Guia da Semana

Foto: Imdb

O livro reúne frases inesquecíveis do cinema nacional e internacional

A sétima arte surpreende em muitos casos. Filmes de diferentes gêneros, alguns milionários, outros com menores produções, porém, cada um com uma proposta e uma razão de existir. Quem nunca se identificou com a fala saída direto da boca de um grande nome de Hollywood, ao assistir um longa? Ou até mesmo ouviu algo que tenha considerado muito ruim? Pensando nisso que o escritor e blogueiro Renzo Mora acaba de relançar o livro Cinema Falado: As Melhores (e as piores) Frases do Cinema de Todos os Tempos, onde apresenta diálogos que marcaram época e ficaram registrados na história das "telonas" mundiais.

Depois de dez anos do lançamento, Renzo ouviu algumas críticas, dentre elas, a mais construtiva, segundo o autor, de incluir frases do cinema nacional, o que não havia feito no primeiro volume. Ainda como novidade, o livro é acompanhado de um encarte intitulado 25 Filmes que Podem Arruinar a Sua Vida! Esta seleção foi realizada na opinião única e exclusiva do escritor. Batemos um papo com o cinéfilo sobre o relançamento do livro, o cenário cinematográfico atual e de quebra, conhecemos o TOP Five dele. Confira!

Guia da Semana: O lançamento do livro "Cinema Falado" comemora 10 anos sendo relançado com modificações. Qual a principal mudança desde o lançamento até os dias de hoje?
Renzo Mora: Ele é interessante porque é uma coletânea de frases de cinema no geral e permite essa atualização de uma forma muito fácil. O novo livro traz outra década de filmes que eu assisti. A grande diferença é que eu pude incluir muitas frases do cinema nacional. Há dez anos atrás não existia essa gama de produção brasileira. Hoje temos uma série de lançamentos em DVD, canais de TV especializados... Isso facilitou para que eu incluísse no livro frases novas. Vai desde Glauber Rocha até o filme da Carla Perez, totalmente democrático.

Guia da Semana: Quando você teve a ideia de incluir o livro bônus "25 Filmes que Podem Arruinar sua Vida"?
Renzo: Surgiu porque eu comecei a escrever um livro sobre isso e percebi como gosto de filme ruim. Percebi que para o gosto do público poderia ficar uma coisa obscura, com falta de informações relevantes. Aí, resolvi incluir como uma espécie de adendo. Lá, eu conto um pouco da história desses filmes ruins, como nascem e desmistifico que isso não é sinônimo de pouco recurso. Quis mostrar um pouco desse cenário, que varia desde filmes feitos com US$ 26 mil até produções milionárias.

Guia da Semana: De onde surgiu a ideia de criar um livro com frases de filmes?
Renzo: Existem séries de livros de frases feitas de todos os tipos em outros países: quizz, frases históricas de mulheres... Eu adoraria que a ideia fosse minha, mas não foi. No Brasil ninguém havia feito nada do gênero e eu tive a felicidade de fazer. Na verdade a ideia é dar o meu crivo sobre as frases que eu escuto. Como eu não sou crítico, sou um fã de cinema, eu vou atrás do que eu gosto. Por acaso, se eu vejo uma frase que me chame atenção e sobrevive ao final dos créditos, eu anoto. Alguns eu comprei o DVD e fiquei analisando as frases também. Não existe o "cinemão" clássico. Fui buscar muitas coisas que a maioria das pessoas não conhece e que são filmes que para mim, tiveram algum significado. Tem "Blockbusters", coisas que eu gosto muito, de tudo um pouco.


Renzo Mora não se considera crítico, mas sim um fã de cinema

Guia da Semana: Quais os filmes mais abordados no livro?
Renzo: Eu incluí frases brilhantes e de filmes inesperados. Às vezes, você assiste a filmes medíocres e eles têm umas frases fantásticas. Outros longas, que são baseados em imagens muito boas, podem não ter nenhuma frase interessante. O grande segredo é que a frase deve sobreviver fora do contexto do filme, se não perde a graça para o leitor. Se for preciso toda uma construção para que ela tenha seja entendida, perde o sentido. Daí não cabe no livro.

Guia da Semana: Como seleciona os filmes que entram no livro?
Renzo: O critério é realmente a falta dele. Um livro que tem desde a Carla Perez até Glauber Rocha, passando também por Arnold Shuaszeneguer, Woody Allen... Não segue uma linha muito exata. Por isso o nome do livro já diz, as melhores e piores frases do cinema. Fiz questão de dar voz para os filmes ruins. O único responsável a quem é possível culpar por tudo isso sou eu (risos)!

Guia da Semana: Já recebeu alguma crítica negativa por ter citado alguma frase ou um filme que grande parte das pessoas não concordaram serem ruins?
Renzo: Tive sorte porque parece que os críticos do Brasil estavam esperando alguém lançar um livro como esse. A recepção foi extremamente positiva e isso há dez anos atrás. A principal crítica que eu recebi e achei muito pertinente foi à falta de frases do cinema nacional no primeiro livro e não era uma questão de gosto. Aprecio a produção brasileira. Era um problema de falta de acesso. Os filmes não eram encontrados com tanta facilidade como hoje em dia e era muito difícil puxar pela memória. Exemplos de filmes ótimos são os do Zé do Caixão. Ele tem umas sacadas ótimas e ainda é visto por aqui como uma coisa exótica. Coloquei dele até o Jabour no livro e fiquei feliz com o resultado.

Guia da Semana: Como você enxerga a evolução do cinema desde "O Cantor de Jazz" de 1927 até os "Blockbusters" de hoje?
Renzo: Eu acho que o cinema está piorando muito. Existe uma infantilização e uma tendência a substituir o enredo pelo efeito especial. Hoje em dia com o computador é possível criar qualquer coisa e isso pode enfraquecer o cenário. Além disso, os roteiristas de antigamente cresceram lendo livros, já os dessa geração, cresceram vendo TV e jogando videogame. Isso se reflete no cinema nas diversas adaptações de games e quadrinhos que lotam as salas. Logo já será possível fazer um filme de casa, mas acho que a grande sacada do cinema é a soma de talentos.


O livro traz um bônus com os 25 piores filmes, na opinião de Renzo

Guia da Semana: Acha que isso enfraquece o cinema mundial?
Renzo: Um tremendo roteirista com um bom ator gerava uma obra prima, e hoje em dia isso pode ficar restrito. O Homem-Aranha, por exemplo, não é um filme ruim, ele entretém, mas 50% do filme é efeito. Até comentei no meu blog sobre o Heath Leadger, que mostra em alguns longas ser um bom ator, mas não é uma atuação que será lembrada pela qualidade daqui 20 ou 30 anos e sim pela manifestação cultural em torno da morte precoce dele, do envolvimento com o personagem do Coringa. Não acho que essa foi a melhor atuação da vida dele, mas enfim...

Guia da Semana: O que um filme precisa ter para ser considerado ruim na sua opinião?
Renzo: É a mesma coisa que me perguntar o que uma mulher precisa ter para ser considerada bonita. É aquela que você olha até em câmera lenta (risos). Com o filme ruim acontece o mesmo. Você olha e pensa, não dá para piorar esse filme, e ele piora. Eu tenho uma simpatia por eles. O Ed Wood, que é considerado um dos piores diretores da história, a obra dele tem um impacto que você não esquece, como você pode esquecer outras mega produções assim que sai do cinema. Eles são ruins mesmo. É como um acidente de carro, você vê, e o impacto dura, mas não por ser bom. Mas eu assisto filmes ruins em casa e me divirto muito. O filme que me enche o saco é aquele médio. Eu gosto dos extremos, ou ele é muito bom e me marca, ou muito ruim e não esqueço dele também. O filme médio que não te deixa nenhuma impressão... Me irrita!

Guia da Semana: E o contrário, o que ele precisa para ser considerado bom?
Renzo: Às vezes, a soma de diversos pontos positivos não resulta em uma coisa boa. Em alguns casos, ao somar elementos aleatórios, você produz uma obra prima. No caso de O Poderoso Chefão, por exemplo, ninguém queria fazer um longa e depois de feito, se tornou uma obra prima. Existe um fato do acaso e isso que faz do cinema uma arte. E não necessariamente é preciso de tanta verba para isso. O cinema independente é muito o retrato disso. O Homem-Aranha precisa dar certo porque teve um investimento de milhões e isso não o permite correr riscos. Já no cinema independente não, você, com pouco dinheiro, pode experimentar e isso que é a graça. Se ele for um fracasso, você absorve isso dentro da indústria, já "Blockbusters" não. A época conta muito também. Um fenômeno como um 11 de setembro pode mudar a concepção de mundo. O que era relevante no dia 10 pode vir abaixo em outro dia. Os fatores de época mudam sua percepção do que é tolerável.

Guia da Semana: Você é considerado por alguns como um dos críticos mais ranzizas do cinema. Isso te incomoda?
Renzo: De jeito nenhum. Eu estou envelhecendo mal e assumo isso. Estou com 50 anos e a coisa mais triste é ver um homem da minha idade paquerando meninas no ponto de ônibus, porque está de carro. Eu tenho muito orgulho de não ser unanimidade e de ter minhas opiniões, que às vezes podem ser consideradas radicais. Me incomodaria se eu estivesse me tornando um cara amiguinho, que tudo agrada. Não quero essa velhice para mim.

Guia da Semana: Em média, quantos filmes você já viu na vida?
Renzo: Não faço ideia. Digamos que vejo uns dois por dia, em TV, canais fechados, DVD. A maioria deles desaparece da mente, você assiste de novo e pensa, acho que já vi esse filme. Não por ser ruim, ou coisa do tipo, mas por não te marcar. O que fica são os lampejos inesperados de brilho de filmes.

Os Melhores
Casa Blanca (1942)
Sindicato de Ladrões (1954)
Eu te Amo (1981)
Harry e Sally - Feitos um para o outro (1987)
Match Point (2005)
Os Piores
Glen or Glenda? (1953)
Plano 9 do Espaço Sideral (1958)
Lambada, a dança proibida (1990)
Showgirls (1995)
Contato de Risco (2003)

Serviço:
Título: Cinema falado as melhores (e as piores) frases do cinema de todos os tempos / Livro bônus: 25 filmes que podem arruinar a sua vida!
Autor: Renzo Mora
Editora: Casa & Palavras
Nº de páginas: 190
Preço: 25,00


Atualizado em 6 Set 2011.