Guia da Semana

De Los Angeles


Há certa ironia poética no início de Missão Babilônia (Babylon AD). Toorop é um veterano auto-exilado nos confins de um mundo sem regras, caos social e onde o dinheiro manda. Ele deseja voltar para a América, que ainda comporta uma sociedade organizada e, como de costume, é o último bastião de esperança. Toorop é Vin Diesel, sem um grande sucesso há certo tempo e, novamente, apostando na mistura ação e ficção científica para voltar ao estrelato. A tarefa, porém, é mais árdua do que parece.

Não há dúvidas de que o mercenário interplanetário Riddick ( Eclipse Total e A Batalha de Riddick) e o arrojado piloto Toretto ( Velozes e Furiosos) definem o estilo de Vin Diesel e, claro, são seus dois maiores sucessos. Especialmente pelo vínculo com a ficção científica estabelecida em Eclipse Total, ele sempre demonstrou familiaridade com personagens soturnos e condizentes com realidades para lá de desagradáveis no futuro da Humanidade. A escolha é sensata dentro do que Diesel pode entregar em termos de atuação, mas é justamente essa especialização excessiva que pode complicar o desempenho do filme, que já foi mal nos Estados Unidos.

Além das esperadas escapadas, seqüências de pancadaria e muitas explosões, o roteiro chegou atrasado ao mercado e é impossível não compará-lo a Filhos da Esperança, de Alfonso Cuarón. A assinatura visual mais suja e com pouco espaço para efeitos especiais segue a escola européia do gênero: muita gente com roupas encardidas, senhores do crime fortemente protegidos e os constantes problemas nas "fronteiras". Tudo muito bem definido, mas quem tenta se encaixar nessa produção francesa é Vin Diesel, que nasceu no calor da batalha de Hollywood e quase sempre se deu bem com a tela verde.

Assim como esse futuro sem fronteiras - ninguém diz a razão do caos -, o elenco de Missão Babilônia é internacional. Diesel pode ser o maior astro comercial da produção, mas precisa dividir espaço com os franceses Gerard Deparideu, Lambert Wilson e a bela Mélanie Thierry, além da malaia Michelle Yeoh. É quase uma Torre de Babel artística refletida por diversos estilos.

A ação de Missão Babilônia cumpre seu papel, mas nem mesmo uma boa cena sobrevive a um roteiro incerto. Baseado no romance homônimo do francês Maurice Dantec, o filme se preocupa demais em permitir as acrobacias de Diesel e tentar construir laços entre os personagens principais que se esquece do principal: a real motivação para tudo que acontece ali. Toorop precisa levar uma garota (Mélanie) para os Estados Unidos, ela carrega um segredo: seu "pai" tenta resgatá-la, enquanto a "mãe" é uma religiosa, buscando o domínio global. Diferente do dilema existencial de Clive Owen em Filhos da Esperança, Diesel é incerto. Alterna momentos de motivação egoísta com um altruísmo contra o qual ele luta desesperadamente desde a primeira cena. A interpretação grita para a platéia "sou um cara mal e calculista, acreditem em mim", mas é impossível aceitar, uma vez que ele será o bom moço e está ali para salvar seu mundo.

Mesmo assim, algumas boas surpresas pontuam a obra, especialmente quando o roteiro permitiu que elementos do cyberpunk - bastante presentes no livro original - participassem da trama aumentando o interesse pela perseguição que serve como fio condutor da história. Mais uma vez, Diesel salva o mundo, mas o que ele precisa mesmo é de uma virada de mesa na carreira. Já fez um novo Velozes e Furiosos, ao lado de Paul Walker, e volta à ação como o guerreiro Anibal, ambos em 2009. O caminho é longo e um de seus heróis viria bem a calhar no mundo real.




Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

Atualizado em 10 Abr 2012.