Guia da Semana

De Los Angeles


O diretor francês Alexandre Aja embarcou no gênero do terror ao assinar o roteiro e a direção de Viagem Maldita, remake de Quadrilha de Sádicos e, pouco depois, aceitou o desafio de recriar uma história originalmente sul-coreana, mas sem os tropeços de outros cineastas hollywoodianos. O resultado é Espelhos do Medo, com Kiefer Sutherland e um monte de espelhos mal intencionados. Durante a divulgação do filme, Aja conversou com jornalistas sobre seu novo filme. Acompanhe e pense duas vezes antes de olhar para o espelho mais próximo de você!

Fábio Barreto: Qual o motivo de tanto envolvimento com o terror?
Alexandre Aja:
Há dois tipos de filmes de horror: sobrenatural e o realista, no qual o personagem precisa sobreviver ao fantasma/maluco ou qualquer outra força maligna que o ameace. Sempre tive isso em mente ao tratar esse assunto e foi um dos conceitos que utilizei para avaliar o primeiro roteiro que a New Regency nos enviou. Era simplesmente desinteressante e, à época, não conhecia Into the Mirrros, o original. Mas havia algo ali. O roteiro falava sobre uma coisa simples: espelhos. Li uma pesquisa sobre a quantidade de vezes que uma pessoa vê o seu reflexo num dia e fiquei curioso. A reação foi essa, o roteiro era muito ruim e aí nos mostraram o original. Também não havia nada de original além da cena de abertura.

O que havia de interessante nessa cena?
Alexandre Aja:
A garota está saindo do escritório, é tarde da noite e ela vai ao banheiro. Quando ela se abaixa para molhar o rosto, seu reflexo fica parado. Essa idéia de que seu reflexo está fora de sincronia e tem poder sobre o corpo é muito interessante. É uma coisa meio Freddy Krueger, já que o sonho afeta a realidade. Usamos esse conceito para basear o filme e, honestamente, queríamos ficar o mais longe possível do estilo de terror oriental.

Mas é inevitável que o público tenha pré-conceito por ser "mais um remake", certo? Isso te preocupa?
Alexandre Aja:
Muito. Importante dizer que embora seja um cineasta, sou parte desse grupo, tenho prazer assistindo filmes e gosto de ser bem tratado. Gasto muito tempo lendo fóruns na internet, resenhas e é por isso que faço questão de conversar sobre o que faço. Viagem Maldita é um remake, Espelhos do Medo não é um remake.

Mas muita gente não está com essa percepção.
Alexandre Aja:
Esse é um risco que gente como eu corre. Há momentos em que é preciso abrir mão de um projeto de grande estúdio por não estar empolgado com a idéia e estar apto a embarcar em filmes como esse e gastar um ano trabalhando no roteiro. Tem o lado curioso nisso tudo. Primeiro foi um vídeo amaldiçoado, depois a câmera, o celular, o olho e mais uma porrada de coisas.. aí pinta o espelho! O que vem depois? A pasta de dente!? O hot dog?! Espelhos fazem mais sentido do que qualquer uma dessas coisas, pois é algo tão normal que ninguém tem medo.

Kiefer mencionou que a equipe técnica da Romênia ficou impressionada quando viu a primeira tomada do filme. Foi uma surpresa?
Alexandre Aja:
Muita e naquele momento ganhamos o apoio total do pessoal. Eles sofreram muito na mão de cineastas inescrupulosos e viram muita porcaria ser feita lá, mas criamos uma relação de respeito mútuo quando notaram que era um filme sério e diferente. Estamos lidando com algo universal, então eles foram capazes de se imaginar no lugar do personagem e todo mundo se esforçou muito para realizar o projeto.

O último remake oriental de Hollywood deu com os burros n´água e assustou o público para novas tentativas. Mesmo não sendo um remake, como Espelhos do Medo pode superar isso?
Alexandre Aja:
Apostando na realidade, bons personagens e ritmo tudo é possível. Por isso optamos por não fazer um remake. Acaba sendo injusto com o público e desestimulante para a equipe num cenário como esse. Ou você tem certeza absoluta do que está fazendo ou não vai ficar bom. Entretanto, o gênero sofre com isso, pois precisa se reinventar sempre. Cansei de ouvir que hoje em dia é impossível fazer algo como O Bebê de Rosemary, O Exorcista ou O Iluminado. Por que não? Tudo é questão de como se conta a história. Fazendo direito e com objetivo, tudo é possível em termos de novidade.

Há planos para uma versão do diretor?
Alexandre Aja:
Não, acredito que o filme seja bem resolvido. Agora no DVD, temos 35 horas de material extra. Acho que vai ser possível fazer alguns extras interessantes a partir disso.

Leia as matérias anteriores do nosso correspondente:

  • Anna Faris: Protagonista de A Casa das Coelhinhas é mais que um rostinho bonito.

  • Mary Costa: A dubladora original da princesa Aurora fala sobre o relançamento de A Bela Adormecida

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    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

  • Atualizado em 6 Set 2011.