Guia da Semana

Woody Allen e a morte em A Última Noite de Boris Gruschenko, de 1975.

Alguns críticos o descrevem como um gênio que sabe fazer filmes comerciais. Ele, modesto, revela que queria ter apenas uma dessas duas qualidades, porém, nem é popular e nem genial. O tímido judeu Allen Stewart Konigsberg, mais conhecido como Woody Allen, causa polêmicas nas opiniões sobre seus filmes, mais ainda sobre sua vida pessoal. Considerado a contragosto um dos maiores cineastas americanos e o que melhor representa a cidade de Nova Iorque, o diretor tem um currículo invejável de quase 40 filmes em pouco mais de 40 anos.

Unindo uma grande inteligência com uma auto-estima baixa, Allen se dedicou à comédia desde cedo. Aos 15 anos, já era redator de um programa de rádio e colunista de um jornal. Com vergonha de ser reconhecido pelos amigos, decidiu criar, em 1952, o pseudônimo pelo qual é conhecido até hoje. Filho de um judeu descendente de russos e de uma judia de família austríaca, Woody Allen teve uma criação bastante tradicional, o que faz com que ele tenha muito mais sucesso nos países europeus do que em seu próprio.

Aos 30 anos, depois de escrever textos para diversos humoristas e de estrear seu próprio show de stand up, ele chegou aos cinemas como roteirista e ator em Que é Que Há, Gatinha?, onde conheceu Louise Lasser, sua segunda esposa, com quem viveu até 1970. Em 1966, estreou seu primeiro filme como diretor, o raro What´s Up, Tiger Lily?, em que ele apenas pegou uma produção B japonesa e dublou com uma história completamente diferente. Foi o suficiente para marcar sua estréia na carreira que lhe tornaria mundialmente reconhecido.

Woody Allen e a Diane Keaton em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de 1977.

Quem tem o costume de assistir aos filmes do diretor já deve ter percebido. Na maior parte deles, o protagonista, ou algum personagem importante, é um homem inteligente, mas bastante inseguro e neurótico, geralmente artista, nova-iorquino e judeu, e com uma infinidade de complexos, principalmente com as mulheres. Não é difícil perceber que Woody Allen não apenas é o intérprete destes personagens, como eles são bastante auto-biográficos. Assim como muitos deles, o diretor também se vê como uma vítima das mulheres e usa isto para se colocar acima delas.

O cineasta sempre teve suas atrizes-fetiche. A do momento é a bela Scarlett Johansson, mas as principais foram Diane Keaton e Mia Farrow. Ambas suas ex-namoradas. Diane foi lançada por Allen na peça Play It Again, Sam, de 1970, e estrelou o primeiro grande sucesso do diretor no cinema, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, escrito para ela em 1977. O nome original do filme, Annie Hall, reúne o apelido da atriz, Annie, com seu sobrenome original, Hall. Dois anos depois o casal se separou, mas não foi traumático como o caso seguinte.

A relação com Mia Farrow foi bastante conturbada e até hoje ainda causa polêmicas e desavenças contra Woody. Apesar de juntos terem feito filmes como Hannah e suas Irmãs e A Rosa Púrpura do Cairo, muitos consideram que ela não tinha o mesmo potencial de Keaton. Mas a relação ficou mesmo tumultuada quando Allen trocou Farrow pela filha adotiva da namorada, Soon-Yi, atual esposa do diretor. A polêmica foi tanta na época que Frank Sinatra, ex-namorado de Farrow, se ofereceu pessoalmente para quebrar as pernas de Allen, mas ela não aceitou a oferta.

Atrizes beijam Woody Allen nos bastidores de Dirigindo no Escuro.

Fora suas conturbadas relações, dentro e fora da tela, Woody Allen tenta manter uma vida calma. Ele é um dos poucos diretores americanos que preferem a vida em Nova Iorque, o que o faz dizer que não tem amigos diretores. Além disso, mantém uma banda de jazz, com quem tocava semanalmente em um bar da cidade. Até 2002, apesar de ter concorrido diversas vezes ao Oscar, ganhando em algumas delas, ele nunca havia comparecido à cerimônia. O motivo era sempre o mesmo, não podia faltar em seus shows semanais. Apenas após o 11 de setembro apareceu para uma homenagem à sua cidade.

Apesar disso, o diretor ficou um longo tempo longe dela. Hoje está filmando em Nova Iorque, mas os quatro últimos filmes aconteceram na Europa. Ponto Final - Match Point, Scoop - O Grande Furo e O Sonho de Cassandra, que estréia este mês, foram feitos em Londres, enquanto Vicky Cristina Barcelona, na Espanha. Ainda assim, grande parte de suas obras revela o sentimento do diretor pela cidade onde nasceu em 1935, como Manhattan e Todos Dizem Eu Te Amo.

A grande preocupação de Allen, assim como de grande parte de seus personagens, é com a morte. Por isso, sempre está envolvido em crises existenciais, muitas vezes se mostrando hipocondríaco. Talvez por isso, seu maior ídolo no cinema seja o sueco Ingmar Bergman, seguido pelo japonês Akira Kurosawa e pelo espanhol Luis Buñuel, todos eles com filmografias bastante ligadas com estas questões existenciais, apesar de sem o humor do nova-iorquino. Mesmo com o seu grande sucesso, conseguindo fazer praticamente um filme por ano, Allen, de 73 anos, ainda sonha em criar uma obra-prima como a de um destes três cineastas.

Atualizado em 6 Set 2011.