Guia da Semana

Los Angeles




A televisão foi um dos principais elementos que transformaram Jeffrey Dean Morgan em um ator em ascensão. Agora ele se prepara para o maior de todos os testes: Watchmen, no qual interpreta o Comediante. Confira abaixo a entrevista exclusiva ao Guia da Semana, na qual ele fala sobre sua carreira, o novo filme, e claro, John Winchester.

Quando você sentiu que as coisas estavam mudando para você?
Jeffrey Dean
Morgan: Há uns quatro anos estava fazendo três seriados ao mesmo tempo: Grey´s Anatomy, Supernatural e Weeds. Acredito que foi por causa disso e, principalmente, por Grey´s Anatomy, que as pessoas começaram a me notar. Eu não sei a razão, mas depois daquele personagem, o público e Hollywood me viram e minha vida mudou! Eu deixei de ser o cara que precisava se sustentar com dinheiro de atuação, que era difícil, para ser o cara que está aqui, escolhendo os próximos projetos. Sinto-me muito sortudo e não sei exatamente porque isso aconteceu. Estou sempre esperando alguma coisa ruim acontecer e eu voltar para o mesmo lugar em que eu estava há quatro, cinco anos (risos). Por enquanto, estou só curtindo o momento.

Foi desanimador receber o roteiro e descobrir que o Comediante morria?
Jeffrey Dean Morgan:
Eu li e falei: "De Novo?! Poxa vida!" (gargalhadas). Tinha acabado de fazer um filme com Gerard Butler (P.S.: Eu Te Amo) e ele ficou torrando minha paciência para ler e assistir 300. Acho que assistimos ao filme umas 300 vezes no trailer dele (risos). Não dava para passar perto dele sem ouvir: "Você já viu isso?". Então eu sabia quem era Zack Snyder e um pouco de como ele trabalhava. Fiquei surpreso pelo modo pelo qual a Warner resolveu lidar comigo. Chegou um pacote em casa, pensei que fosse algum roteiro especial, mas era uma cópia xerocada da graphic novel! Dá pra acreditar? Xerox? Aí comecei a ler e, na página 3, notei que eu morria. Não tive dúvidas, liguei para o meu agente e perguntei "dá pra me conseguir papéis vivos, pô!?". Falando sério, naquela noite fiz uma jarra de café e li quatro vezes. Fiquei maravilhado.

Gostou mesmo... Afinal, ler quatro vezes em Xerox...
Jeffrey Dean Morgan:
(gargalhadas) Depois da primeira vez, corri para uma loja de quadrinhos e comprei uma versão decente. Bom, hoje em dia tenho duas Ultimate Watchmen, versões em capa dura, capa de couro e tudo mais. Virei um fã assumido. Já li mais de 40 vezes. Cada vez encontro algo novo, alguma nova nuança. Engraçado lembrar que a gente nunca usava roteiro no set. Deveria haver um roteiro em algum lugar, mas ninguém usava. Era aquela coisa, Zack falava: "Tá vendo aquele balãozinho? Aquela é a sua fala". E sempre que eu via algo faltando, ou tinha alguma idéia, sugeria para ele. Era hilário, pois ele nunca recusava e sempre dizia: "Claro, por que não? Vamos aumentar mais uma hora no filme" (gargalhadas). Ter uma referência como essa para se basear é inigualável.

A expectativa em relação ao Snyder, criada pelo Butler, foi atendida?
Jeffrey Dean Morgan:
(risos) Olha, Zack Snyder e Gerard Butler são praticamente a mesma pessoa (gargalhadas). Acho que aqueles dois foram separados na maternidade, pois usam o mesmo vocabulário, são absolutamente entusiasmados com tudo que fazem, explicam as coisas do mesmo jeito e gostam do mesmo tipo de coisa. A única diferença é que Zack é mais visual. Não sei quem mais poderia ter feito esse filme. Sempre sorrindo, altamente dedicado e com uma empolgação contagiante.

O que te atraiu no Comediante?
Jeffrey Dean
Morgan: Primeiro, é o fato de ser algo totalmente diferente de tudo que fiz antes. Levou um tempo para "descobrir" quem eu era profissionalmente. Os agentes demoram para notar isso, sabe. Então, descobriram que não sou Robert Downey Jr. e nem Javier Barden - embora alguém na outra mesa tenha achado que eu era!!! (gargalhadas). Foi bom deixar de ser um cara "romântico e bonzinho". Não há nada pior do que o Comediante em termos de personalidade. Ele é maluco ao extremo. Fiz para mostrar que posso ser diferente. Todo o processo de leitura e aprofundamento me deixou apaixonado pela coisa toda. Ele é o melhor personagem ali (risos).

O Comediante está assistindo TV pouco antes da luta inicial. O que passa pela cabeça dele naquele momento?
Jeffrey Dean Morgan:
Bom, ele sabe o que vai acontecer. Foi assim que interpretei pelo livro. Ele sabe do plano todo e sabe que não pode impedir, além do fato de não ter nenhum amigo ou aliado. Ele é um sujeito derrotado naquele momento da vida dele.

Mas mesmo assim ele tenta lutar...
Jeffrey Dean Morgan:
Ele não é idiota e não quer morrer. Mas ele não acerta nenhum soco. Juro que pedi para deixarem eu acertar pelo menos um soco, mas ninguém deixou. É aquela coisa, ele luta pelo prazer da luta, mas sabe que vai morrer. Ele entende a "grande piada" e paga por isso. O melhor disso foi a cena da queda. Embora os cabos estivessem lá, era uma queda livre de seis andares, antes que o sistema de segurança funcionasse. Foi alucinante. O engraçado foi ver o Zack chegando perto pela sétima tentativa. "Jeff, seguinte, preciso de uma tomada sem que você esteja rindo durante a queda, pode ser?" (gargalhadas).

Embora o Comediante não seja engraçado, alguns de seus personagens são, como em P.S. Eu Te Amo. Qual é a sua relação com a comédia?
Jeffrey Dean Morgan:
Adoro comédia. Toda hora você tem a oportunidade de fazer alguma coisa diferente. Como ator, é preciso variar sempre que possível. Quando olho roteiros agora, tento encontrar maneiras de me diversificar, fazer coisas diferentes. E as pessoas me conhecem como um cara bonzinho, como em P.S. Eu te Amo e Grey´s Anatomy (ele era o personagem mais mal comportado que eu já tinha lido na vida). Acho que meus fãs que estão acostumados a me ver como um cara bonzinho, vão ter um problema com o Comediante e Watchmen. Mas como ator, é isso que eu quero fazer.

Existe um pouco do Comediante no John Winchester...
Jeffrey Dean Morgan:
Com certeza! Eu adoro interpretar o John Winchester (personagem que interpreta no seriado Supernatural) por essa razão. Eu estava filmando literalmente na mesma época que Grey´s Anatomy. Filmava três dias em Grey´s Anatomy, voava para Vancouver e trabalhava três dias em Supernatural. Interpretava dois personagens completamente diferentes ao mesmo tempo. Era difícil sair de um personagem e ir para outro. Mesmo assim, John Winchester, da maneira como eu interpretava, amava os filhos dele. Tudo que ele fazia era por amor aos filhos. Eu li que o criador do seriado discorda disso, mas não foi dessa maneira que eu o interpretei. Já o Comediante não tem nada disso, ao meu ver. Ele tem alguns momentos mais humanos, como seu relacionamento com Sally Júpiter...

Mas por conta do novo final ele sofreu grandes mudanças. Afinal, se não tem mais a Lula Gigante, o "colapso nervoso" do Comediante poderia não acontecer?
Jeffrey Dean Morgan:
Isso está lá. Eu precisava desse momento, assim como eu precisava do momento com a minha filha (Espectral). São dois momentos bem humanos. Você lê a graphic novel e não odeia o Comediante. Por que será? Porque ele comete atrocidades, então a gente não deveria gostar nem um pouquinho dele, mas eu gostava dele. Então, eu precisava desses momentos para compor o personagem assim como o filme sofreria com a ausência deles. Com exceção da grande lula no filme - seria uma loucura -, o resto está lá. Não está faltando nada.

Tem um bocado de Richard Nixon por lá, certo? Qual é a importância de se voltar a falar dele no cinema. Frost/Nixon também tem dado o que falar...
Jeffrey Dean Morgan:
Bom, há todo o lance de termos um presidente que foi eleito pela quarta vez, o sujeito que mandou matar Kennedy, que não passa pelo Caso Watergate e etc... É uma realidade alternativa. Acho que é importante por traçar paralelos para mostrar o quão relevante Watchmen é para os dias de hoje. Todo o cenário envolvendo Barack Obama e tudo que o país precisa, pode ser, de certo modo, visto como o "relógio do Apocalipse" de Watchmen. O mundo precisa de mudanças e, ainda bem, Nixon não é o presidente atual (risos).

Leia as matérias anteriores do nosso correspondente:

Derek Mears: o novo Jason

Os sonhos de Neil Gaiman

Teri Hatcher: Mãe sob medida


Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.


Atualizado em 6 Set 2011.