sucesso. Tanto foi a fama conquistada por eles, que até hoje, 15 anos depois, os fictícios músicos excursionam pelo mundo, fazendo shows como The Commitments.

Outro caso onde se confundiu realidade com ficção foi em The Wonders - O Sonho não Acabou (foto). Considerado por muitos como a biografia de uma banda real, o filme não passa de uma história criada por Tom Hanks, sobre uma banda do interior dos EUA, ao estilo dos Beatles, que faz sucesso repentinamente. A música do filme chamou tanto a atenção que poucos acreditam que a banda nunca tenha existido de verdade.

Com a banda Spinal Tap aconteceu o mesmo, mas por conta do filme Isto é Spinal Tap. A banda favorita de Bart Simpson nasceu deste falso documentário, que mostra as dificuldades de um famoso grupo de heavy metal em seu dia-a-dia. O filme chegou a ser mostrado ao Judas Priest, uma dos maiores conjuntos da época neste estilo, e eles não acreditaram quando lhes contaram que era uma armação e que o grupo não existia, dada a realidade com que foi mostrada a rotina dos músicos.

No musical Dreamgirls - Em Busca de um Sonho, não há este tipo de confusão. Para interpretar as personagens principais não foram chamadas atrizes, mas sim cantoras, assim como em Antônia. Para a personagem de Deena, líder do trio dos anos 60, foi chamada Beyoncé Knowles. Já para o papel de Effie White, a escolhida foi a estreante Jennifer Hudson, participante do programa American Idol, que encantou a todos recebendo diversos prêmios. As cantoras foram tão bem que três de suas canções concorrem ao Oscar 2007.

Palcos fictícios no cinema nacional

No Brasil, o caso de Antônia não é único. Recentemente, o filme 1972 também retratou uma banda de rock fictícia, a Vide Bula (foto), que não chegou a ter expressão fora das telas. Mais sucesso teve Espírito da Luz Soares, o sambista de Rio, Zona Norte, de 1957. O compositor, vivido pelo saudoso Grande Otelo, sonhava em sustentar sua família e livrá-la da pobreza com seus sucessos. O que ele não contava, porém, é que um famoso cantor de rádio - nessa que era a época de ouro do veículo - roubasse a autoria de suas melhores composições.

Não é raro notar que músicos ou mesmo grupos surjam das telas e tomem forma na vida real, seja aqui ou em qualquer lugar. Na maioria das vezes são elementos criados unicamente para dar verossimilhança à história, mas que pela realidade expressa acabam vindo para o lado de fora das telas, fazendo com que se crie essa ligação tão forte entre a música e o cinema.

Atualizado em 6 Set 2011.